Descrição de chapéu Eleições 2018

Bolsonaro cita 'japa de 8 arrobas' no dia em que STF julga se ele vira réu por racismo

Se o colegiado decidir receber a denúncia, será a terceira ação penal contra o candidato

Júlia Barbon
Rio de Janeiro

No dia em que a Primeira Turma do STF (Supremo Tribunal Federal) deve julgar se Jair Bolsonaro (PSL) vira réu por racismo, o candidato a presidente citou um "japa de oito arrobas", em referência a outra fala sua que motivou a denúncia.

Ao responder uma pergunta de um homem de ascendência oriental na plateia sobre pena de morte, em visita ao Ceasa-RJ (central de abastecimento do estado) nesta terça (28), ele disse: "No Japão tem pena de morte. Tinha um japa gordo, de uns oito arrobas, que foi pego uns dez anos atrás botando gás sarin no metrô. Foi executado no ano passado."

Bolsonaro se referia ao ex-líder da seita Aum Shinrikyo, conhecido como Shoko Asahara, responsável pelo atentado com gás sarin no metrô de Tóquio em 1995, que deixou 13 mortos e 6.300 feridos. Ele foi executado em julho deste ano.

Na denúncia, oferecida em abril, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, acusa Bolsonaro por ter dito em uma palestra no Clube Hebraica do Rio, em 2017: "Eu fui em um quilombola [termo correto é quilombo] em Eldorado Paulista. Olha, o afrodescendente mais leve lá pesava sete arrobas".

Na ocasião, ele também declarou que tais comunidades “não fazem nada”, “nem para procriador eles servem mais”. 

Para Dodge, Bolsonaro tratou “com total menoscabo os integrantes de comunidades quilombolas. Referiu-se a eles como se fossem animais, ao utilizar a palavra arroba”.

Ela também cita outras falas na mesma ocasião em que o candidato teria "incitado o ódio e atingido diretamente vários grupos sociais", como indígenas, refugiados, mulheres e LGBTs.

Se o colegiado decidir receber a denúncia, será a terceira ação penal de Bolsonaro. Ele já responde a outras duas, sob acusação de incitar o estupro por ter dito à deputada Maria do Rosário (PT-RS) que não a estupraria porque ela "não merecia".

Nesta terça, ele frisou a uma plateia de comerciantes que não vai ser julgado hoje e que é mais um processo que envolve racismo, xenofobia, misoginia.

"Agora eu não gosto de mulher, descobriram que eu sou gay", disse, arrancando risos dos apoiadores. "É aquelas palhaçadas de sempre, que a senhora Raquel Dodge lamentavelmente fez uma 'juntada' disso e botou pro Supremo."

Em tom exacerbado, também rebateu as acusações repetindo frases que costuma dizer. "Tenho um recado para o Supremo: respeitem o artigo 53 da Constituição, que diz que eu, como deputado, sou inviolável por qualquer palavra, opinião e voto meus".

NEGROS, MULHERES, IMIGRANTES E GAYS

Após numerosas declarações e atitudes polêmicas nos seus 30 anos de vida pública, Bolsonaro tem tentado provar na Justiça, nas redes sociais e em entrevistas que não é racista, homofóbico ou misógino.

Recentemente emprestou seu sobrenome ao militar negro Hélio Fernando Lopes, 49, candidato a deputado federal pelo RJ também pelo PSL. Também costuma citar seu sogro, pai da sua terceira mulher: "Como é que eu sou racista se meu sogro é o Paulo Negão?", repetiu nesta terça.

Em seguida, ao lado do filho e deputado estadual Flávio Bolsonaro (PSC), que concorre a deputado federal pelo RJ, questionou novamente sobre sua posição quanto às mulheres. "Alguém já viu eu falando que mulher tem que ganhar menos do que homem?", disse, antes de um homem gritar "fake news!" em apoio.

Há controvérsias. Em 2016, por exemplo, em entrevista à apresentadora Luciana Gimenez na RedeTV!, Bolsonaro chegou a falar: "Eu não empregaria [homens e mulheres] com o mesmo salário. Mas tem muita mulher que é competente".

Sobre a xenofobia, citou a crise imigratória da Venezuela. "Estive em Roraima. Dei minha opinião há dois anos e agora estourou esse problema. Agora querem me processar porque eu disse que isso ia acontecer. Vá lá para Pacaraima ver como é que está a situação dos nossos irmãos na fronteira."

Ao comentar a questão da homofobia, arrancou risos e gritos de "mito" da plateia. "Alguém aqui, homem ou mulher, pai ou mãe, quer chegar em casa agora e encontrar o filho Joãozinho, de 7 anos de idade, brincando de boneca por influência da escola? Porra, nosso filho é homem, aqui não porra!"

E concluiu: "Vamos acabar com essa palhaçada de ser condescendente com quem quer sexualizar os nossos filhos. Nada contra gay, quem quer ser feliz com barbado lá, vão ser felizes sem problema nenhum, agora enquanto presidente essa palhaçada vai acabar", afirmou, se referindo à educação sexual nas escolas.

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