O ceticismo que embalou quase toda a pré-campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) força o tucano a mirar seus dois principais adversários desde a largada. O presidenciável tenta ganhar um impulso tardio ao apontar riscos dos rivais, igualando Jair Bolsonaro (PSL) ao PT.
No discurso que o lançou ao Palácio do Planalto, Alckmin classificou Bolsonaro como um radical (sem citar seu nome) e emendou: “foram exatamente as bravatas e o radicalismo que criaram a coincidência que sintetiza a herança trágica que o governo petista nos deixou”.
Os tucanos sabem que precisam ganhar terreno entre eleitores do capitão reformado para chegar ao segundo turno — que seria contra o candidato indicado pelo PT, segundo projeções do próprio Alckmin.
Ao estimular temores similares diante dos dois campos, o PSDB busca desmobilizar uma espécie de alinhamento automático entre o sentimento antipetista e Bolsonaro.
Alckmin ainda tem um longo caminho a percorrer nesses 60 e poucos dias até a eleição. O tucano patina nas pesquisas e aposta tudo em sua mega-aliança (com parceiros questionáveis) para atropelar adversários a partir do início da propaganda na TV, no fim de agosto.
O próprio discurso de Alckmin foi uma prévia das explicações que será obrigado a dar por ter decidido se unir ao establishment político.
“Um governo de qualidade requer alianças para poder fazer o melhor para o nosso povo”, afirmou.
“Aqueles que dizem que aprovarão as reformas sem o apoio da ampla maioria dos partidos são demagogos ou fascistas.”
Não será tarefa fácil emplacar o discurso. O cansaço com a política e com as negociatas partidárias alimenta justamente os petistas que rejeitam o governo Michel Temer (que foi apoiado pelo PSDB) e potenciais eleitores tucanos que migraram para Bolsonaro. Em vez de conseguir igualar os dois rivais, Alckmin corre o risco de ficar mais parecido com Temer e o centrão.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.