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Bolsonaro usa reportagem do UOL reproduzida pela Folha para atacar Globo

Texto foi publicado em 29 de junho de 2015 e tem sido compartilhado por seguidores do candidato

São Paulo

O presidenciável Jair Bolsonaro (PSL) e apoiadores têm utilizado reportagem feita pelo UOL em 2015 e que foi reproduzida no site da Folha para sustentar o argumento de que a Rede Globo recebe bilhões de reais em publicidade estatal federal.

O candidato fez o comentário sobre a emissora na terça-feira (28), durante entrevista no Jornal Nacional e passou a compartilhar a reportagem no dia seguinte, com ajuda de seus seguidores.

A reportagem foi publicada em 29 de junho de 2015 pelo UOL, empresa do Grupo Folha, que edita a Folha. Em 30 de junho do mesmo ano, a Folha veiculou-a em sua versão digital. É a versão da Folha que vem sendo difundida pelo candidato.

Candidato Jair Bolsonaro (PSL) em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo
Candidato Jair Bolsonaro (PSL) em entrevista ao Jornal Nacional, da TV Globo - Reprodução/TV Globo

Bolsonaro fez o comentário crítico no Jornal Nacional durante diálogo sobre sua defesa, no passado, de que homens e mulheres não devem necessariamente receber o mesmo salário. O candidato então disse que William Bonner, editor-chefe e apresentador do programa, e Renata Vasconcellos, apresentadora, não recebem salários equivalentes.

A jornalista na sequência respondeu que o salário de Bolsonaro é de interesse público, já que ele é deputado e candidato à Presidência, e o dela, não. E então ele replicou com o argumento sobre os recursos públicos investidos na Rede Globo, indicando que dessa forma o salário dela seria, sim, de interesse público.

"Vocês vivem em grande parte de recursos da União. São bilhões que recebe o sistema Globo de recursos da propaganda oficial do governo", disse o candidato.

Na quarta-feira (29), os apoiadores do candidato passaram a compartilhar a reportagem "TV Globo recebeu R$ 6,2 bilhões de publicidade federal com PT no Planalto", publicada pela Folha há três anos.

A reportagem mostra que a Rede Globo e as cinco emissoras de TV aberta de propriedade do Grupo Globo (em São Paulo, Rio, Minas Gerais, Brasília e Recife) receberam um total de R$ 6,2 bilhões em publicidade estatal federal durante os 12 anos dos governos Lula (2003 a 2010) e Dilma (2011 a 2014).

Em 2015, a Globo e as cinco emissoras receberam um total de R$ 396,5 milhões em publicidade estatal federal.

No mesmo dia, Bonner leu nota no Jornal Nacional em que refutava a afirmação do candidato.

"O candidato Jair Bolsonaro afirmou que a TV Globo recebe bilhões de recursos da propaganda oficial do governo. É uma afirmação absolutamente falsa. A propaganda oficial do governo federal e de suas empresas oficiais corresponde a menos de 4% das receitas publicitárias e nem remotamente chega à casa do bilhão", dizia a nota.

"Os anunciantes, privados ou públicos, reconhecem na TV Globo uma programação de qualidade, prestigiada por enorme audiência, e por isso se valem dela para levar ao público mensagens sobre seus produtos e serviços. Fazemos esse esclarecimento por apreço à verdade, ao nosso público e nossos anunciantes", concluiu Bonner.

Bolsonaro e seus apoiadores inflamaram-se com a nota, e passaram a compartilhar múltiplas vezes a reportagem da Folha, uma das mais lidas do site do jornal na quarta-feira (29).

Carlos Bolsonaro, filho do presidenciável e vereador no Rio de Janeiro, compartilhou mensagem nas redes sociais em que dizia que a emissora estava desesperada e perdendo o "bom senso" após a leitura da nota. Ele utilizou a reportagem da Folha como embasamento para as críticas, e sua postagem recebeu 16 mil curtidas e sete mil compartilhamentos. O perfil de Jair Bolsonaro também compartilhou.

Outro dos filhos do candidato, Eduardo Bolsonaro, fez comentário irônico em suas redes sociais: "ué, mas a Globo não recebia dinheiro público???" e marcou o perfil de Bonner na postagem.

Procurada pela Folha, a Rede Globo enviou nota elaborada por seu departamento de Comunicação em que enfatiza o que foi dito por Bonner.

"As verbas publicitárias oriundas do governo federal representam, anualmente, menos de 4% do faturamento da TV Globo, o que demonstra que a maior parte das receitas é oriunda da iniciativa privada. Ademais, são observados os critérios técnicos pelos órgãos da administração para a aplicação das referidas verbas", diz a nota.

A assessoria de Bolsonaro não se manifestou até a publicação desta reportagem.

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