Descrição de chapéu Eleições 2018

Ciro faz aceno à esquerda e ao empresariado para tentar romper isolamento

Em convenção do PDT, candidato citou Lula e disse é preciso unir forças para mudar o país

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Brasília

Frustrado com a desistência do bloco do centrão em apoiá-lo, Ciro Gomes utilizou o lançamento oficial de sua candidatura presidencial para tentar reverter cenário de isolamento político no qual se encontra desde a última quinta-feira (18).

Em um discurso calculado, o candidato do PDT ao Palácio do Planalto ocupou a maior parte de seu pronunciamento na defesa de bandeiras de esquerda, no esforço de atrair o PSB e o PCdoB, e fez promessas ao setor empresarial, em estratégia para tentar se desvincular da imagem de inimigo do mercado.

A decisão dos partidos de centro em apoiar Geraldo Alckmin, do PSDB, alterou o humor do presidenciável. Fora do palco da convenção partidária, ele manteve semblante sério e evitou os veículos de imprensa, postura também adotada na noite de quinta.. 

Em conversas reservadas, a equipe de campanha reconhece que aumentou a pressão sobre ele da necessidade de fechar um acordo com os partidos de esquerda, evitando que a candidatura do pedetista perca musculatura e espaço para o PT.

O candidato chegou a esboçar para o evento partidário, em Brasília, um discurso mais afinado ao centro para agradar as siglas do bloco formado por DEM, PP e PR. Com o recuo deles em apoiá-lo, fez alterações e o aproximou mais ao campo da esquerda.

A uma plateia de militantes, fez questão de citar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso em Curitiba, e disse que o povo já viu, no passado recente, "que é possível ser diferente quando o governo federal é conectado com o povo" e defendeu a manutenção das atuais políticas sociais.

"Depois de tudo o que houve com Lula, a nossa responsabilidade aumenta muito. São 207 milhões de pessoas que temos que vestir, empregar, garantir que se alimentem e tenham cuidado médico decente", disse.

Ele pediu o apoio a "todas as forças políticas que realmente tenham compromisso com o país" e que tenham espírito público e "amor ao nosso povo". O candidato fez inúmeras referências à necessidade de priorizar aqueles que mais precisam.

Sem ter fechado nenhuma aliança até agora, a convenção partidária só teve a presença de pedetistas, como o presidente Carlos Lupi, o ex-governador Cid Gomes (Ceará), o ex-ministro Manoel Dias (Trabalho) e o prefeito Roberto Cláudio (Fortaleza). 

Sozinho, o PDT tem apenas 33 segundos de tempo no horário eleitoral na televisão, fatia que costuma ser apresentada por candidaturas chamadas de nanicas. Para atrair as duas siglas, ele tem tentado polarizar a disputa presidencial com Jair Bolsonaro, do PSL.

No discurso durante o evento, ele defendeu propostas na área de segurança pública, como o reforço na atuação da Polícia Federal no combate ao crime organizado e na criação de uma força policial de fronteira, fez referências ao capitão reformado, mas sem citá-lo nominalmente. Segundo ele, é preciso "acabar com a política do ódio".

Rechaçado pelo setor empresarial, Ciro afirmou que as mudanças no país não serão feitas apenas pela classe trabalhadora, mas também por aqueles que estão na indústria, na produção e no comércio.

"Não é só com os trabalhadores e os pobres a quem devo primeiro a minha atenção. O colapso da economia brasileira atinge também, de forma grave, aqueles que estão na ponta da nossa indústria", disse.

No início de julho, Ciro foi vaiado por empresários em evento promovido pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) ao dizer que revogaria pontos da reforma trabalhista. Nesta semana, causou mal-estar no setor empresarial ao enviar uma carta se posicionando pela interrupção das negociações entre Embraer e Boeing.

A prévia de seu programa de governo, antecipada pela Folha e divulgada na convenção, também trouxe propostas ao setor empresarial. O documento critica o fechamento de indústrias no país por causa da crise econômica e defende uma maior atuação do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para o aumento do investimento público.

"Pretendemos investir em obras de infraestrutura em cerca de R$ 300 bilhões por ano, através de investimento público ou estimulando o setor privado a fazê-lo", ressaltou.

Para a esquerda, a prévia do programa garante a manutenção do Bolsa Família, do BPC (Benefício da Prestação Continuada) e do ProUni e, "na medida da necessidade", a sua ampliação. Ela prega ainda a criação de políticas afirmativas para mulheres, negros e homossexuais.

"Para dar exemplo inicial e importante, sem ser suficiente, buscaremos igualar o número de homens e mulheres nas posições de comando no governo federal", disse.

Criticado pela estilo verborrágico, o candidato reconheceu que comete erros e que nunca teve a pretensão "de ser um anjo". Ele afirmou que o seu estilo direto foi herdado de sua família, que é intransigente com a "imoralidade" e com o "descompromisso popular".

"Não sou superior, nem imune nem vacinado a erros. Tenho trabalhado praticamente dez horas por dia e a minha ferramenta de trabalho é a palavra. Evidentemente que posso errar aqui e ali, porque nunca tive a pretensão de ser um anjo", disse.

A postura imprevisível e o temperamento forte dele vinha trazendo insegurança e sendo atacado pelo bloco do centrão. "Querem desgastar o carteiro para que o brasileiro não leia a carta", disse Ciro, em referência às críticas.

No mesmo evento, aliados do presidenciável defenderam seu estilo explosivo. "A maior crítica que fazem a ele é que ele é duro nas palavras. Como ser mole em um país com tanta desgraça, com um golpista no Palácio do Planalto", questionou Carlos Lupi.

Segundo o coordenador geral da campanha, Cid Gomes, seu irmão continuará "franco e sincero". Ele lembrou da polêmica envolvendo o vereador Fernando Holiday (DEM-SP), que foi chamado de "capitãozinho do mato" por Ciro.

"Um grande problema da causa negra no Brasil são negros a serviço da Casa Grande. Quando isso acontece no mundo da política, o Ciro denuncia. E isso muitas vezes cria problemas e traz antagonismos", disse.

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