Após Justiça afastar ministro, Temer escolhe advogado para comandar Trabalho

Caio Luiz Mello vai assumir o lugar de Helton Yomura, suspeito de fraude em registros sindicais

Talita Fernandes Laís Alegretti
Brasília

O presidente Michel Temer escolheu nesta segunda-feira (9) o advogado Caio Luiz de Almeida Vieira de Mello como novo ministro do Trabalho.

A posse foi marcada para a tarde desta terça (10), em Brasília.

O cargo era ocupado interinamente pelo ministro Eliseu Padilha, que acumulava a função com a chefia da Casa Civil desde quinta-feira (5). 

Padilha foi escolhido para cuidar do Trabalho após o afastamento de Helton Yomura, por decisão da Justiça.

O então titular pediu demissão no dia 5 sob suspeita de ter ligação com um esquema de fraudes na liberação de registros sindicais. 

Em relatório da Operação Registro Espúrio, a Polícia Federal sustenta que Yomura foi alçado ao cargo para perpetuar o suposto esquema criminoso liderado por seus padrinhos políticos, o presidente nacional do PTB, Roberto Jefferson, e a filha dele, deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ).

Vieira é mineiro, atua no escritório Sergio Bermudes e é desembargador aposentado do TRT da 3ª Região.

Conhecido por integrantes da justiça trabalhista por ter perfil mais conservador, Caio Vieira de Mello é irmão do ministro do TST (Tribunal Superior do Trabalho) Luiz Philippe Vieira de Mello Filho -- que, ao contrário, é um dos principais críticos à reforma trabalhista na corte.

Ao enfatizar o quanto o posicionamento dos dois é divergente, um profissional que atua junto à Justiça do Trabalho afirmou que os irmãos de Minas Gerais certamente torcem para times diferentes.

Além de dizer que é "cruzeirense roxo" e que Caio torce para o América Mineiro, o ministro do TST afirmou à Folha que as convicções dele "são conhecidas", que respeita a decisão do irmão em assumir o cargo, mas que prefere não comentá-la.

De acordo com o ministro Carlos Marun (Secretaria de Governo), Vieira é uma escolha pessoal de Temer e não houve nenhuma consulta a partido político para que ele fosse nomeado para o cargo.

"Tratou-se de uma escolha pessoal do presidente da República. Eu, que sou responsável pela articulação política, fiquei sabendo esta tarde, quando presidente praticamente tinha escolhido", acrescentou. 

Questionado sobre o papel do PTB na nomeação, sigla que até então ocupava o Ministério do Trabalho, Marun referiu-se à atuação da legenda no passado e afirmou que o novo ministro tem liberdade para escolher sua equipe.

"O PTB é um partido que participa do governo, que prestou um grande trabalho ao Ministério. A reforma trabalhista é um legado que o PTB deixa durante sua passagem."

Questionado sobre a escolha de Vieira de Mello, o presidente da Anamatra (Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho), Guilherme Feliciano, disse que a escolha "parece feliz".

"Diante dessa dança das cadeiras que houve até aqui, você agora ter alguém efetivamente escolhido do seio da magistratura é um bom começo", afirmou.

ESCÂNDALO NO TRABALHO

O Ministério do Trabalho foi alvo de uma série de escândalos recentemente envolvendo seus titulares. Yomura foi alvo, na última quinta (5) de nova fase da Operação Registro Espúrio, que apura irregularidades envolvendo registros de sindicatos.

Temer enfrentou uma batalha judicial depois de tentar nomear a deputada federal Cristiane Brasil (PTB-RJ) para comandar a pasta. Ela foi impedida por decisão da Justiça e também é alvo da Registro Espúrio.

Na noite de quinta, o presidente nomeou um de seus principais aliados, ministro Eliseu Padilha, para ocupar o cargo. A escolha se deu depois de o governo avaliar que os secretários que ocupam o Ministério também podem estar envolvidos no esquema apurado pela Polícia Federal. O ex-secretário-executivo da pasta, Leonardo José Arantes, estava fora da função depois de ter sido preso em junho.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.