Conselheiro de Ciro, Mangabeira Unger cobra apoio da esquerda

Filósofo diz que seria 'cúmulo da irresponsabilidade política' se PT não apoiasse o pré-candidato do PDT

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O filósofo Mangabeira Unger, considerado guru do presidenciável Ciro Gomes (PDT) - Eduardo Anizelli/ Folhapress
Brasília

Considerado o guru de Ciro Gomes, o filósofo Roberto Mangabeira Unger não vislumbra no cenário atual a chance de o PT participar da coalizão vencedora caso não apoie o PDT.

Em entrevista na segunda (7), ele afirmou que o pré-candidato não servirá de "instrumento do PT" e disse acreditar que, mesmo com a atual resistência dos petistas, a sigla deve chegar a um momento de "realismo político". 

Na área econômica, o professor da Universidade Harvard, que lançará em breve dois livros no Brasil, prega mudança no controle de gastos, taxação de lucros e dividendos e alterações na legislação trabalhista.

 

Folha - A esquerda passa por um forte desgaste de imagem. Por que ela seria eleita neste ano?

Roberto Mangabeira  Unger -  A candidatura de Ciro não deve ser apenas projeto de centro-esquerda. Deve ser um projeto que se ofereça como veículo político ao agente social mais importante do país, que chamamos de emergentes.

Mas a fragmentação da esquerda não inviabiliza seu retorno ao poder?

Há um problema concreto: um partido dentro da chamada esquerda ou centro-esquerda se acostumou a uma condição hegemônica e a tratar os outros como satélites. Seria o cúmulo da irresponsabilidade política que esse partido não apoiasse alternativa com maior potencial de chegar ao poder.

O PT tem chance de chegar ao poder se não fizer uma aliança com Ciro?

Não vejo no quadro atual. Agora, a candidatura do Ciro é de longe a nossa melhor, senão a nossa única opção. Ciro jamais será instrumento do PT. É agente de um projeto transformador que as forças comprometidas com um produtivismo inclusivo têm a responsabilidade histórica de apoiar.

Mas o próprio Ciro afirmou que as chances de o PT ser vice dele são próximas a zero. Ele não tem contribuído com a desagregação?

Eu não sou tão pessimista quanto o Ciro a esse respeito. Eu acho que não só deve, mas pode chegar o momento do realismo político, em que nossos aliados compreendam a sua responsabilidade histórica.

O senhor disse no passado que considera Ciro uma espécie de "outsider". Como ele pode sê-lo se tem origem em uma das principais oligarquias do Ceará?

Eu não usaria "outsider". Não tem essa de se fantasiar de "outsider" ou "insider". As particularidades do Ciro podem ser agora úteis ao país.

A defesa de Lula diz que o petista é vítima de "lawfare", ou seja, uso ilegítimo de recursos jurídicos. O conceito se aplica a ele?

A condenação me parece injusta, baseada em um conjunto frágil de provas indiciárias. A elite jurídica não pode assumir a condução do país. Ela tem um papel que é desestabilizar os acertos oligárquicos e abrir espaço para a energia cívica.

O teto dos gastos aprovado pelo Congresso Nacional precisa ser alterado?

O teto como construído é uma camisa de força para substituir a base real do realismo fiscal. Quiseram impor o sacrifício sem as oportunidades. Devemos ter regras de contenção fiscal, mas não devem ser genéricas que não distingam entre o que é estratégico e o que não é e o que é custeio e o que é investimento.

Ciro deve manter ou revogar a reforma trabalhista?

A reforma nos moldes em que foi adotada é um exemplo clássico da erosão dos direitos do trabalho. É inaceitável defender os interesses da minoria organizada contra os interesses da maioria desorganizada e usar o imperativo da flexibilidade como pretexto para jogar a maioria na precarização.

Há no PDT a defesa que Ciro seja domesticado para o mercado financeiro. Ele é domesticável?

Jamais, a meu ver, será.

A carga tributária deve ser elevada?

Com completa honestidade intelectual, entendo que o Brasil terá de manter alta carga tributária, combinando tributos progressivos, como a tributação de lucros e dividendos, com tributação neutra e indireta do consumo. Quem diz que nós podemos reduzir a carga tributária de forma compatível com o realismo fiscal está mentindo.

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