No Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Lula volta a seu berço sindical e político

Em 1980, o ex-presidente foi preso por ser presidente da entidade e liderar greves

São Paulo

Ao buscar abrigo no prédio do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva volta ao seu berço sindical e, sobretudo, político.

A sede da entidade se entrelaça com a história do petista e a permanência no local representa um ato simbólico de negação à ordem de prisão expedida pelo juiz federal Sergio Moro.

Condenado na Lava Jato a 12 anos e um mês de prisão no caso do tríplex no Guarujá (SP), Lula volta à sede do sindicato cuja atuação como presidente e líder de greves causou sua prisão em 1980.

Na ocasião, Lula foi preso em casa e levado ao Dops (Departamento da Ordem Política e Social). Naquele ano, ficou detido por 31 dias.

 

“O sindicalismo do ABC está estampado nas fábricas e no prédio do sindicato. Em 1979 e 1980, aquele prédio sofreu cerco policial”, diz Ricardo Antunes, professor titular de Sociologia do Trabalho da Unicamp.

“O prédio é a expressão arquitetônica e simbólica de lutas sindicais importantes do Brasil”, afirma.

A história do sindicato remonta a 1933, quando foi fundado na região.

Em 1959, a entidade foi desmembrada, dando origem aos Sindicatos dos Metalúrgicos de São Bernardo e de Diadema. Nesse período, chegaram à região as montadoras.

O atual edifício, na Rua João Basso, foi entregue em 6 de outubro de 1973 para “o bem-estar político e social da família metalúrgica”, como estampava a placa de seu canteiro de obras. Na inauguração, estava presente o então governador Laudo Natel.

Operário da Villares, Lula sentou na cadeira de presidente da entidade pela primeira vez em 1975.

Foi à frente da entidade que ele se projetou nacionalmente durante o regime militar. A primeira grande greve, deflagrada na Scania, foi iniciada em 12 de maio de 1978.

“No ABC ressurgiu o movimento sindical de massa depois de dez anos sufocado pela ditadura”, afirma Armando Boito Jr., professor de Ciência Política da Unicamp.

Nos corredores e nas salas do sindicato, discutiram-se também as ideias de criação do PT e da CUT (Central Única dos Trabalhadores). O PT foi fundado em 1980 e a CUT, em 1983.

O professor de Direito do Trabalho da USP Flávio Roberto Batista lembra que a entidade ajudou a mudar a configuração do direito sindical brasileiro.

“O movimento do novo sindicalismo foi iniciado e conduzido na prática pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Era novo porque ocorria à margem do que era legalmente previsto para os sindicatos”, diz Batista.

De acordo com ele, o movimento “foi importante para a liberalização do sindicalismo presente na Constituição de 1988”. 

Entre os exemplos de mudanças na estrutura sindical estão a proposta de criação de centrais sindicais, reconhecidas em lei apenas em 2008, e a instituição de comissões de fábrica, regulamentadas pela reforma trabalhista, de 2017.

“Desde os anos 1980, várias empresas têm comissões de fábricas, organicamente ligadas ao sindicato, é o sindicato dentro da empresa”, diz Batista.

Nesta sexta-feira (6), nessas mesmas salas, corredores e salão de eventos, no último andar, Lula se reúne com petistas para traçar sua estratégia diante da prisão.

Do lado de fora, estão seus apoiadores.

“Precisamos pensar no movimento social real. Hoje, ele recebe apoio dos metalúrgicos do ABC, mas o apoio maior é dos movimentos populares, sem-teto, sem-terra, atingidos por barragens”, diz Boito Jr.

Lula é fichado no Dops em 1980. Foto e legenda extraídas do livro "Lula Filho do Brasil", de Denise Paraná, sobre a vida do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - Reprodução/Folhapress
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