Família Bivar cede controle, mas segue na direção de partido de Bolsonaro

Clã entregou presidência do PSL para aliados do deputado, porém mantém postos-chave na sigla

José Marques
Recife

Quando o PSL filiou o deputado Jair Bolsonaro (RJ) com o objetivo de lançá-lo à Presidência, uma das críticas mais fortes contra a aliança partiu de um membro da família que dominava, até então, o partido.

“Devo me desfiliar do partido”, disse Sérgio Bivar em uma carta interna que vazou ao público. Ele comparava Bolsonaro a Lula e o chamava de candidato “com ares messiânicos de justiceiro” que “surfa na demagogia”.

Seis meses depois, ele continua filiado à legenda e faz parte do diretório nacional —embora tenha apresentado formalmente pedido de desfiliação em fevereiro.

Apesar de terem entregue o comando do partido ao advogado Gustavo Bebianno, assessor de Bolsonaro, os Bivar continuam a ocupar postos-chave na direção para não abrir mão da legenda. 

Sérgio é filho de Luciano Bivar, que foi presidente do Sport Club do Recife e é considerado dono do PSL desde que o partido teve seu registro deferido pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral), em 1998.

Há seis membros da família Bivar no diretório nacional, entre eles Luciano e seus três filhos, além de aliados.

Entre pessoas próximas, a avaliação é que entregaram os anéis para não perder os dedos —nanico, o partido corria risco de extinção com a aprovação da cláusula de barreira.

Luciano Bivar, que atualmente é suplente de deputado, licenciou-se da presidência sob o trato de voltar ao comando no ano que vem, segundo membros do PSL. Oficialmente, ele nega.

“Tudo é especulação, o partido não tem nada temporário”, disse à Folha Luciano Bivar, que voltará a se candidatar a deputado federal neste ano. “Eu sempre sou licenciado do partido. Sou uma espécie de presidente de honra, de modo que sempre há algum executivo que está na presidência.”

Com Bolsonaro, o PSL cresceu na Câmara e passou de um para oito deputados. Mas teve que abdicar de negociações que vinha fazendo com deputados do chamado grupo de “cabeças pretas” do PSDB.

Os tucanos eram simpáticos ao Livres, um movimento de jovens liberais contrário a Bolsonaro que tentava ser majoritário no partido. Sérgio faz parte do grupo, que abandonou o PSL e se diz suprapartidário atualmente.

No final do ano passado, Luciano Bivar negociava simultaneamente com os cabeças pretas e com Bolsonaro.

Numa terça-feira, ele se reuniu com o deputado Daniel Coelho (ex-PSDB, hoje PPS) e membros do Livres e se comprometeu com o grupo. Mas, dois dias depois, na quinta, fechou aliança com Bolsonaro.

A decisão provocou revolta de membros do movimento, inclusive de Sérgio, que havia sido vice-candidato a prefeito do Recife na chapa de Daniel Coelho em 2016.

Outra parte de incentivadores do Livres ligada a Bivar, como o ex-presidente da legenda Antônio de Rueda, se manteve no partido. Hoje, além de fazer parte do diretório nacional, ele é presidente do partido em Pernambuco.

Procurado, Rueda diz que “tem afeição pelo pessoal do Livres e isso não mudou”, mas vê em Bolsonaro um candidato com “ideias coerentes” e que representa um “anseio popular” para o partido.

Já Sérgio diz que não apoia Bolsonaro, que está afastado da vida partidária e irá trabalhar pelos candidatos do Livres em outros partidos.

Além de Gustavo Bebianno, assessor de Bolsonaro, ser hoje presidente em exercício do partido, as vice-presidências também são ocupadas por aliados do deputado.

Luciano Bivar, como presidente licenciado, diz que nada mudou na legenda e que foi procurado pelo candidato porque não está envolvido na Lava Jato nem em outras operações.

“Nosso objetivo maior é a eleição de Bolsonaro, que é um liberal, defensor da Constituição da República dentro do liberalismo”, afirma.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.