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Planalto decidiu sobre a vida e a morte de presos políticos sob a guarda do Estado

Memorando da CIA traz informações novas sobre a política de execuções sumárias na segunda metade da ditadura militar

Matias Spektor

​O memorando da CIA traz informações novas sobre a política de execuções sumárias na segunda metade da ditadura militar. 

O Palácio do Planalto decidiu sobre a vida e a morte de presos políticos sob a guarda do Estado. Ou seja, além da já sabida luta contra os guerrilheiros do Araguaia e outros grupos organizados, o documento implica os presidentes Emílio G. Médici, Ernesto Geisel e João B. Figueiredo na política de eliminação de oponentes desarmados. 

O ex-presidente da República Ernesto Geisel
O ex-presidente da República Ernesto Geisel - 1º.out.76/Folhapress

O documento ainda revela que Geisel, dias depois de assumir o poder, chamou para si a responsabilidade de arbitrar a respeito dessas execuções. Ele iria abrir o regime, mas o faria mantendo viva a caça a “subversivos perigosos”. Essa transição ocorreria junto com a linha mais dura do regime, e não em detrimento dela.

A fonte primária também estima em 104 o número de execuções sumárias pelo Centro de Informações do Exército durante os 12 meses anteriores ao encontro relatado, no governo Médici. E joga luz sobre o fato de que o general Figueiredo, ao promulgar a Lei da Anistia, estava, na prática, concedendo uma anistia a si próprio. 

Há ainda muito que não sabemos. Como a CIA obteve a informação? Aqui, há três possibilidades: uma escuta secreta, um depoimento direto de um dos quatro participantes ou um relato de segunda mão, dado por um assessor do governo brasileiro de segundo ou terceiro escalão. 

Qual era a avaliação da CIA a respeito da conversa? Isso o memorando não revela. Será necessário suspender o sigilo dos trechos ainda tarjados nesse documento para responder a essa pergunta, que permanecem fechados à pesquisa pública, ou correr atrás de fontes novas.

Durante mais de 30 anos, a CIA guardou seu segredo a sete chaves. Mas a documentação da época sugere que a agência também manteve a informação sobre essa conversa longe da própria embaixada americana no Brasil. Ao que tudo indica, os diplomatas lá lotados não tinham informação sobre a ligação dos presidentes brasileiros à política de assassinato de opositores. 

Este documento é apenas um de muitos outros que virão a público nos próximos anos, graças à abertura sistemática de fontes secretas nos Estados Unidos sobre aquele período. É lamentável que os documentos brasileiros daquela época tenham sido destruídos, perdidos ou permaneçam escondidos.

 
 
 
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