Com bandeiras do Brasil, manifestantes levam flores e limpam prédio de Cármen em BH

Edifício foi manchado com tinta vermelha em ato organizado pelo MST e pelo Levante Popular da Juventude

Carolina Linhares
Belo Horizonte

Um movimento de apoio à Cármen Lúcia, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), reuniu dezenas de pessoas na manhã deste sábado (7) para limpar a frente do prédio onde a ministra tem um apartamento em Belo Horizonte. Flores e faixas também foram deixadas no local. 

Na tarde desta sexta (6), membros do MST e do Levante Popular da Juventude lançaram balões de tinta vermelha na fachada do edifício e picharam a calçada. A ministra votou contra o habeas corpus do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na última quarta-feira (4). 

Segundo os movimentos, centenas de pessoas participaram do "escracho". Um prédio do Ministério Público, na mesma rua, também foi pichado. A polícia deteve dois suspeitos e revistou três ônibus usados pelos militantes. 

Organizada pelo MBL (Movimento Brasil Livre) e pelo Partido Novo, a limpeza mobilizou senhoras com seus cachorros, crianças e moradores. Também teve o apoio de motoristas que passavam em frente ao prédio no bairro Santo Agostinho, região nobre da capital mineira. Muitos manifestantes usavam roupa verde e amarela, tradicional de movimentos de direita; outros tinham vestimenta laranja, cor do Partido Novo. 

A administradora de empresas Clarissa Vaz, 50, ficou sabendo do movimento e levou flores amarelas que, segundo ela, representam fortuna. "É pela coragem dela junto ao Supremo. As flores são gentileza, beleza, renovação, que é o que o país precisa."

Cátia Veloso, 58, acompanhada da sua yorkshire Cuca, também deixou flores. "A gente tem que retribuir vandalismo com paz, alegria e cor. Isso representa o que nós queremos: paz. E a Cármen Lúcia é símbolo de mulher, de caráter e de firmeza", disse a médica.

Veloso afirmou ainda que costuma frequentar as manifestações organizadas por movimentos de direita na Praça da Liberdade, sempre acompanhada da "fiel escudeira", que é uma cachorra "democrática e politizada". 

O movimento começou por volta das 9h e, no início da tarde, ainda se multiplicavam as flores, balões, bandeiras do Brasil e faixas em frente ao prédio. Havia dizeres contra o PT, a favor do juiz Sergio Moro e de solidariedade à Cármen Lúcia. 

FAXINA

Com vassouras e jatos d'água, os manifestantes conseguiram limpar as pichações na calçada da ministra e no prédio do MP. Mais tarde, porém, deixaram o trabalho para uma empresa de limpeza profissional contratada pelo subsíndico do condomínio. Não está claro se os custos serão pagos pela ministra ou divididos entre os moradores.

Os funcionários usavam equipamentos de hidrojateamento para limpar a tinta vermelha, classificada como de difícil remoção. O trabalho pesado na fachada, no entanto, só deve começar na segunda-feira (9), já que não é possível executá-lo com a aglomeração de pessoas em volta do prédio. 

Raquel Riedel, gerente da empresa de limpeza, informou que será necessário fazer uma espécie de rapel no prédio e que o trabalho pode durar dias. A tinta alcançou os três primeiros dos nove andares do edifício. O apartamento de Cármen Lúcia fica na cobertura. 

Um basculante chegou a ser quebrado e a tinta sujou um dos apartamentos que estava com as janelas abertas, segundo o subsíndico Luiz Assis. Ele relatou que moradores temeram uma invasão dos militantes e que chamou a polícia. 

"Eu ouvi barulho de ônibus e comecei a ouvir eles falando 'é aqui, é aqui'", conta. "Foi um ataque de vândalos relâmpago, inclusive com batucada, teve até carnaval." 

Assis afirmou ainda que a ministra mostrou preocupação com a segurança dos moradores. "Não cabe isso em qualquer ideologia. Existem outras sete famílias que moram aqui", completou.

Sobre o movimento neste sábado, Assis afirmou ser válido: "Quer demonstrar a paz e a educação. A flor é símbolo de amor e gratidão". 

"Estamos metaforicamente limpando a sujeira vermelha. É possível se manifestar democraticamente sem vandalizar a casa dos cidadãos", disse Ivan Günther, um dos coordenadores do MBL. 

Rodrigo Paiva, pré-candidato do Novo ao Senado, afirmou que a Justiça tem que ser obedecida. "Chega de corrupção. O PT suja e o Novo limpa."

A assessoria de imprensa do STF informou que a ministra não estava no apartamento durante o "escracho". Ela frequenta o local quando está em BH para dar aulas na PUC-Minas. 

A faculdade de direito, onde a ministra leciona uma disciplina aos sábados para alunos do quinto ano, informou que Cármen Lúcia não compareceu neste sábado. Outra professora a substituiu.

Um aluno do segundo ano de direito da universidade, Pedro Afonso, 19, passou pelo prédio da ministra e afirmou que "o atentado foi o maior exemplo de desobediência civil contra uma pessoa de total prontidão em defesa da democracia". Antes, ele esteve na PUC e disse que o clima era normal, sem comentários sobre o ocorrido. 

SUSPEITOS

A Polícia Militar informou que, ao chegar ao prédio da ministra na tarde de sexta, o ato já havia sido encerrado. O subsíndico do condomínio diz, porém, que havia policiais presentes durante a ação. 

Os policiais usaram imagens do prédio do Ministério Público para identificar suspeitos e as placas dos ônibus. Os veículos foram encontrados estacionados na praça da Estação, onde se encerrou uma manifestação a favor de Lula na noite de sexta. Os ônibus foram revistados, e a polícia apreendeu facas, facões e bastões de madeira. 

Também na noite de sexta, em uma estação de metrô, a polícia prendeu Alef Teixeira, 21, e Maxuel Martins Silva, 24, suspeitos de participarem da pichação no Ministério Público. Foram pichadas frases contra o juiz Sergio Moro e o presidente Michel Temer (MDB). 

Os suspeitos assinaram um termo pela infração de pichação e foram liberados, com o compromisso de comparecerem a uma audiência na Justiça. 

O movimento de esquerda Frente Brasil Popular divulgou que dois jovens do MST foram levados de forma violenta pelos policiais. A PM afirma que houve desobediência e resistência. 

 

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