Gregori diz que Bolsonaro mostrou ser defensor de fuzilamentos seletivos

Advogado ativista de direitos humanos foi chamado de "guerrilheiro de garganta" por Bolsonaro

Flávio Ferreira
São Paulo

O advogado ativista de direitos humanos e ex-ministro da Justiça José Gregori, 87 anos, afirmou que o candidato à Presidência da República e deputado federal Jair Bolsonaro (PSL-RJ) mostrou ser favorável à realização de “fuzilamentos seletivos” contra adversários políticos em sua participação no programa Roda Viva da TV Cultura na segunda-feira (30). 

Ao responder a questionamento feito pelo advogado relativo a execuções no período da ditadura militar, Bolsonaro disse que à época Gregori “não merecia atenção” pois tinha “biotipo” de “guerrilheiro de garganta”.

 
De pé, o advogado ativista de direitos humanos e ex-ministro da Justiça José Gregori em evento em São Paulo
O advogado ativista de direitos humanos e ex-ministro da Justiça José Gregori em evento em São Paulo - Bruno Poletti - 4.out.2016/Folhapress

Em pergunta gravada exibida no programa, o advogado indagou a Bolsonaro se o deputado havia afirmado na tribuna da Câmara dos Deputados que um dos erros do regime militar teria sido não mandar fuzilar a ele e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

A resposta de Bolsonaro, ao vivo no programa, foi: “Olha, quanto ao FHC eu falei. Quanto ao teu nome, você não merecia essa atenção toda não, até porque um guerrilheiro com o teu biotipo, acho que não procede, é um guerrilheiro de garganta. Então eu não me referi a você”.

E emendou: “Agora, na tribuna da Câmara eu tenho imunidade para falar o que eu bem entender, gostem ou não. Agora, não é justo que dos quase 30 processos ou representações que eu tive dentro da Câmara, metade foi por ter ocupado a tribuna. É esse tipo de gente que fala em democracia e fala em liberdade de expressão”.

Nesta terça-feira (31), Gregori disse à Folha que tinha a expectativa de que Bolsonaro fosse negar a fala no Congresso quanto à execução dele e de Fernando Henrique Cardoso.

“O fato de não ter feito mostra que ele é a favor do fuzilamento. Só que achou que eu não tenho a periculosidade, digamos assim, que não tenho condições para merecer o fuzilamento. Ele é a favor de um fuzilamento seletivo, é a favor de um estupro seletivo”.

A menção a estupro é uma alusão ao fato de o presidenciável já ter dito no Salão Verde da Câmara que não estupraria a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS) porque ela não merecia.

A afirmação levou Bolsonaro a responder a um processo em trâmite no STF (Supremo Tribunal Federal) sob a acusação de incitação ao estupro e injúria contra a deputada federal.

Gregori disse ainda que Bolsonaro “não repudiou o fuzilamento que ele condena em tantos ditadores que ele chama de esquerda”.

“A partir de ontem, não se tem dúvida de que ele é a favor do fuzilamento como recurso contra o adversário político, quando ele acha que esse adversário político mereça”, completou o advogado.

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