Ordem de prisão de Lula reflete 'obsessão, ódio e rancor' de Moro, diz Gleisi

Zanin diz que defesa foi surpreendida por decisão do magistrado

Isabel Fleck Catia Seabra
São Paulo

O mandado de prisão para o ex-presidente Lula só pode ser “obsessão, ódio e rancor” da parte do juiz Sergio Moro contra o ex-presidente, disse nesta quinta (4) a líder nacional do partido, Gleisi Hoffmann.

Ela acompanha Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo. “Chega a ser doentia” a ordem expedida por Moro sem que os recursos a que o ex-presidente tem direito se esgotem na Justiça, disse Gleisi a jornalistas. 

Advogado do petista, Cristiano Zanin disse que a defesa foi surpreendida pela ação do magistrado.

Nenhum dos dois quis responder se Lula se apresentará à Polícia Federal em Curitiba no prazo concedido por Moro: 17h de sexta (6). O ex-presidente disse a aliados que se decidirá na hora do almoço.

O ex-presidente se dirigiu ao local onde começou a carreira como líder sindical depois de ser informado da decisão de Moro. No entorno do prédio, militantes, curiosos e viaturas policiais. 

Dentro, sindicalistas e parlamentares petistas aguardavam ansiosos no segundo andar uma fala do ex-presidente, que estava até as 20h50 trancado na sala da presidência, onde poucas pessoas eram autorizadas a entrar.

O clima era de confraternização, com políticos sendo cumprimentados pelos presentes. Estavam os deputados Paulo Teixeira e Paulo Pimenta, o pre-candiato à Presidência pelo PSOL, Guilherme Boulos. O sindicato distribuiu cartazes com o rosto de Lula e os dizeres “Tô com Lula”

Lá estavam também a ex-presidente Dilma Rousseff, o ex-governador do Ceará Cid Gomes (PDT) e o líder da oposição na Câmara, José Guimarães (PT). 

Jornalistas foram hostilizados por militantes com ovos, gelo e berros de “vão embora, urubus!”, direcionados sobretudo à equipe da Rede Globo.

O deputado Orlando Silva (PC do B) falou com a imprensa antes de entrar no sindicato. Para ele, a ordem de prisão “nos aparece um atropelo completo” e “mais um abuso de autoridade” por parte do Judiciário. 

A decisão foi tomada após Moro receber ofício do TRF-4 (Tribunal Regional Federal da 4ª Região), nesta tarde, autorizando a prisão do petista. 

Na véspera, o STF negou, por seis votos a cinco, o habeas corpus preventivo ao ex-presidente.

Lula foi condenado por Moro por corrupção e lavagem de dinheiro, no caso do tríplex de Guarujá em julho de 2017. Em janeiro, os juízes do TRF-4 confirmaram a condenação e votaram por aumentar a pena do petista para 12 anos e um mês de prisão.

No comunicado desta quinta do TRF-4, assinado pelos juízes Nivaldo Brunoni (substituto do relator João Pedro Gebran Neto) e Leandro Paulsen, os magistrados disseram que, como o julgamento dos embargos apresentados por Lula no último dia 26 não modificou a condenação do petista, o cumprimento de pena deve ser iniciado.

A defesa do petista questiona a decisão dizendo que ainda poderia recorrer no TRF-4 com os chamados embargos dos embargos até a próxima terça (10). Esse tipo de recurso, que não tem efeito suspensivo, geralmente é negado pelo tribunal.

No decreto de prisão, Moro destacou que não cabem mais “recursos com efeitos suspensivos” no TRF-4 e que os embargos dos embargos são uma “patologia protelatória”.

A defesa afirma ainda que há a possibilidade de recurso ao STJ e ao STF. De acordo com a jurisprudência atual do Supremo, no entanto, Lula pode ser preso após a conclusão do processo em segunda instância.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.