Operação da PF em 2009 impediu entrega de R$ 1 milhão em propina, dizem doleiros

Emissário se deparou com agentes quando ia entregar a quantia na sede da Camargo Corrêa, no Rio

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Rio de Janeiro

Anulada pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça), a Operação Castelo de Areia teve ao menos um efeito prático: impedir a entrega de R$ 1 milhão em dinheiro na sede da Camargo Corrêa para distribuição para políticos.

Os doleiros Vinicius Claret e Cláudio Barboza disseram em delação ao Ministério Público Federal que um emissário da dupla foi entregar os valores na sede da empreiteira no Rio quando se deparou com agentes da Polícia Federal.

"Por sorte o entregador acabou voltando", disse Claret aos procuradores.

Deflagrada em 25 de março de 2009, a investigação apontou distribuição de propina a políticos e cartel formado por empreiteiras. Com enredo semelhante ao da Lava Jato, foi anulada em 2011 pelo STJ, que considerou ilegal o inquérito ter sido instaurado por meio de uma denúncia anônima.

A revelação da entrega interrompida foi mencionada por Claret e Barboza para exemplificar a atuação dos doleiros Jorge e Raul Davies, presos na Operação Câmbio, Desligo, deflagrada na semana passada.

A delação da dupla revelou uma rede de doleiros, operadores financeiros e fornecedores de dinheiro no país. Os Davies já eram conhecidos, mas tiveram sua atuação detalhada.

Diferentes delações apontam que os Davies trabalhavam para Camargo, Carioca Engenharia, Queiroz Galvão e JBS. Os recursos operados pelos irmãos chegaram ao menos ao ex-deputado Eduardo Cunha (MDB) e o ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

A família Davies atua há anos no Rio. Jorge e Raul são filhos de Raul Davies Mendez, morto em 2007, e, segundo as investigações, herdaram os negócios do pai. 

Eles foram condenados no ano passado em ação penal por um desdobramento do caso Banestado e são réus em processo da Lava Jato em Curitiba por auxiliar a distribuição de propinas por contratos na Petrobras.

De acordo com Claret e Barboza, os irmãos, assim como eles, se mudaram para o Uruguai após o caso Banestado. Contudo, os Davies decidiram encerrar a estrutura que mantinham no Rio para entrega de dinheiro. Tiveram de fazer uma parceria com os atuais delatores, funcionários de Dario Messer, para continuar atuando na cidade.

Segundo os doleiros, os Davies movimentaram US$ 25 milhões entre 2011 e 2017. Quase a totalidade das operações tinha como objetivo vender dólar no exterior para obter dinheiro em espécie no Brasil.

Os irmãos utilizavam a estrutura de Claret e Barboza para entrega de dinheiro no Rio, São Paulo, Salvador, Brasília, Recife e Vitória. 

O advogado Antônio Pitombo, que defende Jorge e Raul Davies, afirmou que a suspeita sobre seus clientes é um grande erro. 

"Os antigos sócios do pai deles continuaram operando usando o sobrenome deles. Este é um mercado de confiança em que o nome vale muito. Mas eles [os irmãos] estão afastados do mercado de câmbio há muitos anos", declarou.

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