Léo Pinheiro e Lula conversaram no sítio de Atibaia antes das reformas, diz caseiro

Segundo Maradona, a conversa aconteceu antes das intervenções na cozinha e no lago

Ana Luiza Albuquerque
Curitiba

O caseiro do sítio de Atibaia (SP), Élcio Pereira Vieira, conhecido como Maradona, afirmou ao juiz Sergio Moro nesta quarta-feira (20) que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-presidente da OAS Léo Pinheiro conversaram no local em 2014. 

Segundo Maradona, a conversa aconteceu antes das intervenções na cozinha e no lago. Nesta segunda (18), o encarregado de obras da OAS Misael de Jesus Oliveira disse a Moro que, em 2014, foi convocado para fazer uma reforma no sítio atribuído ao ex-presidente. Durante as obras, a mulher de Lula, Marisa Leticia, teria feitos alguns pedidos específicos a ele.  

Maradona relatou ao juízo que o empresário Fernando Bittar, proprietário formal do sítio, ligou e avisou que Léo Pinheiro iria ao local. "Não participei, só abri o portão, não fiquei por perto, não sei o teor da conversa."

Segundo ele, além de Pinheiro e Lula, também participou da conversa Paulo Gordilho, ex-arquiteto da empreiteira. Maradona disse que Bittar estava na propriedade neste dia, mas que já havia saído no momento do encontro.

Em abril de 2017, Gordilho disse a Moro que foi à casa de Lula, em São Bernardo do Campo, para mostrar o projeto de reforma da cozinha do sítio.

Maradona afirmou que acredita que Gordilho decidiu com Marisa como seria feita a reforma na cozinha. "A dona Marisa gerenciava essa parte da cozinha (...) Totalmente a dona Marisa." O caseiro disse não saber quem pagou pela obra.

Segundo ele, a OAS também chegou a realizar uma impermeabilização no lago, sem sucesso.

O caseiro negou que Lula tenha passado recados sobre as obras por meio dele, como afirmou Misael em depoimento. "O presidente nunca pediu favores nem [que eu mandasse] recados."

Maradona prestou depoimento como testemunha de defesa de ​Bittar e do ex-presidente. Nesta ação, Lula é acusado de ter se beneficiado de R$ 1,02 milhão em benfeitorias no sítio, que teriam sido pagas pela OAS e Odebrecht.

Segundo a acusação, o ex-presidente era o verdadeiro dono do sítio, cujos proprietários formais são os empresários Jonas Suassuna e Fernando Bittar.

ACERVO

Maradona relatou que Bittar o informou que construiria um anexo no sítio para acomodar "alguma coisa".

Questionado por Moro se tais coisas viriam da Presidência, ele confirmou.

Segundo o caseiro, as reformas foram primeiramente tocadas por Emerson [Cardoso] e Igenes [Neto].

Perguntado pelo Ministério Público se estas obras foram pagas por Bittar, ele disse: "Não, não foi. Não sei".

"Esse negócio de arcar com a obras não sei, porque estou lá para abrir o portão", afirmou.

Posteriormente, de acordo com Maradona, o engenheiro Frederico [Barbosa, ex-funcionário da Odebrecht] assumiu as reformas, com uma equipe de 20 a 25 pessoas. O caseiro disse que não sabia qual empresa tocava a obra e que ninguém levava identificação, conforme relatou Barbosa em depoimento

Maradona disse acreditar que o responsável por dar ordens a Barbosa era Rogério Aurélio Pimentel, ex-assessor de Lula. Segundo ele, Aurélio era um funcionário de Marisa, que "levava algumas coisas" para o sítio. 

De acordo com o caseiro, Aurélio anotou seu telefone e o informava quando traria novos itens para a propriedade. Bittar também teria avisado a Maradona que isso aconteceria.

EMAILS

O caseiro também buscou explicar emails trocados com a equipe de segurança do ex-presidente. Em um deles, Maradona se refere ao sítio como "chácara do presidente". 

Segundo ele, houve uma partida de futebol entre o time dos seguranças e o dos amigos de Lula. Em tom de brincadeira, teriam dito que quem ganhasse o jogo ficaria com o sítio. "O presidente ganhou e intitulei chácara do presidente", afirmou.

O caseiro também relatou que Marisa pediu que informasse por email sobre qualquer assunto relacionado à horta ou aos bichos do sítio. "Ela adorava as hortas e os bichos. Era o que mais gostava de fazer", disse. 

Maradona afirmou, ainda, que quando surgiu a ideia de o ex-presidente comprar o sítio, em 2015, Bittar pediu que ele avisasse caso encontrasse alguma propriedade próxima. Isso porque seu pai, Jacó Bittar, não queria vender a chácara.

Entre os emails, um conta com uma foto anexada. Nela, aparecem Lula e um senhor. "É o meu pai. Veio da Bahia. Pedi para o Fernando [Bittar] se poderia trazer meu pai para conhecer ele [Lula]."

Maradona também avisou a equipe do ex-presidente quando procuradores da força-tarefa estiveram na casa de seu irmão para fazer indagações. "Achei interessante passar para o presidente porque achei que era do interesse dele também", disse.

Ele afirmou que a faxineira Lena, sua cunhada, também recebeu uma visita dos procuradores. "Não entendo por quê. Não tinha mandado de busca, de condução coercitiva. Pegaram ela e trouxeram para o sítio para fazer interrogatório", relatou. Segundo Maradona, seu sobrinho de oito anos precisou acompanhar a mãe porque não poderia ficar sozinho em casa.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.