Farol do centrão, Valdemar foi de FHC a Lula, do mensalão à Lava Jato

Ex-deputado é uma das figuras de destaque na negociação que envolveu 4 dos 5 principais candidatos

Ranier Bragon
Brasília

Ele teve o nome envolvido nos dois maiores escândalos da história recente do país, renunciou ao mandato duas vezes, foi preso, não tem filiação partidária e há cinco anos não dá declarações públicas.

Mesmo assim, Valdemar Costa Neto, 68, se transformou em uma das principais figuras da atual negociação de bastidor que envolveu 4 dos 5 principais candidatos a ocupar a cadeira da Presidência da República.

Por vários dias, deu a entender que daria a musculatura política necessária ao vice-líder das pesquisas, Jair Bolsonaro (PSL). Negociava também com o PT de Lula.

Por fim, alimentou as esperanças de Ciro Gomes (PDT), até ser o fio condutor do centrão na promessa de adesão a Geraldo Alckmin (PSDB).

Parlamentares e líderes de partidos do Centrão na porta da casa do presidente da câmara deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ). Na foto o líder do PR Valdemar Costa Neto e o líder do governo na Câmara,  deputado  Aguinaldo Ribeiro (PP-PB).
Políticos do Centrão fazem reunião na casa do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Valdemar Costa Neto, líder do PR (a dir.) - Pedro Ladeira/Folhapress

"Boy", como é seu apelido em Mogi das Cruzes (SP), cidade em que o pai foi prefeito, ingressou na política no final dos anos 70, na Arena, o partido de sustentação política do regime militar.

Com o fim do bipartidarismo, foi para o PDS, o herdeiro da Arena, saindo de lá depois para o PL (Partido Liberal), legenda que após uma fusão viria a se transformar no atual PR, sigla que vive a sui generis situação de ser comandada, na prática, por um político que nem a seus quadros pertence mais.

Tendo começado a trabalhar na gestão do pai em Mogi, Valdemar foi diretor-administrativo da Companhia Docas do Estado de São Paulo de 1985 a 1990.

Nesse ano, se elegeu para o primeiro de seus seis mandatos de deputado federal.

No Carnaval de 1994 já exibia poder e influência política vistosos, a ponto de ser o dono do camarote da Sapucaí frequentado por ninguém menos que o presidente da República. Na ocasião, Itamar Franco foi fotografado ao lado de uma modelo sem calcinha durante os desfiles.

Valdemar apoiou a eleição de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) naquele ano, mas logo no início rompeu com o governo tucano após a demissão de um apadrinhado. A sua volta à órbita do poder se daria só em 2003, agora ao lado do PT.

A partir dali começariam seus problemas mais graves com a Justiça.

O acordo para o apoio do PL a Lula foi fechado em R$ 10 milhões, dinheiro que descobriu-se mais tarde saiu em parte do esquema operado por Marcos Valério, o pivô do mensalão.

Após o escândalo vir à tona, Valdemar acabou renunciando ao mandato de deputado em 2005. Voltou a se candidatar e se eleger em 2006. Em 2013, porém, foi condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 7 anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no julgamento do mensalão.

Renunciou novamente ao mandato em dezembro daquele ano, e seguiu para a prisão. Em 2016, recebeu perdão do STF após cumprir um quarto da pena.

Nesse mesmo ano, voltou a se enroscar em um escândalo, dessa vez na Lava Jato, por causa da delação do grupo Odebrecht.

Dois executivos o acusaram de receber propinas nas obras da Ferrovia Norte-Sul. Seu grupo político teria ficado com 4% do valor do contrato da empreiteira com a Valec.

Solto ou preso, Valdemar quase sempre exerceu influência nos governos do PT, especialmente na área de Transportes.

Mas o que explica tanto poder no PR e nos partidos do centro, em todos esses anos? A habilidade de negociador, a ampla rede de apadrinhados e influência que estabeleceu na máquina federal e a firmeza no cumprimento de acordos fechados são pontos citados por congressistas. O fato de não ter incriminado colegas, nem no mensalão nem no petrolão, também é destacado.

Como de hábito, Valdemar não quis se manifestar.

Sobre a investigação da Lava Jato, a assessoria de imprensa do PR afirmou que em respeito às investigações Valdemar tem por norma não comentar ações que podem ser objeto de análise do Poder Judiciário. Sobre o mensalão, suas últimas falas sobre o tema foram a de que decisão da Justiça não se discute, se cumpre.

Ex-deputado já renunciou duas vezes

Valdemar Costa Neto, 68

  • Foi deputado federal em seis mandatos
  • Renunciou por duas vezes
  • A última em 2013, quando foi condenado a 7 anos e 10 meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por envolvimento no esquema de desvio de recursos públicos e compra de apoio político no Congresso durante os primeiros anos do governo Lula.
  • Em sua carta de renúncia, ele diz que o ato foi para não impor ao Parlamento a oportunidade de mais um constrangimento institucional.
  • “Certo que pagarei pelas faltas que já reconheci, reitero que fui condenado por crimes que não cometi”, escreveu à época.
  • Também teve cargos na Prefeitura de Mogi das Cruzes (SP), cidade onde seu pai foi prefeito.
  • Mas o que explica tanto poder no PR e nos partidos do centro, em todos esses anos? A habilidade de negociador, a ampla rede de apadrinhados e influência que estabeleceu na máquina federal e a firmeza no cumprimento de acordos fechados são pontos citados por congressistas.
  • O fato de não ter incriminado colegas, nem no mensalão nem no petrolão, também é destacado.
Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do informado em versão anterior deste texto, Valdemar Costa Neto foi deputado federal por seis mandatos, e não deputado estadual

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