MDB de Temer é a sigla que mais encolheu na Câmara desde 2015

Partido perde status de maior bancada com saída de 14 deputados

Ranier Bragon
Brasília

Se no Executivo o MDB sofre rejeição popular recorde com a gestão de Michel Temer, a situação no Legislativo também não é das melhores: o partido foi o que mais perdeu cadeiras na Câmara dos Deputados na atual legislatura, iniciada em 2015. Nem mesmo a disposição de Temer de concorrer à reeleição, que poderia dar tração ao partido, deteve a evasão de deputados.

Com o encerramento neste mês da janela que permitiu a livre migração de deputados entre as legendas, o MDB se viu reduzido de 65 vagas para 51 na Câmara.

O presidente Michel Temer e o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP) - Alan Marques - 15.jun.2016/ Folhapress

Com isso, perdeu o status de maior bancada para o PT —que tem 60 das 513 cadeiras— e agora divide com o PP (Partido Progressista) de Paulo Maluf, que também tem 51 deputados, a segunda colocação.
A explicação para o encolhimento passa pela baixíssima popularidade do governo Temer, mas tem como principal ingrediente o instinto de sobrevivência dos congressistas, que buscam nos estados melhores condições financeiras e políticas para se reeleger.

O Rio é um caso emblemático. A ruína da gestão do partido no Estado e os escândalos de corrupção levaram 7 dos 10 emedebistas de lá a buscarem uma nova casa.

Só restaram o ex-ministro do Esporte Leonardo —Picciani filho de Jorge Picciani, que está em prisão domiciliar—, Marco Antônio Cabral —filho do ex-governador Sérgio Cabral, preso desde o final de 2016— e Celso Jacob, que cumpre pena no presídio da Papuda, em Brasília.

O líder da bancada do partido na Câmara, Baleia Rossi (SP), diz que todas as defecções tiveram motivações locais, sem relação com Temer. 

"Conheço cada uma das razões e digo que todas tiveram motivação regional, sem exceções", afirma.

Também murcharam de 2015 para cá o PT --que mesmo perdendo oito vagas ainda conseguiu manter a liderança--, o PSDB (-6), o PSB (-8), e o PTB (-10), entre outras siglas. A Rede, da presidenciável Marina Silva, também tem uma situação precária. De 4 parlamentares passou para 2, a vice-lanterna da Câmara (só ganha do PPL). 

"Sei que a gente tem que bater córner e correr pra cabecear, mas eu e o João Derly [RS] vamos nos revezando e estamos com nossa posição presente em todas as sessões", afirma Miro Teixeira (Rede-RJ), que equivale agora a 50% da bancada do partido.

O principal êxito coube ao DEM, que dobrou a bancada eleita e hoje, com 43 cadeiras, é a quinta maior da Casa. 

A sigla, que já foi uma das mais poderosas do país sob o nome PFL, cresce agora na esteira das vitórias de Rodrigo Maia (RJ) nas eleições para presidente da Câmara e na esperança de que ele consiga se viabilizar como candidato de centro do Planalto.

Apesar de ter sido atingido em cheio pelo escândalo da Lava Jato, o PP não tem candidato ao Planalto, o que lhe permite reservar mais recurso públicos para as campanhas dos deputados --atrativo que se mostrou capital no atual troca-troca.

Outras siglas que cresceram consideravelmente foram o PSL de Jair Bolsonaro (de 1 para 8 deputados), o Podemos de Álvaro Dias (de 4 para 17), ambos presidenciáveis, e o PR do ex-deputado Valdemar Costa Neto (de 34 para 41).

Devido a uma lei aprovada em 2015 pelo Congresso, a cada ano eleitoral uma janela de 30 dias é aberta para que os parlamentares mudem de legenda sem risco de perda do mandato. A atual se encerrou no último dia 6. 

Como as siglas não são obrigadas a divulgar essas migrações, o número exato de trocas só será sabido quando a Justiça Eleitoral divulgar a relação atualizada dos filiados aos partidos.

Segundo dados da Câmara e dos partidos, pelo menos 95 deputados mudaram de casa no último mês —19% do total da Casa.

As questões ideológicas ou programáticas são motivos marginais para as movimentações. O objetivo principal é conseguir melhores condições para a reeleição —dinheiro público para campanhas e controle dos diretórios regionais das legendas.

Conforme relato de 56 deputados de 19 legendas ouvidos pela Folha em fevereiro, partidos ofereciam de R$ 1 milhão a R$ 2,5 milhões de dinheiro público de campanha para tentar atrair novos quadros. A verba partidária e eleitoral e o tempo na TV são distribuídos de acordo com o desempenho das siglas na disputa das vagas à Câmara.

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