Descrição de chapéu Eleições 2018

Em teste para as eleições de outubro, Tocantins escolhe governador neste domingo

Entre os candidatos estão Kátia Abreu e governador interino que responde a 73 processos

Cecília Santos
Palmas

Quatro meses antes de escolher quem será o governador de Tocantins para os próximos quatro anos, os eleitores do estado vão às urnas neste domingo (3) para eleger quem ficará no posto até dezembro.

Com a cassação, em março, do governador Marcelo Miranda (MDB-TO) por uso de caixa dois, a Justiça Eleitoral determinou realização de eleições suplementares. O vitorioso terá pouco tempo no comando do Tocantins: segue no cargo até 31 de dezembro.

 
O governador interino Mauro Carlesse (PHS-TO) em campanha no Tocantins (Divulgação)
O governador interino Mauro Carlesse (PHS-TO) em campanha em Tocantins - Divulgação

Este será o primeiro pleito estadual com as novas regras de financiamento, que já valeram nas eleições municipais de 2016. Empresas estão proibidas de doar para campanhas, mas os candidatos podem agora fazer campanhas de financiamento coletivo para arrecadar recursos de pessoas físicas.

A legislação eleitoral que valerá para as eleições de outubro permite a propaganda na internet, inclusive com impulsionamento de conteúdo. O teto de gastos por campanha no Tocantins neste primeiro turno é de R$ 4,9 milhões.

São sete os candidatos, entre eles a senadora e ex-ministra Kátia Abreu (PDT), que até novembro era do MDB, partido do governador cassado. 

Apesar de ter sido aliada de Marcelo Miranda na eleição de 2014, nos últimos anos ela já não tinha diálogo com o MDB do Tocantins. O diretório regional foi um dos que apresentaram pedido para sua expulsão.

O colombiano naturalizado brasileiro Carlos Amastha (PSB-TO), prefeito de Palmas até abril, e o ex-juiz Márlon Reis (Rede-TO), um dos idealizadores da Lei da Ficha Limpa, também concorrem ao cargo. 

O governador interino Mauro Carlesse (PHS-TO), que era presidente da Assembleia Legislativa e assumiu o cargo em abril, também estará na disputa. Ele responde a 73 processos na Justiça e já ficou preso durante 26 dias em 2015 por não pagar pensão à ex-mulher.

Essa será a segunda eleição suplementar para escolha de governador na região Norte em menos de um ano. Em 2017, foi a vez do Amazonas.

Com um calendário enxuto, a campanha começou no dia 21 de abril, com as convenções partidárias. Pouco mais de 1 milhão de tocantinenses estão aptos a votar no domingo.

Se houver apenas um turno, a posse será em 18 de junho. Em caso de segundo turno, a eleição será em 24 de junho e a posse, em 9 de julho.

Em 7 de outubro, os tocantinenses voltam às urnas para eleger o governador para o mandato de 2019 a 2023.

Durante pouco mais de um mês de campanha, os candidatos concentraram a agenda em eventos no interior, caminhadas, comícios e reuniões.

Em Palmas, não há clima de campanha. Nas ruas da capital, o que se vê são apenas carros com adesivos de apoio. A disputa demonstra alguma força nas redes sociais.

GOVERNADOR INTERINO

O governador interino também teve o mandato interrompido. Sete dias após assumir e nomear secretários, Carlesse teve que deixar o cargo após o ministro do STF Gilmar Mendes conceder uma liminar permitindo que Miranda retornasse ao posto até o julgamento de recursos.

Os embargos foram rejeitados pelo TSE em 19 de abril, quando Carlesse voltou ao governo e renomeou os secretários antes empossados.

Desde então, Carlesse divide suas atribuições como governador e candidato. Com agenda apertada, seus compromissos vão de reuniões institucionais com o Banco Mundial à distribuição de adesivos para carros no norte do estado. 

Entre as dezenas de processos judiciais dos quais é alvo, estão cartas precatórias criminais e processos de suas empresas. Dono de fazendas, indústrias de tintas e empresas da área de petróleo, ele é citado em ações trabalhistas e tributárias e execuções fiscais.

Ao ser preso em 2015, ele ficou detido na Assembleia Legislativa, por conta da superlotação das cadeias estaduais na época. Sua cela tinha TV, ar condicionado e geladeira, e o então deputado participava das sessões normalmente.

Depois de 20 dias, foi levado para o Quartel do Comando Geral, onde ficou preso por mais seis, em uma sala especial. Foi solto após um acordo sigiloso sobre a pensão com a ex-mulher.

Sobre os processos judiciais, a assessoria do interino diz que a vida privada dele não tem relação com a pública.

“Como todo empresário neste país, Mauro Carlesse se vê obrigado a discutir na Justiça algumas demandas. Sejam elas trabalhistas, fiscais, ou até mesmo com seus sócios. Algo que faz parte da vida privada de quem é empreendedor no Brasil, mas que não tem relação com sua vida pública”, afirma a assessoria.

Em relação à prisão, Carlesse diz que cumpriu uma decisão judicial e que resolveu a questão via acordo.

"Isso não tem qualquer relação com sua vida pública. Pois é uma questão pessoal, de família. E isso é determinado sigilo de Justiça”, diz a assessoria.

APOIO DE LULA

Na disputa no Tocantins, Kátia tem o apoio do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A senadora foi ministra da Agricultura durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff, é amiga da petista e a apoiou no processo do impeachment.

Lula escreveu carta na prisão declarando apoio à pedetista, “por dever de gratidão à lealdade” dela com Dilma. A mensagem foi transmitida pela presidente do partido, senadora Gleisi Hoffmann (PR), em vídeo nas redes sociais.

No início da campanha, o PT nacional tentou obrigar o diretório local a acompanhar a senadora, mas o partido aderiu à campanha de Amastha, que deu ao petista Célio Moura a vaga de vice na chapa. A direção nacional da legenda entrou com pedido de liminar junto ao TSE, que foi negado.

Kátia responde a inquérito na Operação Lava Jato. Ela é investigada por supostamente receber, via caixa dois, R$ 500 mil para sua campanha em 2014. A senadora nega as acusações dos delatores e diz que nunca esteve envolvida em corrupção.


Colaborou Joelmir Tavares, de São Paulo


MANDATO-TAMPÃO

Eleição em Tocantins ocorre sob novas regras eleitorais


Candidatos
Carlos Amastha (PSB)
Mauro Carlesse (PHS)
Vicentinho Alves (PR)
Kátia Abreu (PDT)
Márlon Reis (Rede)
Mário Lúcio Avelar (PSOL)
Marcos Souza (PRTB)

Novas regras

  • Doações financeiras de empresas estão proibidas, a exemplo das eleições municipais de 2016
  • Candidatos podem fazer crowdfunding para arrecadar dinheiro de pessoas físicas
  • Propaganda paga na internet passou a ser permitida, inclusive com impulsionamento de conteúdo. Os candidatos no TO ficaram responsabilizados por informar que se trata de anúncio nos casos em que o site ou rede social não tiver ferramenta para deixar isso explícito
  • A circulação de carros de som com propaganda é vetada, mas os veículos estão liberados em caminhadas, passeatas e comícios
  • O teto de gastos de campanha, antes decidido pelos próprios candidatos, passou a ser estabelecido pela Justiça —é de R$ 4,9 milhões no primeiro turno da eleição suplementar

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