Prefeito de São Caetano é denunciado sob acusação de caixa dois e organização criminosa

Metade do valor arrecadado pelo tucano José Auricchio Jr. em campanha é irregular, segundo denúncia

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São Paulo

Já na era pós-Lava Jato, a eleição municipal de 2016 não escapou a práticas ilegais reveladas pela operação. A Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo denunciou nesta terça-feira (12) o prefeito de São Caetano do Sul, José Auricchio Jr, e o vice Roberto Luiz Vidoski, ambos do PSDB, por caixa dois e organização criminosa.

Segundo a investigação, os candidatos vitoriosos arrecadaram mais da metade (54%) da receita da campanha por meio de doações dissimuladas, "o que coloca em xeque a própria legitimidade do pleito de 2016 no município", disse a PRE, em nota.

Os recursos teriam também abastecido o caixa do PSDB local. Outras sete pessoas foram denunciadas.

A suspeita é que os tucanos tenham disfarçado a origem de recursos atribuindo-os a laranjas cujas condições socioeconômicas seriam incompatíveis com as supostas doações. Uma das pessoas físicas estaria inclusive hospitalizada.

Procurada, a Prefeitura de São Caetano do Sul ainda não se manifestou.

Em passagem anterior pela prefeitura municipal, de 2005 a 2012, Auricchio foi condenado por improbidade por ter usado dinheiro público para se promover distribuindo um cartão de Natal.

A despeito da condenação, Auricchio foi alçado à Secretaria de Estado de Esportes do governo Alckmin (PSDB), em 2013.

Procuradas, a Prefeitura de São Caetano do Sul e a empresa Globo Contábil ainda não se manifestaram.

José Auricchio Jr (PSDB), prefeito de São Caetano do Sul, no ABC Paulista - Zanone Fraissat -25.mar.2013/Folhapress

De acordo com a denúncia da PRE-SP, a organização criminosa foi montada em torno da empresa Globo Contábil e seu proprietário, Eduardo Abrantes, cujos funcionários e familiares foram usados para camuflar os recursos arrecadados pela campanha.

"A principal conta bancária utilizada foi a de Ana Maria Comparini Silva, pessoa humilde e pensionista do INSS, pela qual transitaram cerca de R$ 1,4 milhão, dinheiro que abasteceu direta ou indiretamente a campanha eleitoral e o partido", afirmou a PRE. 

Comparini é a mesma pessoa física que aparece como doadora da campanha do vereador Camilo Cristófaro (PSB), cujo mandato foi cassado pela Justiça Eleitoral na semana passada por captação ilícita de recursos financeiros durante as eleições.

A eleição de 2016 foi a primeira na qual doação de empresa estava vetada. A campanha de Auricchio Jr. procurou, no entanto, driblar a nova legislação, segundo a Procuradoria.

"A maior depositante que abasteceu a conta de Comparini foi a empresa Almeida & Dale Galeria de Arte LTDA, tradicional galeria de artes localizada no bairro dos Jardins em São Paulo, que depositou mais de R$ 500 mil, fato que revela o total desrespeito à proibição de financiamento empresarial, já que as pessoas físicas que figuraram como doadoras serviram como meras repassadoras de recursos", concluiu a Procuradoria.

A denúncia foi apresentada ao TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral). Segundo a Procuradoria, os crimes, se confirmados pela Justiça, podem resultar em penas superiores a 30 anos de prisão, além de perda do cargo público, inelegibilidade e multas. Foi solicitada indenização material e moral de R$ 6 milhões.

A PRE ainda pediu instauração de inquérito policial para investigar indícios de que a Justiça Eleitoral foi utilizada para lavagem de dinheiro.

OUTRO LADO

Os advogados do prefeito divulgaram nota afirmando que "se trata de opinião do Ministério Público Federal, ainda pendente de apreciação pelo Tribunal Regional Eleitoral".

E que o prefeito está à disposição da Justiça Eleitoral para prestar todos os esclarecimentos necessários: "Tem certeza da correção de sua conduta, confia na Justiça e acredita que os fatos serão elucidados."

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