Descrição de chapéu

Lula critica e resiste, mas Globo transmite 'sonho de consumo'

Ex-presidente chegou a aparentar vantagem na disputa pelas percepções sobre sua prisão, mas teve de encarar as câmeras do helicóptero da emissora

São Paulo

Em seu discurso de despedida ao meio-dia, sem transmissão ao vivo pela Globo, Lula criticou a Globo, a Record, a Bandeirantes, a revista "Veja" —mas sobretudo a Globo, que teria "exigido" e conseguido da Justiça a sua condenação.

"O que eles não se dão conta é que, quanto mais me atacam, mais cresce a minha relação com o povo brasileiro", declarou, citando as "horas de Jornal Nacional" que o "trituraram", além das "mais de milhares de páginas de jornais".

O canal de notícias GloboNews teve que apelar às imagens da TVT, emissora do próprio sindicato dos metalúrgicos, para transmitir o discurso, imagens que destacavam cartazes contra a Globo. Na dicotomia das palavras de Lula, de um lado estavam a Globo, os procuradores e o juiz; do outro, o povo brasileiro, não só pré-candidatos petistas como Fernando Haddad, mas Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela Dávila (PCdoB).

Com a TVT, que manteve o domínio da transmissão em vídeo tanto ao longo do sábado como na sexta, e também com a foto de Lula logo após falar, cercado por braços e tirada por Francisco Proner, do Farpa Foto Coletivo, o ex-presidente chegou a aparentar vantagem na disputa pelas percepções sobre sua prisão.

Mas chegaria inevitavelmente o instante em que teria que sair do sindicato, deixar para trás a cobertura alternativa e encarar as câmeras do helicóptero da Globo. Elas entraram ao vivo perto das 18h45, por poucos minutos, o bastante para estimular gritos e panelaço no bairro do Morumbi, de onde escrevo, com a prisão de Lula.

Em seu discurso de despedida, ao meio-dia, o ex-presidente chegou a antecipar: "O sonho de consumo deles é a fotografia do Lula preso. Eu fico imaginando a tesão da Globo colocando a fotografia minha preso. Eles vão ter orgasmos múltiplos. Eles decretaram a minha prisão".

Talvez em resposta à ironia acusatória de Lula, a apresentadora Giuliana Morrone evitou tripudiar, durante a entrada ao vivo na Globo. E a imagem de o ex-presidente saindo do sindicato para o carro da polícia, ao menos naquele primeiro plantão, foi desfocada, quase apagada.

Mas a vantagem já estava então e talvez definitivamente, na guerra de imagens, com "eles". A Globo deixou a cobertura imediata para Record e Band, que acompanharam exaltadas a comitiva de carros de polícia, como fazem cotidianamente, dos helicópteros e "mochilinks" de seus programas sensacionalistas "Cidade Alerta" e "Brasil Urgente".

Nelson de Sá

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