Descrição de chapéu Eleições 2018

Vaquinha de presidenciáveis pela web patina em 2 meses e desacelera na Copa

Lula lidera doações, mas elas representam 0,1% da arrecadação do PT incluindo empresas em 2014

Bernardo Caram Isabel Fleck
Brasília e São Paulo

Dois meses após o início das vaquinhas eleitorais, as campanhas de financiamento coletivo dos pré-candidatos à Presidência não decolaram e ainda sofreram uma desaceleração durante o período da Copa do Mundo.

Mesmo tendo sido um dos últimos a começar a coleta, no início de junho, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), lidera a arrecadação, com 4.096 doações até a tarde desta sexta (13), totalizando R$ 381 mil.

 

O valor, no entanto, representa 0,1% dos R$ 350 milhões arrecadados pela campanha vitoriosa da ex-presidente Dilma Rousseff em 2014, quando as doações de empresas ainda eram permitidas.

Na sequência, está o pré-candidato pelo Novo, João Amoêdo, que arrecadou R$ 265,8 mil. O total de doações do terceiro colocado, Ciro Gomes (PDT), já cai para R$ 44 mil.

Levantamento feito pela Folha identificou que as campanhas de presidenciáveis viram uma desaceleração nas doações nas últimas três semanas.

A de Lula, por exemplo, que vinha arrecadando cerca de R$ 164,7 mil semanais, caiu para R$ 17 mil por semana, 10% do que coletava antes. O mesmo ocorreu com a de Amoêdo, cujas doações caíram para 16% do valor anterior.

A assessoria do petista informou que a queda na arrecadação não preocupa e que o debate político se intensificará a partir da próxima semana, com o fim da Copa. 

O PT afirma ainda não haver receio de que a candidatura de Lula — que está preso após condenação em segunda instância pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro —  não seja aceita pelo TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Ciro foi o que viu uma queda maior na arrecadação. Nas últimas três semanas, as doações representaram, proporcionalmente, 9% dos R$ 19 mil semanais da primeira quinzena.

A campanha de Alvaro Dias (Podemos), que também viu uma queda de 75% nas contribuições nas últimas três semanas, disse que pretende aumentar a divulgação da vaquinha por meio das redes sociais e do WhatsApp.

Nanicos

Se Lula lidera a arrecadação total, no valor médio por doações, quem fica à frente são os nanicos Paulo Rabello de Castro (PSC), com R$ 242 por contribuição, e João Goulart Filho (PPL), com R$ 180.

Os dois, no entanto, tiveram apenas 14 e 10 doações, respectivamente, totalizando não mais que R$ 3.500. Na última pesquisa Datafolha, de junho, Paulo Rabello não atinge nem 1% das intenções de voto e Goulart Filho oscila entre zero e 1%.

Na avaliação do cientista político e pesquisador em democracia digital Max Stabile, a desconfiança do brasileiro com a política trava a possível criação de uma cultura em que o cidadão financia seu candidato favorito.

Para ele, a baixa adesão também pode ser explicada pelo fato de muitas candidaturas e alianças ainda estarem indefinidas, podendo haver mudanças nos quadros até o início de agosto, prazo final para as convenções partidárias. O efeito da Copa do Mundo também entra na conta.

"A agenda mudou muito nessas semanas. O país parou um pouco de discutir política e todo mundo está discutindo futebol", disse.

Entre os pré-candidatos que ainda não aderiram à arrecadação por meio da vaquinha digital, Aldo Rebelo (SD) disse que decisões sobre esse tema ou outras negociações eleitorais só entrarão em pauta após o campeonato mundial.

"Primeiro, nós vamos saber quem é o terceiro, o quarto lugar, o campeão, o vice. Depois, a turma vai começar a pensar nisso. Está tudo parado", afirmou.

As plataformas de Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PC do B) são as únicas que não deixam aberta, no site, a lista com os nomes de quem contribuiu e os valores — uma exigência do TSE. 

Os dois partidos, porém, dizem que as arrecadações não são para a campanha, que se inicia em 15 de agosto, mas para a pré-campanha, quando as regras do tribunal não se aplicam.

O crowdfunding, ou financiamento coletivo, é uma novidade nestas eleições e passou a ser permitido em 15 de maio. O dinheiro coletado pelas empresas autorizadas pelo TSE ficará retido até que o político registre sua candidatura, a partir de agosto. Só então o valor será repassado a ele ou devolvido aos doadores, em caso de desistência.

As assessorias de Marina Silva (Rede) e Geraldo Alckmin (PSDB) disseram que suas arrecadações começam ainda neste mês, mas sem data definida. Levy Fidelix (PRTB) só divulgará sua plataforma na próxima semana. Guilherme Afif Domingos (PSD) disse que vai aguardar a convenção do partido.

A equipe de Rodrigo Maia (DEM) afirmou que ele não pretende fazer o crowdfunding, e a de Henrique Meirelles (MDB), que o ex-ministro ainda está estudando a ideia.

A assessoria de Jair Bolsonaro (PSL) informou que ainda planeja possível adesão a uma plataforma. A de Fernando Collor (PTC) não respondeu à reportagem.

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