Na madrugada no sindicato, militantes esperam Lula em vão

Após promessa frustrada de ouvir o ex-presidente, parte dos apoiadores foi embora

Apoiadores de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC  esperam o ex-presidente Lula (PT) após ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro
Apoiadores de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC esperam o ex-presidente Lula (PT), após ordem de prisão expedida pelo juiz Sergio Moro - Avener Prado/Folhapress
Isabel Fleck
São Bernardo do Campo (SP)

Pouco depois das 2h, dezenas de militantes que ainda faziam vigília dentro do prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo, puxaram as cadeiras de plástico pretas que estavam espalhadas para perto do palco localizado no terceiro andar.

Na sequência puxaram também o coro de “Olê olá, Lula”, à espera do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estava no segundo andar e não apareceu.

Após mais de 40 minutos de espera, o bochicho começou: “Acho que ele não vem mais”, disse uma militante. “Acho que ele deu um golpe na gente”, completou outra, arrancando risadas no avançado da hora pela escolha do termo usado pelo próprio Lula para referir-se ao processo judicial contra ele.

Desde que chegara ao sindicato, pouco antes das 20h de quinta (5), até aquele momento —mais de seis horas depois—, o ex-presidente só teve contato com uma parte restrita dos militantes nos dez minutos em que saiu da sala da presidência para abraçar os apoiadores por cima de um cercadinho.

No restante do tempo, o ex-presidente ficou entrincheirado na sala, onde só entravam políticos, integrantes do instituto Lula e membros de sua equipe —ou quem tivesse a sorte de estar acompanhado de algum deles.

Entre uma visita e outra, o ex-presidente, que tinha a aparência bastante abatida na noite de quinta, discutia com advogados as alternativas restantes após o juiz Sergio Moro decretar sua prisão. 

A decisão judicial diz que Lula precisa se entregar, em Curitiba, até as 17h desta sexta (6). Questionado pela Folha enquanto abraçava seus apoiadores, o ex-presidente não respondeu se iria para Curitiba.

Também não havia definição sobre onde o petista passaria a noite. Já tinha era mais de 1h da manhã quando o deputado Paulo Pimenta (PT) confessou à reportagem que estavam tentando convencer o ex-presidente a permanecer no sindicato durante a noite.

Um sindicalista afirmou que Lula teria um lugar mais reservado, com uma cama e um banheiro. E teria sido para lá que o petista seguiu depois das 2h, quando as dezenas de apoiadores foram orientados a se organizar para ouvi-lo no terceiro andar.

Diante da decepção, parte do grupo decidiu ir embora, e uma outra optou por arranjar um canto para dormir por ali mesmo: em cadeiras ou no chão. Uma parcela manteve o clima de confraternização, que, no seu auge, se expressou em uma roda de samba no terraço.

Ao lado, na lanchonete no quarto andar, que passou a madrugada aberta, o cardápio disponível tinha linguiça calabresa com pão. Era possível comprar ainda cerveja, caipirinha ou mais de cinco tipos de cachaça.

A aparente animação tentava ignorar o destino traçado para Lula nesta sexta. Os gritos de guerra mantinham o foco sobre “Lula presidente”. O nome de Moro se limitava às conversas em pares.

A poucas horas do prazo final dado pelo juiz, perguntas sobre a prisão decretada geravam respostas com a palavra obrigatória “resistir”. E com variantes de “Lula é meu amigo, mexeu com ele, mexeu comigo”. 

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