Bolsonaro elege Marina como alvo e quer solidariedade como mote de campanha

Após pesquisas, aliados do deputado apontam ex-ministra e rejeição feminina como obstáculos

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São Paulo

A última rodada de pesquisas eleitorais antes do início do horário eleitoral gratuito cristalizou na campanha de Jair Bolsonaro (PSL) seus alvos para esta fase da corrida à Presidência: Marina Silva (Rede) e o eleitorado feminino, no qual enfrenta rejeição alta.

A candidata Marina Silva confronta Bolsonaro durante o debate da RedeTV!, apontando o dedo em direção ao deputado
A candidata Marina Silva confronta Bolsonaro durante o debate da RedeTV! - Diego Padgurschi - 18.ago.2018/Folhapress

Para tanto, Bolsonaro prepara um discurso no qual a palavra solidariedade será central, visando amenizar sua imagem de extremista. Tentará falar às mulheres apelando à maternidade: iniciativas para crianças deverão estar no topo de suas prioridades retóricas.

Segundo a Folha ouviu de seus estrategistas, o desafio do líder das pesquisas no provável cenário em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não disputará por estar condenado em segunda instância é conquistar novos votos.

Bolsonaro lidera a disputa sem Lula, com 22%, segundo pesquisa do Datafolha publicada nesta quarta (22). Marina o segue fora da margem de erro de dois pontos, com 16%.

O nó atual é sua rejeição, maior até do que a de Lula (34%), preso por corrupção. Bolsonaro é descartado por 39% dos eleitores, o que se reflete no mau desempenho nas simulações de segundo turno —quando só ganha do plano B do PT, Fernando Haddad.

Mais importante, o deputado é rejeitado especialmente por mulheres (43%) e jovens (46%). Aí que a inflexão de discurso precisará acontecer, sem alienar o seu eleitor já fidelizado, aquele que grita “mito” cada vez que Bolsonaro repete algum de seus bordões polêmicos.

Esse eleitorado fiel pode ser encontrado nos 15% daqueles que falam espontaneamente que ele é seu candidato. Só Lula (20%) é mais lembrado, enquanto os outros postulantes comem poeira na casa dos 2%.

Como diz um aliado de Bolsonaro, a campanha concorda que é preciso ganhar votos fora desse núcleo para garantir a ida ao segundo turno. Aí é que entra Marina, que tem 19% dos votos entre mulheres (que são 52% do eleitorado) e 13%, entre homens, no cenário sem Lula.

No debate da semana passada na RedeTV!, a candidata encaixou um golpe duro em Bolsonaro ao questionar suas posições sobre o mercado de trabalho feminino e o fato de fazer gestos de atirador junto a crianças. Sem poder parecer agressivo demais contra uma mulher, ainda que tenha acusado contradições de Marina, Bolsonaro ficou perdido.

A solução trabalhada será associar, sempre que possível, Marina a seu passado petista —ela foi filiada ao partido e ministra do governo Lula. E, por outro lado, seguir a tal tentativa de se mostrar compassivo e solidário.

Esse trabalho se dará mais em manifestações públicas e rede sociais, nas quais Bolsonaro fará entradas ao vivo três vezes por semana para compensar seus segundos na TV, conforme a Folha revelou. No horário gratuito, ele apenas se apresentará como político honesto e ficha limpa.

A campanha do deputado enfrenta o lugar comum político de que Geraldo Alckmin (PSDB) irá avançar sobre seus votos menos fiéis com o grande tempo de TV e rádio de que disporá a partir do dia 31.

Já os tucanos consideram que as pesquisas, particularmente a do Datafolha, consolidaram Bolsonaro como o alvo. Isso já era discutido há semanas, mas agora a artilharia contra o deputado está pronta para uso.

O deputado pode ser atacado direta ou indiretamente, de forma mais ou menos agressiva. Mas o partido está dividido, a partir da própria relutância de Alckmin, sobre como e quando usar a munição.

Marina, ao encurralar Bolsonaro no debate, deu argumentos aos que pregam uma ação mais incisiva que foque na desconstrução do deputado, que seria pintado como despreparado e misógino. Já os cenários de segundo turno do Datafolha, todos mostrando crescimento de Alckmin, reforçam aqueles que defendem cautela.

Para os últimos, o resultado aponta para uma suposta consciência do eleitorado de que o tucano seria um melhor candidato, bastando então vender Alckmin e seu histórico como governador. Já os primeiros lembram que, para provar isso, é preciso sair dos 9% da simulação de primeiro turno sem Lula e chegar ao segundo turno.
 

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