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Papéis comprovam uso de dinheiro vivo para pagar obra de filha de Temer

Depoimento de fornecedor liga depósito de R$ 56 mil a um contrato assinado por Maristela Temer

Camila Mattoso
Brasília

Documentos em poder da Polícia Federal comprovam o uso de dinheiro vivo no pagamento da reforma da casa de Maristela Temer, filha do presidente Michel Temer. 

Maristela Temer em 2010, durante jantar oferecido a seu pai, Michel Temer
Maristela Temer em 2010, durante jantar oferecido a seu pai, Michel Temer - Mastrangelo Reino - 23.set.2010/Folhapress

Um depoimento de um fornecedor liga um depósito de R$ 56.500,00 em espécie a um contrato assinado por Maristela. E um extrato bancário mostra que esse depósito de fato ocorreu conforme o contrato acordado.

O valor seria a primeira parcela de uma prestação de serviço para a obra no imóvel dela, em São Paulo.

O mesmo depoimento afirma que o pagamento em espécie ocorreu a pedido da arquiteta Maria Rita Fratezi, mulher do coronel João Baptista Lima Filho, amigo do presidente e suspeito de ser intermediário de propinas para o emedebista. 

Extrato bancário confirma o depósito de R$ 56.500,00 em espécie na conta da empresa, no Citibank, no dia 11 de julho de 2014
Extrato bancário confirma o depósito de R$ 56.500,00 em espécie na conta da empresa, no Citibank, no dia 11 de julho de 2014

Os papéis foram entregues à PF por Antonio Carlos Pinto Júnior, que prestou depoimento no dia 29 de maio. A Folha teve acesso ao material.

Sua empresa, Qualifac, Fac Comércio de Acabamentos Ltda, foi um dos fornecedores da obra de Maristela.

A reforma é investigada pela PF sob a suspeita de que o presidente tenha lavado dinheiro de propina com reformas em imóveis de familiares e em transações imobiliárias em nomes de terceiros, na tentativa de ocultar bens. Temer nega as suspeitas.

 
Contrato de prestação de serviço assinado por Maristela Temer, filha do presidente, com a empresa Qualifac
Contrato de prestação de serviço assinado por Maristela Temer, filha do presidente, com a empresa Qualifac

Entre os papéis entregues pelo fornecedor está o contrato de prestação de serviço entre a empresa e Maristela. Ela assina o documento ao lado de Pinto Júnior. 

No cabeçalho do orçamento aparece o nome da mulher do coronel.

O documento detalha o orçamento de R$ 120.960,00, prevendo uma entrada no valor de R$ 56.500,00, no dia 11 de julho de 2014. 

Pelo contrato, esse pagamento de R$ 56.500,00 seria feito por meio de "depósito em dinheiro" em uma conta do Citibank.

O extrato da empresa informa que no dia 11 de julho de 2014, conforme estipulava o contrato, foi feito um depósito em espécie neste valor. 

No depoimento à PF, o fornecedor afirmou que Maria Rita, mulher do coronel Lima, pediu para pagar a primeira parcela em espécie. 

Segundo ele, ela "insistiu" para repassar em dinheiro vivo os recursos. "O que não foi aceito pelo depoente, pois não aceita essa prática de recebimento em espécie em sua loja", diz trecho do depoimento.

Pinto Júnior então afirmou, de acordo com a transcrição da PF: "que então foi acordado por Maria Rita e o depoente que seria feito um depósito na conta corrente da empresa do depoente, como de fato o fez, no banco Citibank, na data de 11/07/2014". 

O fornecedor disse também que "não é normal" no seu ramo a "insistência" por valores altos em dinheiro vivo.

Outros fornecedores da obra já declararam terem recebido em dinheiro vivo de Maria Rita, mas este extrato é o primeiro documento vinculando essa prática de pagamento ao caso.

A outra metade dos serviços prestados pela Qualifac, segundo o depoimento, foi dividida em parcelas menores a serem pagas até novembro daquele ano por meio de boletos bancários.

Ele contou que teve um encontro de três minutos com Maristela Temer, na recepção do consultório dela de psicóloga, para assinatura do contrato. 

O contrato foi assinado no dia 29 de julho, portanto depois do depósito em espécie. 

A empresa forneceu, entre outras coisas, janelas, persianas e esquadrias.

SUSPEITAS
As suspeitas sobre a obra integram o inquérito que apura se houve pagamento de propina em um decreto do setor portuário, editado pelo governo Temer em maio de 2017.

A PF apura se Temer recebeu, por meio do coronel Lima, propina da empresa Rodrimar em troca da edição do decreto que teria beneficiado companhias que atuam no porto de Santos.

Para investigadores, a origem do dinheiro das obras são a JBS e uma empresa contratada pela Engevix. Executivos da JBS afirmaram em delação que repassaram R$ 1 milhão a Temer, com intermediação do coronel, em setembro de 2014. 

OUTRO LADO
A Folha procurou as defesas de Lima, de Maristela, e o Palácio do Planalto, que não se manifestaram.
Em depoimento à Polícia Federal no dia 3 de maio, Maristela disse que seu pai indicou o coronel para ajudá-la na reforma de sua casa, em 2014, mas que a fez conta própria e que a mulher de Lima apenas a ajudou, sem receber por isso.

Sobre os pagamentos a fornecedores feitos por Maria Rita, a filha de Temer disse que a ressarcia das despesas, mas "que não sabe precisar a forma do ressarcimento, uma vez que em algumas ocasiões repassava para Maria Rita Fratezi também em espécie, fruto de sua remuneração recebida de pacientes em seu consultório, e outras vezes também em cheques".

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