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Eleições 2018

Presidente do MDB, Romero Jucá destitui diretório do partido em Minas

Deputados manobraram para derrubar vice-governador Antônio Andrade do comando

Carolina Linhares
Belo Horizonte

A menos de três meses das eleições, o presidente do MDB, senador Romero Jucá (RR), atendeu a um pedido de deputados estaduais e federais de Minas e aceitou a autodissolução do diretório da sigla no estado nesta segunda-feira (16). 

A decisão, enviada ao presidente do Tribunal Regional Eleitoral de Minas, derruba o presidente do partido no estado, o vice-governador Antônio Andrade. Foi nomeada uma comissão provisória composta por sete deputados para comandar o MDB-MG ---o deputado federal Saraiva Felipe é o novo presidente.

Na semana passada, os deputados federais e estaduais do partido em Minas se mobilizaram para que mais da metade dos membros do diretório estadual renunciassem, provocando a autodissolução. Os documentos de renúncia foram entregues a Jucá na última quinta (12). 

Romero Jucá falando ao microfone da bancada
O senador Romero Jucá (MDB-RR) durante reunião da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) - Pedro França - 10.jul.2018/Agência Senado

Segundo os parlamentares, Andrade vinha conduzindo o partido de forma isolada e insistindo em sua candidatura ao governo do estado, mesmo sem garantias de que seria competitivo e viável. Para os deputados, é interessante buscar coligações que assegurem mais cadeiras na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa. 

"O que uniu todos os deputados foi o instinto de sobrevivência. Do jeito que estava, nós iríamos eleger dois ou três deputados federais", explica Saraiva Felipe, novo presidente do MDB-MG. Em 2014, o partido elegeu sete deputados federais e 13 estaduais. 

A 20 dias da convenção que decidirá os rumos do partido na eleição, os emedebistas mineiros estão divididos. A troca no comando da sigla abre caminho para coligações, inclusive com o PT, que tentará reeleger o governador Fernando Pimentel, inimigo político de Andrade. 

Há quem defenda ainda as coligações. São opções o DEM, que tem o deputado federal Rodrigo Pacheco como pré-candidato a governador, ou o PT, que

Outra opção é construir alianças em torno do presidente da Assembleia, deputado estadual Adalclever Lopes, que também lançou seu nome ao governo do estado pelo MDB. Antes próximo de Fernando Pimentel,  Adalclever e seus aliados defendiam a aliança com o petista, mas o deputado perdeu espaço na chapa com a vinda da ex-presidente Dilma Rousseff (PT) para disputar o Senado.  

Saraiva Felipe afirma que a prioridade será construir alianças para a eleição de parlamentares, e que os projetos para governo ou Senado estarão subordinados a isso. "O ponto central é montar a melhor coligação possível, vamos conversar do PT ao PSDB, para montar uma boa bancada."

Enquanto alguns emedebistas rejeitam chapa com o PT e outros descartam o PSDB, que tem como pré-candidato o senador Antonio Anastasia, Saraiva diz que não tem restrições para as conversas, que incluirão também os pré-candidatos Rodrigo Pacheco (DEM) e Márcio Lacerda (PSB). 

Ele admite, porém, que a candidatura de Dilma gera uma dificuldade com o campo petista. "Nós, deputados federais do MDB de Minas, votamos pelo impeachment. Como vão estar os golpeadores e a golpeada no mesmo palanque?", questiona. 

Quanto a Adalclever, a ideia é apoiar a candidatura própria se ela ganhar musculatura e puder garantir ao menos a reeleição das bancadas. Serão sondados para essa aliança partidos como PV, PRB, PR, Podemos e PHS. 

Historicamente, o MDB caminha com o PT em Minas Gerais ---emedebistas ainda fazem parte da base do governo Pimentel, mesmo após Adalclever deflagrar um pedido de impeachment contra o governador em retaliação pela vinda de Dilma. O bloco era oposição aos governos de Aécio Neves e Antonio Anastasia, do PSDB. 

Em nota divulgada na semana passada, Andrade afirmou que os parlamentares agiram interessados em uma nova aliança com o PT e que essa não é a vontade da base do partido em Minas. Segundo ele, a bancada estadual do MDB sempre esteve alinhada com "os interesses do trágico governo Pimentel", agindo contra a população. 

O vice-governador defendeu a candidatura própria como a "única forma do MDB contribuir para tirar o estado da pior crise de sua história, construída pelo atual governo com o apoio integral da bancada estadual do MDB".

Para Andrade, a autodissolução do diretório é uma fraude. "Por entender que se trata de uma fraude e um processo ilegal, não previstos no estatuto, o presidente do partido repudia veementemente a tentativa arbitrária dos deputados", disse em nota.

Nesta terça (17), Andrade divulgou nova nota em que diz que sempre trabalhou pelo fortalecimento do partido e que irá recorrer à Justiça. 

"A trama ardil autoritária e antidemocrática perpetrada no dia de ontem expõe os interesses escusos, fisiológicos e pessoais daqueles que o cometeram: obter vantagens nas eleições de outubro, mesmo que para isso tenham que se unir ao PT, responsável pela trágica gestão à frente do Governo do Estado, ignorando totalmente o desejo da militância", afirmou. 

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