Promotoria vai investigar servidor da Dersa ligado a preso suspeito de fraude no Rodoanel

Apuração foi iniciada a partir de reportagem da Folha que mostrou que o patrimônio imobiliário dele é de mais de R$ 3 mi

Flávio Ferreira
São Paulo

O Ministério Público de São Paulo abriu investigação para apurar suposto enriquecimento ilícito do servidor da Dersa Vicente Floriano de Lima, que é ligado ao ex-diretor de Engenharia da estatal Pedro da Silva, preso sob a suspeita de participação em desvios na obra do Rodoanel em São Paulo.

Vicente Floriano de Lima. Ele (à esquerda) ao lado do ex-diretor do Dersa Pedro da Silva
Vicente Floriano de Lima. Ele (à esquerda) ao lado do ex-diretor do Dersa Pedro da Silva - Reprodução/Facebook

A apuração foi iniciada a partir de reportagem da Folha do último dia 17 que mostrou que o patrimônio imobiliário do funcionário público é de mais de R$ 3 milhões e é incompatível com a remuneração dele no órgão, de cerca de R$ 7.000, referente ao cargo de analista de engenharia.

O promotor de Justiça Valter Foleto Santin, responsável pelo caso, determinou na quarta-feira (25) o envio de ofício à Dersa com requerimento das declarações anuais de bens de Lima e questionamento sobre “se das informações pode ser extraída ilicitude patrimonial por enriquecimento ilícito ou patrimônio incompatível”.

Levantamento da Folha em cartórios de São Paulo mostra que o servidor possui 15 imóveis no estado.

Em Juquitiba, terra natal de Lima, a rápida evolução patrimonial do analista de engenharia após o início da construção do Rodoanel chamou a atenção dos moradores.

Eles ficaram impressionados com a compra de uma loja de material de construção pelo valor de R$1,5 milhão, a construção de um prédio e de casas no centro da cidade, além do uso de carros caros.

A atual lista de bens de Lima inclui um apartamento no Morumbi no valor de R$ 300 mil, um apartamento em Santos avaliado em R$ 450 mil, uma casa em Juquitiba que colocou à venda por R$ 750 mil e outro imóvel em Peruíbe.

Santin, integrante da Promotoria do Patrimônio Público e Social da capital, também conduz inquérito civil que apura crimes de corrupção de empreiteiras nas obras do Rodoanel Mário Covas, sob responsabilidade da Dersa. 

A Folha também revelou que papéis apreendidos em endereços de investigados da construtora Camargo Corrêa na Operação Castelo de Areia em 2009 indicam repasses a Lima.

Nessa operação, a PF ainda encontrou manuscritos sobre a obra do Rodoanel com a inscrição do nome "Paulo Souza". 

Em março de 2009, na administração estadual de José Serra (PSDB), o diretor de Engenharia da Dersa era Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto. Souza é suspeito de ter atuado ilegalmente como operador financeiro do PSDB e ter cometido crimes de corrupção. Ele nega ter praticado os delitos apontados pelo Ministério Público.

À época, o gerente do projeto do Rodoanel era Pedro da Silva, nomeado por Souza.

Porém, o material recolhido pela Polícia Federal em 2009 não pode ser usado em novos inquéritos pois todas as provas da Castelo de Areia foram declaradas nulas pelo STJ (Superior Tribunal de Justiça) em 2011.

A corte entendeu que o caso da década passada teve início a partir de uma denúncia anônima, e isso não seria suficiente para justificar as medidas mais invasivas adotadas à época, como interceptações telefônicas. 

O projeto do trecho norte do Rodoanel, investigado na Operação Pedra no Caminho, que levou à prisão de Pedro da Silva, começou em 2013, na gestão estadual do agora presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB).

O advogado de Lima, Paulo André Ferreira Alves, disse que o servidor ainda não foi intimado sobre a apuração da Promotoria, mas assim que isso ocorrer prestará esclarecimentos que mostrarão que o patrimônio dele não é resultado de enriquecimento ilícito.

"Ele tem uma fonte de herança familiar, um histórico de empresa e uma condição de aposentadoria", afirmou Alves. 

A defesa de Pedro da Silva nega que ele tenha cometido crimes em sua atuação na Dersa. 

 

Cronologia

2006
É iniciada a obra do trecho sul do Rodoanel Mário Covas, em São Paulo

2009
A Polícia Federal deflagra a Operação Castelo de Areia, que tem como alvo operações ilícitas de executivos da construtora Camargo Corrêa

2011 
O STJ (Superior Tribunal de Justiça) anula todas as provas e processos da Castelo de Areia

2013 
O trecho norte do Rodoanel começa a ser construído 

2018 - junho 
É iniciada a Operação Pedra no Caminho, que apura supostas fraudes em aditivos contratuais do trecho norte do Rodoanel

2018 - julho
Reportagem da Folha mostra que planilha e papéis apreendidos na Castelo de Areia indicam repasse de propina ao servidor da Dersa Vicente Floriano de Lima, que tem relação próxima com o ex-gerente do trecho sul do Rodoanel e ex-diretor de Engenharia da estatal Pedro da Silva, que foi preso na Operação Pedra no Caminho

Investigados

Vicente Floriano de Lima
Analista de engenharia da Dersa, é conhecido no órgão pela proximidade com ex-diretor Pedro da Silva. Levantamento da Folha mostra que possui patrimônio imobiliário de mais de R$ 3 milhões apesar de seu salário na estatal ser de R$ 7 mil. Seu prenome, um telefone da família e o apelido “camelo” aparecem em papéis encontrados com operadores ligados à construtora Camargo Corrêa

Pedro da Silva
Sucessor de Paulo Vieira de Souza na diretoria de Engenharia do Dersa, foi preso no dia 21 de junho e depois foi indiciado pela PF sob a suspeita da prática dos crimes de fraude a licitação, associação criminosa e falsidade ideológicas em adendos contratuais na obra do trecho norte do Rodoanel 

Paulo Vieira de Souza
Conhecido como Paulo Preto, exerceu o cargo de diretor de Engenharia da Dersa à época da construção do trecho sul do Rodoanel. Papéis apreendidos na Operação Castelo de Areia trazem a inscrição “Paulo Souza” relacionadas a valores e o Rodoanel.

É suspeito de ter atuado como operador de propinas do PSDB em São Paulo. Chegou a ser preso preventivamente pela Lava Jato, mas foi solto duas vezes pelo ministro do STF Gilmar Mendes.

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