FHC pediu a Marcelo Odebrecht doações para campanhas de tucanos em 2010

Pedido foi feito por e-mail e localizado pela PF nos discos rígidos do computador do empresário

Ana Luiza Albuquerque
Curitiba

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso recorreu a Marcelo Odebrecht para angariar fundos para a campanha ao Senado de dois tucanos em 2010 --Antero Paes de Barros e Flexa Ribeiro.

A informação foi revelada pela revista Veja e confirmada pela Folha.

O pedido foi feito por email e localizado por peritos da Polícia Federal nos discos rígidos do computador do empresário. A troca de mensagens foi anexada aos autos de um dos processos em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é réu.

O primeiro email enviado a Marcelo é de 13 de setembro de 2010, com o assunto "pedido". Nele, Fernando Henrique diz que, recordando da conversa que tiveram em um jantar, envia um "SOS". "O candidato ao senado pelo PSDB, Antero Paes de Barros, ainda está em segundo lugar, porém a pressão do governismo, ancorada em muitos recursos, está fortíssima. Seria possível ajudá-lo? Envio abaixo os dados bancários", escreve FHC.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), durante entrevista à Folha em seu escritório na sede do iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso), em São Paulo (SP)
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), durante entrevista à Folha em seu escritório na sede do iFHC (Instituto Fernando Henrique Cardoso), em São Paulo (SP) - Bruno Santos - 18.abr.2018/Folhapress

Marcelo Odebrecht responde que o ex-presidente pode ficar tranquilo. "Depois aproveito, e lhe dou o feedback dos demais apoios e reforços que fizemos na linha do que conversamos", afirma.

Em outro e-mail, de 21 de setembro do mesmo ano, com o assunto "o de sempre", FHC pede perdão pela insistência e volta a pedir ajuda financeira —desta vez para Flexa Ribeiro, candidato ao Senado no Pará. "Ainda há tempo para eles alcançarem, no caso na verdade é manterem, a posição que os leva ao êxito."

Odebrecht diz que já contatou Antero, que sabe que irão apoiá-lo. "Flexa, não sei dizer, mas vou verificar", escreve.

Dos dois, somente Flexa conseguiu se eleger. Na prestação de contas dos candidatos ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral), não constam registros de doações oficiais da Odebrecht.

INSTITUTO FHC

Em uma troca de emails de dezembro de 2010, com o assunto "iFHC", André Amaro, presidente da Odebrecht Defesa e Tecnologia, diz a Marcelo que, em alinhamento com Emilio Odebrecht, informou a "Daniel" que a empreiteira contribuirá com R$ 1,8 milhões em 24 meses, "conforme acertado no último encontro dos empresários no Instituto".

O empresário responde: "Ele me comentou. Parece que meu pai puxou para cima. Deixe meu pai avisado". 

As mensagens não esclarecem quem é Daniel, que teria dito que talvez contribuísse com menos. "Daniel disse que, talvez, contribua com menos, se posicionando junto a um grupo de empresas relativamente menores", escreve Amaro.

OUTRO LADO

Procurado, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse por meio de sua assessoria de imprensa: "Posso ter pedido, mas era legal. Não sei se deram e não foi a troco de decisões minhas, pois na época eu estava fora dos governos, da República e do Estado."

Em nota, o senador Flexa Ribeiro afirmou que desconhece os emails e o pedido, que não recebeu qualquer contribuição e que não teve contato com a Odebrecht. 

A reportagem não conseguiu contatar o ex-senador Antero Paes de Barros.

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