Documentos apontam negócio entre coronel e grupo Libra

Investigadores encontraram contrato de prestação de serviços com o conglomerado na sede da Argeplan

Letícia Casado Fábio Fabrini
Brasília

Documentos apreendidos pela Polícia Federal indicam que o coronel João Baptista Lima Filho, acusado de arrecadar recursos ilícitos para Michel Temer, fez negócios com o grupo Libra, uma das empresas investigadas por suposto pagamento de propinas ao presidente em troca de vantagens no governo. 

Os investigadores encontraram na sede da Argeplan, de propriedade do coronel, um contrato de prestação de serviços com o conglomerado, que atua no setor portuário. Havia também uma proposta comercial referente à transação, destinada à Libra Port Campinas. 

São os primeiros documentos a indicar elo financeiro entre Libra e o coronel. Os papéis reforçam a tese dos investigadores de que companhias do setor portuário capitalizavam as empresas de Lima, que repassaria recursos a Temer e seus familiares. Ele também atuaria como arrecadador de campanhas para o emedebista.

O inquérito sobre o caso apurava inicialmente se Libra fez doações oficiais ao MDB como contrapartida à renovação de concessões. O grupo nunca admitiu ter feito negócios diretamente com empresas do coronel.

Os documentos foram apreendidos em 29 de março, quando a PF deflagrou a operação Skala, prendendo Lima e aliados de Temer.

Em 4 de abril, ao ser questionado pela Folha sobre contratos com a Argeplan, o grupo Libra não informou sobre eventual vínculo comercial. 

Em depoimento à PF, prestado na véspera e ainda mantido em sigilo, o empresário Gonçalo Torrealba, um dos sócios do Libra, disse que "nunca realizou quaisquer negócios com Lima ou com as suas empresas Argeplan, PDA Arquitetura ou PDA Administração, ou mesmo AF Consult".

Em seguida, os investigadores lhe informaram que, entre os itens apreendidos, havia o contrato e a proposta. 

Torrealba, então, afirmou desconhecer os documentos e se comprometeu "a buscar informações na empresa para esclarecer sobre os contratos trazidos". Ele disse que o diretor-financeiro da empresa era Ronaldo Borges.

O empresário e outros integrantes da família Torrealba foram alvos de mandados de prisão, mas não foram presos porque estavam no exterior.

A Libra conseguiu em 2015 renovar antecipadamente as concessões de três terminais no Porto de Santos, embora discutisse dívidas de mais de R$ 2 bilhões com o governo. A prorrogação foi feita pelo secretário de Portos, Edinho Araújo, aliado de Temer, com base em regra incluída na medida provisória dos portos, de 2013, pelo então deputado Eduardo Cunha (MDB-RJ).

O dispositivo permitia esticar contratos de empresas inadimplentes, desde que o débito estivesse em discussão. 

Em delação, Lúcio Funaro, operador do MDB, disse que a mudança foi feita sob medida para Libra.

À PF, Torrealba disse que conheceu Cunha entre 1990, quando ficaram amigos. Contou ter emprestado dinheiro ao então deputado há cerca de 20 anos para salvar sua casa, mas que se distanciaram, por cerca de 15 anos. Para sua surpresa, o emedebista o procurou em 2012, após a edição da MP, acrescentou.

Torrealba disse que Cunha queria "entender melhor o assunto do portos" e, por isso, os dois marcaram um "jantar social" com as mulheres. 

Eles conversaram "somente sobre amenidades e sobre a questão do decreto dos portos, mas não trataram sobre doação de campanha eleitoral", afirmou. 

O empresário disse ainda que sempre evitou conversar sobre doações com Cunha, "até porque o grupo Libra sempre doou para o PMDB".

O advogado do coronel, Cristiano Benzota, disse que não comentaria, pois não teve acesso aos documentos apreendidos. 

A assessoria de imprensa de Libra não respondeu ao contato da Folha. Em abril, ao ser questionada sobre eventuais contratos, respondeu que o grupo "reitera seu compromisso inarredável com o cumprimento rigoroso das leis e com o esclarecimento dos fatos". "Assim, está fornecendo todas as informações requeridas pelas autoridades competentes", acrescentou.

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