Palocci negocia nova delação, agora em São Paulo

Ex-ministro quer relatar casos envolvendo antigos clientes da sua consultoria Projeto e operadores do mercado financeiro

Wálter Nunes
São Paulo

Os advogados do ex-ministro Antonio Palocci, preso em Curitiba por ordem do juiz Sergio Moro, estão tentando fechar um segundo acordo de delação premiada, dessa vez com a força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal de São Paulo.

Os advogados Adriano Bretas e Tracy Reinaldet, do Paraná, viajaram para São Paulo em fevereiro e disseram aos investigadores que podem apresentar casos inéditos de corrupção vinculados à consultoria Projeto, empresa do ex-ministro da Fazenda.

Em 2011, a Folha revelou que Palocci havia montado a empresa de consultoria e ficado milionário ao mesmo tempo em que exercia o mandato de deputado federal e coordenava a campanha presidencial de Dilma Rousseff.

O ex-ministro Antonio Palocci ao ser preso na Operação Lava Jato
O ex-ministro Antonio Palocci ao ser preso na Operação Lava Jato - Rodolfo Buhrer/Reuters

Numa segunda visita à capital paulista, os advogados de Palocci mencionaram um cardápio de episódios envolvendo os clientes da consultoria e casos que implicam outras empresas e operadores do mercado financeiro.

A conversa com o Ministério Público Federal de São Paulo justifica-se porque os supostos crimes teriam acontecido no estado.

Bretas e Reinaldet se comprometeram a, em breve, retornar e entregar aos procuradores um documento formalizando uma proposta de delação. A Folha apurou que a peça será composta de cerca de dez anexos contendo denúncias de condutas criminosas.

Palocci já tem um acordo de colaboração premiada assinado com a Polícia Federal paranaense.

Antes de fechar acordo com os delegados, os advogados do ex-ministro haviam negociado com a força tarefa do Ministério Público Federal do Paraná, mas os procuradores não consideraram consistentes os casos levados pelo petista.

O trato feito com a PF aguarda a homologação pelo juiz João Pedro Gebran Neto, do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).

A Folha apurou que a tendência é de que a Procuradoria Regional da República do Paraná seja contrária ao fechamento do acordo de Palocci com a Polícia Federal, porém, os envolvidos no caso têm confiança de que mesmo assim Gebran vai homologar o acordo.

A descoberta da existência da Projeto fez Palocci pedir demissão do cargo de ministro da Casa Civil de Dilma seis meses após assumir a pasta.

A reportagem mostrou que Palocci adquiriu patrimônio milionário graças ao negócio, que tocou paralelamente à sua atividade parlamentar e partidária.

Ele comprou dois imóveis no prazo de um ano: um apartamento de luxo por R$ 6,6 milhões, em 2010, e um escritório por R$ 882 mil, no ano anterior.

Os dois negócios faziam o patrimônio do ex-ministro ficar 20 vezes maior do que o declarado nos tempos de Câmara dos Deputados.

A compra dos imóveis foi feita por meio da Projeto, que havia nascido com a razão social de uma consultoria, mas depois se transformou formalmente em uma administradora de bens imóveis.

Entre os clientes de Palocci na consultoria Projeto estavam Multiplan (gestora de shoppings),  WTorre, Amil, Grupo Pão de Açúicar, Grande Moinho Cearense, JBS e os bancos Safra, Santander e Bradesco, entre outros. Não há indício de que essas empresas tenham participado de irregularidades, no entanto.

A Receita Federal apontou que a Projeto recebeu R$ 81 milhões de 47 clientes entre 2007 e 2015.

A Folha procurou a força tarefa da Operação Lava Jato paulista e os advogados do ex-ministro Antonio Palocci, mas ninguém quis comentar o assunto.

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