Empresário diz a Moro que negociou com Fernando Bittar compra de sítio atribuído a Lula

Roberto Simões disse que nenhum membro da família Lula esteve presente nesta negociação

Ana Luiza Albuquerque
Curitiba

O empresário Roberto Simões afirmou ao juiz Sergio Moro nesta sexta (11) que chegou a negociar a compra do sítio em Atibaia dos irmãos Kalil e Fernando Bittar. Amigo da família, Simões foi arrolado como testemunha de defesa de Fernando na ação que envolve o imóvel e tem o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos réus.

Simões disse que nenhum membro da família Lula esteve presente nesta negociação. Ainda que Fernando Bittar seja o proprietário oficial do sítio, o Ministério Público Federal acusa o ex-presidente de ser o verdadeiro dono e de ter se beneficiado em mais de R$ 1 milhão em benfeitorias no imóvel. As reformas teriam sido pagas pelas empreiteiras OAS e Odebrecht. 

O empresário afirmou que possuía um imóvel em Bertioga (SP) que não frequentava e que chegou a pensar em fazer uma "operação de imóvel". Segundo ele, a possível venda foi tratada na casa de Kalil Bittar, em uma conversa informal, de amigos. Depois, no entanto, ele disse que decidiu não efetuar a compra.

O publicitário João Moraes Neto, amigo de Fernando Bittar, também prestou depoimento nesta tarde. Ele disse que Bittar queria vender ou alugar o sítio "por conta de todo esse imbróglio". Questionado pelo Ministério Público se Bittar queria vender o imóvel por causa dos acontecimentos da Lava Jato, Neto disse: "É, a questão é a seguinte, eles não estavam mais usando". 

Na visão do publicitário, a família Bittar não frequentava mais o sítio em função dos acontecimentos. "Quando começa uma atenção em cima da propriedade, acaba ficando visado. Ele estava meio triste com todo esse processo, não a questão do processo só, mas todo o processo que envolve isso... Você atinge família."

Em março de 2016, a Polícia Federal deflagrou a 24ª fase da Lava Jato, a Aletheia, que tinha como objetivo apurar se empreiteiras haviam favorecido Lula por meio do sítio em Atibaia e do tríplex no Guarujá (SP). De acordo com Neto, foi neste ano que Fernando Bittar decidiu vender a propriedade. Ele disse que chegou a levar um corretor de imóveis ao local para ajudar o amigo.

O filósofo Fernando Moraes, também amigo de Bittar e testemunha ouvida nesta sexta, confirmou que o empresário parou de ir ao sítio. Ele disse que as pessoas apontam, xingam e gritam palavras de ordem contra os frequentadores, cenas que teria presenciado há menos de um ano.

Moraes afirmou que Bittar pediu que ele passasse a visitar o imóvel, para não deixá-lo abandonado. Segundo ele, o empresário ofereceu a casa e deu liberdade total. "Toda vez levei um casal de amigos", disse.

O filósofo também relatou que não aceitou convites de Bittar para conhecer o sítio no passado porque não tinha proximidade com a família de Lula, que também estaria no local. "Nunca me senti à vontade de ir no passado."

Ele também afirmou que no final de 2009, o pai de Fernando, Jacó, pediu que o filho procurasse um imóvel para comprar na região.

Nesta semana, Moro tem escutado depoimentos de testemunhas de defesa. Na quarta-feira (9), o ex-ministro Gilberto Carvalho afirmou que Fernando Bittar emprestou o sítio para a família de Lula.

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