Bolsonaro desiste de aliança e Ciro faz ofensiva para acordo com PR

Sem coligação forte, líder nas pesquisas deve anunciar general como vice e terá doze segundos na TV

Marina Dias Daniel Carvalho
Brasília

Na reta final da costura de alianças para disputar o Planalto, o pré-candidato do PSL, Jair Bolsonaro, desistiu do acordo com o PR e abriu caminho para que seu principal adversário hoje, Ciro Gomes (PDT), iniciasse uma ofensiva pelo partido.

Líder nas pesquisas sem o ex-presidente Lula (PT), com cerca de 20% das intenções de voto, Bolsonaro abriu mão do principal ativo do PR, valiosos 45 segundos de tempo de TV, e agora segue com oito segundos, para fazer campanha e tentar se defender dos ataques de seus adversários durante o horário eleitoral.

O capitão reformado tentava atrair o senador Magno Malta (PR-ES) para a vaga de vice de sua chapa, com o objetivo de aumentar sua interlocução com os evangélicos —Malta é ligado a esse nicho do eleitorado, com boa aceitação ao nome de Bolsonaro.

Na semana passada, porém, o senador anunciou que tentaria só sua reeleição e o acordo começou a naufragar. Nesta quarta (18), Bolsonaro deve anunciar como vice o general Augusto Heleno (PRP), o que agregará mais quatro segundo de TV ao pré-candidato.

É a primeira vez, desde a redemocratização, que uma chapa formada exclusivamente por militares se lança à sucessão presidencial.

“Quero um cara com responsabilidade do meu lado. Chega desses bananas aí que compõem para ganhar tempo de TV, mais nada além disso, e continuar metendo a mão, roubando o nosso Brasil”, disse Bolsonaro nesta terça (17) em evento em São Paulo.

O presidente do PSL, Gustavo Bebianno, por sua vez, disse que o PR seria só um “apêndice” e que o “casamento” de seu partido era com Malta.

Até a semana passada, o comandante do PR, Valdemar Costa Neto, negociava com Bolsonaro, quando um dos filhos do presidenciável criou barreiras para uma coligação proporcional no Rio.

O objetivo de Valdemar era eleger uma bancada maior de seu partido no Congresso e o entrave no Rio e em São Paulo bloqueou as conversas.

O general reformado Augusto Heleno em 2010
O general reformado Augusto Heleno em 2010 - Sergio Lima-28.dez.10/Folhapress

O deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS), aliado de Bolsonaro, foi escalado para conversar com o filho do pré-candidato e convencê-lo a ceder, mas não teve sucesso.

Avisados, aliados de Ciro Gomes iniciaram uma ofensiva sobre o PR. Segundo aliados, o ex-governador do Ceará, que deve se encontrar com Valdemar ainda esta semana, oferecerá a vaga de vice ao empresário Josué Alencar (PR-MG).

O cálculo de Ciro é pragmático: ao tentar atrair o PR, poderia provocar um efeito cascata nos outros partidos do chamado centrão, como DEM, PP, SD e PRB, que ainda estão divididos quanto a quem apoiar na corrida pelo Planalto.

O grupo já não tem certeza de que marchará junto em direção a Ciro ou a Geraldo Alckmin (PSDB), mas pretendia tomar uma decisão até esta quinta-feira (19).

Entre os integrantes do centrão que defendem um acordo com Ciro, a tese é a de que um fato político novo dentro do bloco —como a adesão do PR à chapa do PDT— poderia fazer com que todos os partidos seguissem unidos.

O PR, porém, pode obrigar o adiamento dessa definição. O partido ainda espera uma sinalização mais clara do PT —a quem Valdemar gostaria de apoiar— e pode segurar o anúncio até a próxima semana, já no meio das convenções.

Na semana passada, o ex-governador Jaques Wagner (PT), cotado como plano B de Lula, esteve com Valdemar e fez um apelo para que a sigla considerasse se aliar aos petistas, mesmo que Lula seja impedido de disputar a eleição.

A estratégia petista é manter a candidatura do ex-presidente até o limite possível e, quando a Justiça Eleitoral o declarar impedido, indicar outro nome do PT para substituí-lo na urna, o que pode ocorrer a 20 dias do pleito.

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