Ex-secretário do Rio diz que empresário era cartão de visitas para multinacionais

Italo Nogueira
Rio de Janeiro

​​

O ex-secretário da Saúde do Rio de Janeiro Sérgio Côrtes afirmou que o empresário Miguel Iskin, preso na quarta-feira (4) na Operação Ressonância,  era uma “garantia de sucesso” para diversas multinacionais no país. 

Também alvo das investigações, o ex-secretário afirma que nunca discutiu propina com as firmas internacionais. Mas diz que todas sabiam do relacionamento próximo entre ele e Iskin e se beneficiaram disso.

Ex-diretor do Into (Instituto Nacional de Traumatologia e Ortopedia), ele mencionou ainda o envolvimento de outros três empresários no esquema: Stuessel Amora, da WM, Ely Dabasons e outro identificado como Marco Aurélio, da Per Prima. Esta última firmou acordo de leniência com o Conselho Administrativo de Defesa Econômica.​

O CEO da GE, Daurio Speranzini, um dos alvos desta operação Ressonância, que investiga fraude na Saúde no Rio, chega à sede da PF em SP após ser preso
O CEO da GE, Daurio Speranzini, um dos alvos desta operação Ressonância, que investiga fraude na Saúde no Rio, chega à sede da PF em SP após ser preso - Aloisio Mauricio /Fotoarena/Folhapress

“Os fabricantes das multinacionais tinham conhecimento da importância desse contato ser intermediado por essas quatro empresas, como uma ‘garantia de sucesso’ para a manutenção das relações comerciais e futuras vendas”, disse Côrtes na quinta-feira (5) à Polícia Federal. 

Ele relatou ter recebido propina apenas de Iskin, o que já havia confessado à Justiça Federal. Estão sob investigação multinacionais como Philips, Johnson & Johnson e outras grandes especializadas em medicina.

O principal executivo da GE na América Latina, Daurio Speranzini Junior, teve a prisão temporária convertida em preventiva, sem prazo para terminar. Ele é investigado principalmente por fatos relacionados ao período em que esteve na Philips, até 2010.

Iskin é apontado como o organizador do cartel em pregões internacionais na Secretaria de Saúde e no Into desde 1996. As investigações apontam que ele cobrava até 40% de comissão dos fabricantes de produtos para garantir a vitória nos certames.

Este valor era usado, segundo o Ministério Público Federal, para pagar propina a agentes públicos. Côrtes disse que “acredita que existia um tipo de ajuste entre os quatro fornecedores [nas licitações]”. Declarou, porém, não saber de que forma isso se dava.

Em março, o ex-secretário já havia relatado ao juiz Marcelo Bretas como Iskin tinha vantagem competitiva sobre os concorrentes: “O Miguel conhecia todos os nosso grandes projetos para a área da saúde. Ele já tinha conhecimento, ia às fábricas fazer grandes negociações pelo volume que seria de aquisição de materiais, e com isso ele conseguia grandes descontos”, afirmou o ex-secretário na ocasião.

“Não existia superfaturamento, mas a margem [de lucro] dele era muito grande. Desta margem é que vinha o dinheiro para mim”, disse em interrogatório Côrtes, que devolveu US$ 4,2 milhões depositados no exterior à Justiça Federal.

O ex-secretário tentou, sem sucesso, fazer um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal. A confissão dele é vista com reservas na Procuradoria. Investigadores avaliam que ele não relatou todos os fatos criminosos de que se beneficiou.

OUTRO LADO

A defesa de Miguel Iskin afirmou que o empresário nega as suspeitas levantadas pelo MPF. Afirma que “não houve licitação vencida pela Oscar Iskin [nome da firma] na qual o preço não fosse o de mercado, ou seja, o correto”.

Também nega ter pago propina a qualquer agente público. A reportagem não conseguiu localizar Amora e Dabasons nos telefones de suas empresas.

A Philips afirmou que “está cooperando com as autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos quanto às alegações apresentadas”. 

A Johnson & Johnson declarou que “segue rigorosamente as leis do país e está colaborando com as investigações”.

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.