Descrição de chapéu Geddel Vieira Lima

Inocentado, ex-assessor de Geddel mira eleição para prefeito na Bahia em 2020

Gustavo Ferraz foi preso em 2017 no caso do bunker com R$ 51 milhões atribuídos a ex-ministro

João Pedro Pitombo
Salvador

“Sinceramente, não tenho motivos para olhar para trás. Sou um militante e vou continuar fazendo política. Quero ser prefeito da minha cidade”.

Um dia depois de ter sido inocentado, Gustavo Ferraz, ex-assessor de Geddel Vieira Lima (MDB), ex-ministro de Lula e de Michel Temer, faz planos ousados. Ferraz traçou como meta eleger-se em 2020 prefeito de Lauro de Freitas, cidade de 200 mil habitantes da Grande Salvador onde construiu sua carreira política.

O ex-assessor foi absolvido pelo STF (Supremo Tribunal Federal) na terça-feira (8) das acusações de corrupção e lavagem de dinheiro no caso de um bunker com R$ 51 milhões atribuídos a Geddel.

Ele foi preso em setembro do ano passado após a Polícia Federal identificar a impressão digital de seu dedo anelar direito em um dos sacos de dinheiro encontrados no bunker em Salvador. 

Ferraz admitiu ter transportado uma sacola com dinheiro para o ex-ministro emedebista entre São Paulo e Salvador, mas disse não saber que os recursos eram oriundos de propinas.

Na mesma decisão que o absolveu, o Supremo transformou em réus Geddel, seu irmão, deputado federal Lúcio Vieira Lima (MDB-BA), e sua mãe, Marluce Veira Lima. O ex-ministro está preso desde setembro na penitenciária da Papuda, em Brasília.

À Folha, Ferraz faz questão de descolar-se de seu antigo padrinho político. Diz que não era amigo de Geddel, mas apenas um funcionário do partido. Afirma que não é rico nem se beneficiou de qualquer esquema de corrupção.

“Quiseram me transformar em um personagem que não condiz com meu estilo de vida. Fui execrado, chamado de laranja, de atravessador. Mas quem me conhece sabe que sou um cara simples. Tenho uma casa financiada, um carro no consórcio e mais nada”, afirma.

Ele diz que apenas cumpriu ordens quando transportou dinheiro a pedido do ex-ministro durante a campanha de 2014: “Infelizmente, a gente sabe que [caixa 2] era uma prática comum no nosso país. Mas não ia perguntar ao meu patrão a origem do dinheiro e arriscar perder meu emprego”, disse.

O ex-assessor afirma não ter mágoas de Geddel. Diz que ele deve pagar caso a Justiça o considere culpado dos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro.

“Sei que a família dele [Geddel] deve estar sofrendo, mas a Justiça está aí para todo mundo. Ele vai se defender e caberá ao Supremo definir [se ele é culpado]”, afirma.

Ao todo, Ferraz cumpriu 42 dias de prisão preventiva em um batalhão da Polícia Militar em Brasília e mais 108 dias de prisão domiciliar. 

Diz que ficou deprimido na cadeia, sofreu com a distância da mulher e da filha de seis anos, mas amparou-se em outros presos com quem conviveu.

Agora, seu principal desafio será reconstruir sua carreira política. 

Em 2016, ele foi candidato a vice-prefeito de Lauro de Freitas na chapa liderada pelo então vereador Mateus Reis (PSDB). Tiveram 40% dos votos, perdendo para Moema Gramacho (PT).

O primeiro passo foi desfiliar-se do MDB, cortando ligações políticas com o partido comandado por Geddel Vieira Lima.

Mas não será fácil reconstruir pontes. A prisão fez com que seus antigos aliados políticos se afastassem e que ele perdesse a chefia da Defesa Civil de Salvador, cargo que ocupava na gestão do prefeito ACM

Neto (DEM) por indicação do ex-ministro emedebista.

Mesmo assim, ele se diz otimista. Afirma que, com as novas regras que baratearam as campanhas, o dinheiro será menos decisivo nas campanhas eleitorais. 

Ele nega ter usado caixa 2 na campanha de 2016. E nega que vá usar recursos ilegais em 2020.

“Quero seguir minha jornada e acho que tenho chance. Acredito que só através da política a gente pode transformar a nossa realidade”.

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