Em dias de tensão, Alckmin se isola; FHC e caciques relatam falta de diálogo

'Não é certo que, quando necessário, ele não fale comigo, pronta e civilizadamente', diz ex-presidente

Thais Bilenky
São Paulo

Vivendo dias de irritação, Geraldo Alckmin (PSDB) se isolou, demonstra desconfiança inclusive de seus auxiliares mais próximos e caciques do PSDB relatam não serem chamados a colaborar com a campanha presidencial do tucano.

Em conversas privadas, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador José Serra já notaram o distanciamento de Alckmin.

“Não falei recentemente com ele, nem seria o caso, mas não é certo que, quando necessário, ele não fale comigo, pronta e civilizadamente”, disse FHC à Folha

O ex-governador nunca foi do círculo mais próximo ao ex-presidente. Nos últimos dias, FHC defendeu o diálogo do PSDB com a pré-candidata Marina Silva (Rede), o que foi interpretado por alguns setores como sugestão de que ela encabeçasse uma chapa na qual Alckmin seria o vice.

“Não propus aliança com a Marina, porque não falo em nome do PSDB e é cedo para isso. Disse apenas que devemos manter as portas abertas para o diálogo político”, afirmou Fernando Henrique.

“Continuarei apoiando o Alckmin; não estou envolvido na campanha, o que não é próprio para minha situação de ex”, concluiu. 

Os ex-governadores Marconi Perillo (Goiás) e Beto Richa (Paraná), ambos em campanha para o Senado, tampouco foram incentivados a atuar pelo presidenciável.

A postura do ex-governador paulista, às voltas com o mau desempenho em pesquisas de intenção de voto, frustra a expectativa no universo político de que ele, como candidato, faça a corte a potenciais articuladores e estrategistas.

Para membros de sua equipe, contudo, o problema das pesquisas, neste momento, é sobretudo inibir a formação e anúncio de alianças com partidos que, vendo a fragilidade de Alckmin, esperam para cobrar mais caro o seu apoio.

Colaboradores confiam em que partidos importantes como PP e DEM só apoiarão Ciro Gomes (PDT) se forem compelidos a fazê-lo. Afirmam que há tempo para recuperar terreno em estados-chave como São Paulo e Minas Gerais para chegar ao segundo turno. 

Segundo o ex-senador José Aníbal (PSDB-SP), Alckmin saberá equacionar adversidades. “Geraldo tem sensibilidade para o jogo do xadrez, tem muita vivência política e capacidade de gestão”, afirmou.

“Certamente isso vai aparecer ao longo da campanha.”

Sem papel formal na campanha, Aníbal é um dos poucos caciques do PSDB com interlocução minimamente frequente com Alckmin.

Outros nomes, inclusive de São Paulo, como o ministro Aloysio Nunes Ferreira (Relações Exteriores) estão afastados —também geograficamente: o chanceler passa boa parte do tempo a trabalho fora do país.

A postura retraída de Alckmin ficou clara no jantar na semana passada, em que, como revelado pela Folha, ele chegou a por a candidatura em dúvida. Em vez de fazer o gesto de pedir a contribuição e acolher sugestões, o tucano se fecha, ressentem-se aliados.

Interlocutores do ex-governador dizem que não há hipótese de desistência e, no entanto, ele acuou. Assim, abre espaço para especulações sobre João Doria substituí-lo na corrida ou Perillo assumir o PSDB —possibilidades descartadas, mas que geram irritação no entorno alckmista.

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