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Eleições 2018

Bolsonaro saiu na frente em série de entrevistas da Globo

Apresentadores falaram quase tanto quanto os candidatos, mas mostraram falta de preparo e de reação nos programas

Nelson de Sá
São Paulo

Sorridente, a apresentadora Renata Vasconcellos, nas quatro entrevistas que precederam a propaganda eleitoral, foi buscar o candidato nos bastidores e o recebeu com um "seja muito bem-vindo" ao principal telejornal e à maior TV do país.

Inclusive —ou sobretudo, dada a vice-liderança no Datafolha— Jair Bolsonaro.

Jair Bolsonaro, vestido de terno, rodeado de assessores homens, também vestidos de terno, é maquiado por outro homem, que usa um pincel fofo de pó compacto. Todos estão num estúdio azul.
Jair Bolsonaro (PSL) é maquiado em participação na televisão - Marlene Bergamo - 10.ago.2018/Folhapress

E nas quatro ela e William Bonner destacaram, antes de mais nada: "Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, aparece em primeiro lugar na pesquisa, mas o ex-presidente não pode dar entrevistas por determinação da Justiça. Ele está preso em Curitiba, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro".

O Jornal Nacional não chegou a pedir autorização à Justiça, para saber se seria negada, e se recusou a entrevistar seu vice, Fernando Haddad. Com o candidato de 39% refutado dia após dia no ar, o foco foi para aquele que polarizou com Lula.

Como as outras três, a entrevista com Bolsonaro revelou mais sobre os entrevistadores e sobre a Globo do que sobre ele. Não à toa, Renata e Bonner ocuparam 43,5%, quase metade, dos 28 min 34 s do diálogo, segundo levantamento da FW Spot Pesquisa de Mídia.

Foram longas e seguidas perguntas, por exemplo, sobre seu compromisso de manter o economista ultraliberal Paulo Guedes como "quem vai cuidar deste assunto no seu governo", sobre o "casamento" de ambos.

Resposta de Bolsonaro, com humor e enfrentamento não muito diversos daqueles que popularizaram Lula: "Bonner, quando nós nos casamos, eu com a minha esposa, você com a sua, nós juramos fidelidade eterna".

Outras questões foram rebatidas na mesma linha —a mais significativa sendo aquela em que Bonner criticou o "golpe militar" e Bolsonaro, mais uma vez, respondeu citando de cor que para Roberto Marinho foi, na verdade, "a revolução democrática de 1964".

O despreparo e a incapacidade de reação dos entrevistadores se evidenciaram no comentário frustrado de Bonner ("O senhor vai repetir isso...") e na necessidade de resposta posterior da Globo à acusação de que a emissora recebe "bilhões de propaganda do governo".

Renata e Bonner se deram melhor com os três candidatos mais fracos, sobretudo Geraldo Alckmin e Marina Silva, que não partiram para o enfrentamento como Bolsonaro e, em parte ao menos, Ciro Gomes.
Ainda assim, as evidências de despreparo se repetiram, como na pergunta da apresentadora sobre o apoio —inexistente— de Collor a Alckmin.

A Globo também poderia ter passado sem dar mais tempo, por pouco que seja, para Marina falar na entrevista final da série: 59,2% do tempo total, contra 56,5% de Bolsonaro, 55,9% de Alckmin e 55% de Ciro.​

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