Sob pressão geral, governo temia novo junho de 2013

Em menos de uma semana, gestão Temer perdeu controle de agenda econômica e se tornou refém do Congresso

Brasília

O presidente Michel Temer começou a semana com a esperança de que, ao desistir de ser candidato à reeleição, diminuiriam os ataques até o final de seu mandato. Ele chega a esta sexta (25) em situação oposta: protagonista de uma das maiores crises desde que assumiu o Planalto. E desafiado pelas lideranças do Congresso. 

Em menos de cinco dias, perdeu o controle da agenda econômica, voltou a ser refém do Legislativo e passou a lidar com o temor de ver sua elevada rejeição se materializar em protestos por causa do desabastecimento.

Temerosa com o fracasso das negociações com o movimento grevista, a equipe presidencial avaliava nesta quinta (24) que o episódio, se não fosse controlado, teria potencial para se tornar um novo junho de 2013, quando a população protestou nas ruas contra o preço do transporte público.

O cenário adverso contaminou até mesmo a pré-campanha do presidenciável do MDB, Henrique Meirelles, que passou a ser cobrado pela alta do preço dos combustíveis e, se depender de adversários, terá de responder sobre o assunto durante a campanha.

Apático desde segunda (21), quando as rodovias começaram a ser bloqueadas, o Planalto não tomou o controle da situação e assistiu ao Legislativo assumir o protagonismo da situação.

Naquele dia, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), se anteciparam a Temer e anunciaram comissão para discutir saídas para a escalada de preços, em plano traçado já no final de semana.

Com a dianteira do Legislativo, o Executivo tentou no dia seguinte uma primeira reação: prometeu zerar a Cide do diesel desde que o Congresso aprovasse projeto de reoneração da folha de pagamento de alguns setores.

A iniciativa, contudo, não agradou a Maia. Em sinal de insatisfação, ele anunciou que deixaria caducar medida provisória que destravava a privatização das distribuidoras da Eletrobras, uma das prioridades do governo.

Para se manter na condução do processo e evitar o protagonismo de Temer, Maia comunicou que votaria a proposta de reoneração, mas incluindo a redução das alíquotas de PIS/Cofins do óleo diesel, o que irritou Temer.

Segundo a Folha apurou, o presidente reclamou de Maia, vinculou a posição do parlamentar à sua pré-candidatura à sucessão pelo DEM e avaliou que a atitude prejudicava o governo, já que representava frustração de receitas de cerca de R$ 10 bilhões.

Em uma contraofensiva a Maia e na tentativa de arrefecer a crise, Temer pressionou na quarta (23) o presidente da Petrobras, Pedro Parente, a anunciar redução de 10% no preço do diesel durante 15 dias, o que não foi o suficiente para encerrar a paralisação dos caminhoneiros.

“O momento mais difícil foi este”, afirmou o ministro Eliseu Padilha (Casa Civil).

Mesmo sem espaço fiscal, Maia colocou em votação a redução do PIS/Cofins e teve, para desespero do governo, apoio de todos os partidos da base aliada, incluindo a sigla do presidente, o MDB.

“Acho que vocês cometeram um grande erro, um erro de cálculo que impacta neste momento”, disse o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, ao se despedir de Orlando Silva (PC do B), relator da proposta.

Nesta quinta (24), Maia voltou a pressionar Temer. Ele admitiu ter trabalhado com uma estimativa de impacto irreal, mas disse que o Executivo tem condições de zerar, por conta própria, as alíquotas de PIS/Cofins. “Será que o governo não pode zerar o diesel de forma transitória? Via decreto, deveria já voltar, no diesel, alíquota de julho de 2017”, disse Maia à Folha.

Alheio ao agravamento da crise, Temer não acolheu conselho de sua equipe e manteve viagem ao Rio de Janeiro para distribuir carros a conselhos tutelares, ainda que postos de gasolina do país já anunciassem falta de combustíveis.

A tentativa de solucionar o cenário caótico ficou a cargo de Padilha. Em reunião de mais sete horas com representantes dos caminhoneiros, ele obteve uma vitória parcial. Um acordo foi firmado com a categoria, mas sem consenso: uma entidade abandonou a reunião na metade e outras duas se recusaram a assinar o documento. O anúncio foi feito sem Maia e Eunício.

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