Descrição de chapéu Eleições 2018

Primeira presidenciável não votará em candidata mulher em 2018

Pioneira na disputa ao Planalto em 1989, advogada diz não ver opção feminina que a represente

Laís Alegretti
Brasília

O ano era 1989. Entre 21 candidatos homens, surgia a primeira mulher a concorrer à Presidência no Brasil. Quase três décadas depois e prestes a completar 70 anos, a advogada Lívia Maria Pio de Abreu diz que prefere eleger mulheres, mas não encontra hoje uma candidata ao Palácio do Planalto que a represente.

Ela se define como uma mulher que não é feminista e com ideologia política de centro. Depois do voto nela mesma, nunca mais escolheu uma mulher para a Presidência. “Ainda não apareceu uma candidata com proposta agregadora e programa desenvolvimentista”, justifica.

Lívia de Abreu, primeira candidata mulher à Presidência, em 89, posa para foto em sua casa em Brasília
Lívia de Abreu, primeira candidata mulher à Presidência, em 89, em sua casa em Brasília - Pedro Ladeira/Folhapress

As duas pré-candidatas de 2018 não a agradam. Marina Silva (Rede), diz, é um “puxadinho do PT”. E Manuela D’Ávila (PC do B)? “Não voto por causa do partido. Chega de socialismo neste país.”

Apesar de ponderar que as candidaturas não estão definidas, ela declara apoio a Guilherme Afif Domingos (PSD). Se ele não concorrer, diz que escolherá Henrique Meirelles (MDB) e, no segundo turno, Jair Bolsonaro (PSL).

Para a cientista política e professora da UnB (Universidade de Brasília) Flávia Biroli, a falta de mulheres na política —que Lívia destaca— é mais evidente nos partidos de centro e de direita. A explicação está na relação das legendas com as bases.

“A esquerda é mais próxima de movimentos sociais. Como as mulheres sempre atuaram politicamente na base, mas não conseguem furar a barreira do partido, a esquerda tem mais mulheres atuando, com entrada pelo lado de intelectuais e sindicatos”, diz.

Lívia Maria concorreu em 1989 pelo PN (Partido Nacionalista) e, na TV, iniciava suas falas evocando “mulheres do Brasil”. Os 180 mil votos que recebeu a deixaram em 17º no primeiro turno, à frente de cinco candidatos —entre eles, Fernando Gabeira.

A escolha de seu nome para concorrer pelo partido que ajudara a promover foi uma surpresa durante reunião em Brasília, segundo Lívia Maria. “Sabia que eu não ia ganhar, mas aceitei o desafio.”

Na convivência com militares que atuavam no partido, ela diz que todos defendiam o “nacionalismo”, mas de forma diferente. “Eles eram meio Hitler, meio centralizadores. Eu era mais expansiva.”

A advogada conta que teve liberdade para fazer o plano de governo —do qual guarda cópias até hoje—, mas não recebeu recursos suficientes para realizar uma campanha que não fosse amadora, na definição dela. “Os militares me apoiaram muito, mas não me deram dinheiro.”

A cota de 30% de candidatas nas coligações é necessária, segundo Lívia Maria, porque “os caciques não deixavam as mulheres serem candidatas”. 

Mas não é suficiente. “Não adianta sair catando [mulher] igual graveto na última hora.”

A professora Flávia Biroli aponta a falta de recursos para candidaturas femininas como grande problema em todas as legendas. Deve ter efeito positivo, segundo ela, a recente decisão do Supremo Tribunal Federal de fixar piso de 30% do fundo partidário para campanhas de mulheres.

Desde 2013, Lívia Maria tenta juntar assinaturas para criar o Partido do Brasil Forte, inspirado em ideias da Escola Superior de Guerra, das Forças Armadas. 

O manifesto a sigla fala em “restaurar os valores maiores da nacionalidade”, defende o voto facultativo, a “valorização e proteção da família” e “ampliação e defesa dos direitos e deveres da mulher”.

Em todas as eleições realizadas após 1989, seis mulheres se candidataram ao Planalto.

Ao ouvir o nome de Dilma Rousseff (PT), primeira mulher a presidir o país, Lívia Maria afirma: “Não votei na Dilma”. Diz que a ex-presidente é radical e intempestiva e que “o impeachment não foi por ela ser mulher”.

Questionada se o machismo persiste no país, Lívia Maria não pensa duas vezes: “Você não sente, não?”

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