Descrição de chapéu Eleições 2018

Professora 'de voz brava', nova primeira-dama se diz feminista e critica Doria

Lúcia, mulher do governador Márcio França, assume presidência do Fundo Social de Solidariedade

Joelmir Tavares
São Paulo

A costureira teve que esperar. Na tarde em que decidiria a roupa para a posse do marido como governador, Lúcia França precisou ir a uma formatura no Palácio dos Bandeirantes e dar entrevista à Folha, a primeira como primeira-dama do estado.

O figurino nem é novidade tão grande na vida da professora de 56 anos, há 31 casada com Márcio França (PSB), 54.

Usando vestido salmão com estampa de flores e laço na cintura, a educadora esteve ao lado do marido na chegada dele ao comando do estado, na sexta (6). Ele herdou o cargo com a renúncia de Geraldo Alckmin (PSDB) para disputar a Presidência.

No posto de primeira-dama e presidente do Fundo Social de Solidariedade (FSS), foi uma mudança de Lu para Lu: saiu Maria Lúcia Alckmin, a Lu Alckmin, e entrou a professora Lúcia, como gosta de ser chamada a nova responsável pelo braço assistencial do governo do estado.

“Esse jeitinho doce da dona Lu eu não prometo”, diz a educadora, mais agitada e falante que a mulher do tucano. “Não sou brava, mas a minha voz é”, segue ela, em sala de aula desde os 17 anos e há 36 dirigindo sua própria escola, um colégio em Praia Grande que tem 700 alunos.

Lúcia nasceu na capital e foi criada em São Vicente, cidade onde o marido foi prefeito por dois mandatos (de 1997 a 2004). Também filiada ao PSB, mas sem tanto envolvimento na vida partidária, acompanhou Márcio nas campanhas eleitorais, gesto que deve repetir na busca dele pela reeleição como governador.

Pedro Gouvêa (MDB), irmão dela, foi eleito prefeito de São Vicente em 2016 pelas mãos de Márcio França. Lúcia nunca se candidatou, apesar dos pedidos dentro de casa.

A professora diz que levará para o palácio um pouco da disciplina que cobra dos estudantes, mas também sua paciência de alfabetizadora.

No FSS, tradicionalmente encabeçado pelas primeiras-damas, assume papel semelhante ao que ocupou em São Vicente. Por não se ver “dando cesta básica para as pessoas” no município, afirma que priorizou ampliação e melhoria de creches da prefeitura.

“Aquele fundo social assistencialista ficou para trás. Os fundos sociais hoje querem dar para as pessoas formação, oportunidade de mudar alguma coisa”, diz Lúcia.

A nova presidente, que grudou em Lu para fazer a transição (a função é voluntária), quer manter os cursos de costura, panificação, beleza e construção civil do FSS.

“Não tenho o perfil de dar peixe para ninguém. Nem para meus filhos. Quer uma coisa a mais? Faz um trabalho aí que a gente troca”, diz a mãe do deputado estadual Caio França (PSB), candidato à reeleição, e de Helena, que trabalha no colégio da família.

Na educação, área de seu interesse, Lúcia diz que pode até dar algum pitaco, mas não terá influência durante o governo do marido. “Sinto uma enorme boa vontade de tudo em torno da Secretaria da Educação”, afirma ela, diplomática, instada a comentar o ensino na rede estadual.

“Não quero ser leviana para falar de um assunto que me toca tanto. O número de crianças atendidas, na minha época [de aluna da rede], era menor, o que facilitava. Hoje a gente tem o desgaste dos profissionais, das famílias.”

FEMINISTA

Dizendo-se “bastante feminista”, mas sem radicalismos, a nova primeira-dama prega equidade entre gêneros. “Não quero igualdade, porque a gente não vai ser igual nunca. Quero oportunidade igual.”

Na vida conjugal, afirma, nunca houve diferenças. “Sempre fui muito ouvida pelo Márcio. E também sempre mantive minha trajetória.”

Os dois estão afinados também nas críticas ao ex-prefeito João Doria (PSDB), que saiu do cargo para disputar o governo estadual. O governador diz que o tucano mostrou não ter palavra ao abandonar o mandato com 15 meses.

“Nós participamos da campanha do Doria ativamente”, lembra Lúcia. “Nossa esperança era que ele fizesse um governo diferenciado. A gente fica decepcionado”, diz, ecoando o tom que o marido adotará contra o oponente.

O casal França só não fala a mesma língua, diz a esposa, quando o assunto é temperamento. O novo governador, que tem fama de conciliador, nunca altera o tom de voz, segundo ela. “Estamos juntos há 38 anos e todas as vezes nesse tempo eu briguei sozinha.”

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