Descrição de chapéu

Rosa Weber deixa aberta trilha para beneficiar futuros Lulas

Proposta de Gilmar para não julgar habeas corpus pensando em petista atraiu voto de ministra

Luiz Weber
Brasília

Nos juramentos que prestam antes de tomar posse na suprema corte dos EUA, os “justices” (ministros) declaram: “Eu, solenemente, juro que administrarei a justiça independentemente da pessoa em julgamento”. Nos tribunais daqui, tal promessa não há. E o nome na capa dos processos, às vezes, pesa.

Nesta quarta (4), Gilmar Mendes propôs uma transmutação da ação em julgamento para retirar o nome estampado de Lula. Construiu a tese de que o habeas corpus impetrado por Lula não dizia respeito a Lula, mas a todos os Lulas. O argumento foi forjado para atrair o apoio da ministra Rosa Weber.

Contrária por princípio, por adesão à literalidade da Constituição, à execução da pena, a ministra ficou com a jurisprudência formada em 2016.

Mas deixou aberta a trilha para uma revisão, colocando no radar que novos nomes na capa poderão ser beneficiados no futuro.

Nos anos 60, o “justice” Frankfurter dizia que, sem possuir a chave do cofre nem armas para fazer impor suas decisões, a corte não podia prescindir da anuência do povo dos EUA.

No processo de interpretação da Constituição é preciso conversar com a realidade. O STF, embora instituição de grande calado, camba de acordo com a maré dos humores da sociedade.

As cortes democráticas não mantêm legitimidade por muito tempo fora da atmosfera de seu tempo.

É duradouro o consenso social favorável à punição de criminosos, caracterizado por mandar para a cadeia quem for condenado duas vezes em instâncias distintas.

Uma decisão em favor de Lula significaria que o STF inauguraria o delivery jurisprudencial, um HC servido à la carte ao ex-presidente.

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