Após tragédia, tucano desafia Renan em Alagoas

Deputado estadual Rodrigo Cunha, filho de deputada federal morta em 1998 a mando de seu suplente, tentará vaga no Senado

Cunha abraça advogado após condenação de mandante de crime - Ricardo Leão - 19.jan.12/A Gazeta de Alagoas
João Pedro Pitombo
Salvador

A política entrou na vida do advogado Rodrigo Cunha, 37, de forma trágica. Ele tinha apenas 17 anos quando teve a mãe e o pai assassinados num dos crimes políticos mais bárbaros da história do país.

Sua mãe, Ceci Cunha (PSDB), foi morta em 1998 no dia de sua diplomação como deputada federal. O mandante do crime, que vitimou seu pai e outros dois parentes, foi o próprio suplente de Ceci, o deputado federal Talvane Albuquerque, então filiado ao PFL.

Duas décadas depois, Rodrigo Cunha, que é deputado estadual em primeiro mandato, vai disputar uma cadeira no Senado pelo PSDB. Terá pela frente adversários como Renan Calheiros, que tentará sua terceira reeleição na casa.

"Me coloquei no lugar dos alagoanos que veem os mesmos políticos e as mesmas famílias comandando o estado. Pode parecer uma aventura, mas para mim não é. A vida me preparou pra esse momento", disse Cunha à Folha.

A ideia é tentar repetir o feito de Heloísa Helena (Rede), que, em 1998, elegeu-se senadora pelo PT em Alagoas contra os principais caciques políticos do estado.

Caso consiga, consolidará uma ascensão política meteórica: sua estreia na política aconteceu em 2014, quando foi eleito o deputado estadual mais votado de Alagoas, com 60 mil votos. Antes disso, atuou como superintendente do Procon na gestão do ex-governador Teotônio Vilela Filho (PSDB).

A sua entrada na política aconteceu dois anos depois de dar um ponto final à principal causa de sua vida até então: colocar na cadeia os assassinos de seus pais.

"Foram 13 anos de angústia em que lutei com todas as minhas forças. A única coisa que eu pensava da hora em que eu acordava até a hora de colocar a cabeça no travesseiro era dar um desfecho digno à história de meus pais", afirma.

A condenação do ex-deputado Talvane Albuquerque e dos pistoleiros que executaram o crime ocorreu apenas em 2012. Juntos, as penas dos cinco condenados somam quase 500 anos de prisão. O mandante foi condenado a 103 anos.

O caso foi citado como exemplo de procrastinação da Justiça brasileira no voto do ministro Luís Roberto Barroso que negou o habeas corpus ao ex-presidente Lula e defendeu a prisão de condenados em segunda instância.

Para as eleições deste ano, o caminho natural para Cunha seria buscar uma cadeira de deputado federal. Seria uma eleição cercada de simbolismo --o filho retomaria no voto o lugar que foi tirado de sua mãe de forma brutal em 1998.

Mas o tucano escolheu um caminho mais difícil, já que a disputa pelo Senado se dará entre pesos pesados da política de Alagoas. Renan é candidato em dobradinha com o ex-ministro dos Transportes Maurício Quintela Lessa (PR). Também devem ser candidatos o senador Benedito de Lira (PP) e o ex-ministro do Turismo Marx Beltrão (PSD).

Para enfrentá-los, Cunha diz contar com seu principal diferencial --é o único dos cinco pré-candidatos que não é alvo de inquéritos por suspeita de corrupção. Renan e Benedito colecionam inquéritos na Lava Jato. Quintela e Beltrão respondem por improbidade.

Mas ele deve ter dificuldade para compor uma chapa competitiva. O PSDB ficou sem nome natural para disputar o governo depois que o prefeito de Maceió, Rui Palmeira (PSDB), optou por permanecer no cargo.

A posição de independência de Cunha deve reforçar o isolamento, já que ele descarta compor chapa com políticos suspeitos de corrupção, como Benedito de Lira (PP). Por outro lado, deve ganhar o apoio informal de fora de seu círculo político, como o de Heloísa Helena, pré-candidata a deputada federal.

Cunha diz querer que sua principal vitrine seja o seu mandato na Assembleia Legislativa, no qual ele notabilizou-se pelo perfil fiscalizador e por adotar posturas fora do tradicional: rejeitou gratificações e escolheu seus assessores por meio de concurso que teve mais de 1.000 candidatos.

"Quero mostrar que as pessoas podem escolher os seus candidatos. A ideia é furar essa barreira dos redutos eleitorais", diz.

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