Descrição de chapéu
Eleições 2018

Apesar de cenário turbulento, dinâmicas políticas tradicionais devem prevalecer

A catarse na qual se encontra o país força analistas políticos a revisitarem modelos e previsões

Ricardo Sennes Thiago Vidal

A catarse na qual se encontra o país está forçando os analistas políticos a revisitarem seus modelos e previsões. Que o grau de indignação contra o comportamento médio dos políticos é recorde parece não ter dúvida. Mas a questão é quanto esse sentimento de fato mudará a dinâmica eleitoral no Brasil.

Existem fortes condicionantes que farão com que predominem nas próximas eleições as dinâmicas políticas mais tradicionais. Essas condicionantes têm a ver o com o perfil ideológico e as preferências dos eleitores, assim como com as regras eleitorais.

Pelo menos quatro variáveis são críticas no processo eleitoral no Brasil. A primeira é o contexto socioeconômico.

Quanto melhores o momento e as expectativas econômico e sociais, mais os eleitores tendem a escolher candidatos próximos ao bloco governista. Inversamente, quanto piores forem essas percepções, mais os eleitores se afastam do grupo governista. 

Expectativa de melhoria de renda e de emprego, assim como em relação à segurança pública, são as variáveis-chave. Mesmo o tema de corrupção é mais relevante nas escolhas quando associado à má gestão e à crise econômica. Nesse sentido, a percepção atual sobre o país é amplamente negativa. Apesar de o crescimento do PIB esperado para 2018 ser algo como 1,5% e a inflação estar relativamente baixa, o crescimento está muito aquém do esperado. O desemprego segue elevado (13%), assim como os índices de violência urbana e a percepção sobre corrupção.

O resultado é que, nesse campo, a tendência é centrífuga em relação ao governo de centro-direita de Temer. Ela empurra os eleitores, de um lado, para a extrema direita e, de outro, para o centro e a centro-esquerda.

O segundo fator crítico é a distribuição ideológica dos eleitores. As pesquisas indicam que 80% dos brasileiros se concentram entre a centro-esquerda, centro e centro-direita, e que apenas 10% se dizem de esquerda ou de direita. 

Confirma esses dados o fato de as últimas seis eleições presidenciais terem mostrado que a centro-esquerda manteve votos entre 35 e 45% no primeiro turno, e a centro direita, algo entre 40-55%. Ou seja, ao contrário do fator anterior, a distribuição ideológica claramente joga os eleitores para o centro e favorece candidatos moderados.

Outro fator é o acesso aos recursos materiais, basicamente fundos partidário e eleitoral e tempo de TV. As eleições deste ano serão as primeiras nacionais desde a proibição de financiamento por empresas. Pelas novas regras, a maior parte dos recursos recairá sobre os grandes partidos e coalizões.

Nesse quesito, prevalece fortemente uma assimetria de recursos favoravelmente à coalizão encabeçada por Geraldo Alckmin. Com relativa exceção do PT e do MDB, os demais candidatos ficam bastante fragilizados. 

Na mesma linha, considerando que as eleições presidenciais coincidem com a renovação de dois terços do Senado, da totalidade da Câmara, dos 27 governadores e das 27 Assembleias, pesam os recursos das estruturas partidárias —prefeitos, vereadores e diretórios. 

Por exemplo, a aliança de Alckmin conta com cerca de 3.000 dos 5.500 prefeitos, sendo 13 das 26 capitais. 

Também é verdade que os atributos pessoais dos candidatos, em particular suas capacidades de comunicação, são igualmente importantes para mobilizar e atrair eleitores. Esse é o quarto fator crítico para definir o cenário. 

A capacidade de projetar convicções, experiência, confiança, seriedade e determinação seguem sendo fundamentais. Têm se tornado ainda mais relevantes com o aumento da penetração das mídias sociais nas classes médias. 

As intenções de votos em Lula —muito acima dos simpatizantes do PT— são indicativos. Marina e Bolsonaro são exemplos mais recentes.

Não obstante, de maneira geral não são evidentes os ganhadores e perdedores neste campo. De um lado, apenas três candidatos têm como atributos fortes o fato de terem razoável carisma e não estarem envolvidos com escândalos de corrupção: Ciro, Marina e Bolsonaro. Quanto a experiência de gestão e preparo técnico, Alckmin, Alvaro Dias e Ciro se destacam.

Tomando-se em conta essas variáveis, podemos chegar a algumas conclusões: a tendência centrífuga da variável contexto socioeconômico é neutralizada pela tendência centrípeta da variável distribuição ideológica da população. 

Essa tendência centrista é ainda fortemente realçada no que tange à concentração de recursos de campanha nas mãos das coalizões em torno do PSDB e do PT, em detrimento de Ciro, Marina e Bolsonaro. A variável atributos não apresenta tendência clara, mas tende a favorecer Bolsonaro, Marina e o candidato de Lula.

Como acreditamos que as eleições deste ano seguirão a lógica das seis últimas eleições, a tendência é que a esquerda e a centro-esquerda reúnam cerca de 40% dos votos válidos, enquanto o restante se divida entre o centro, centro direita e direita. 

Por esses critérios, Geraldo Alckmin tem 70% de chances de alcançar o segundo turno e disputar com a centro-esquerda, tendo o PT 65% de chances de ser o representante desse espectro político e Ciro, 35%. Bolsonaro tem 30% de chance de ir ao segundo turno. 

Ricardo Sennes é doutor em ciência política e sócio da Prospectiva

Thiago Vidal é cientista político e gerente de análise política 

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.