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Eleições 2018

Com Ana Amélia, Alckmin celebra seu modo de fazer política

Tucano dedica boa parte do discurso como candidato a presidente à senadora

Igor Gielow
São Paulo

​Geraldo Alckmin tornou-se candidato a presidente em dezembro do ano passado, quando tomou o poder dentro do PSDB após passar o ano sob a sombra do ex-pupilo João Doria. 

A convenção deste sábado (4), na qual o tucanato ungiu o ex-governador paulista presidenciável para efeitos legais, foi portanto mais um rito cartorial do que qualquer outra coisa.

Geraldo Alckmin ao lado de sua vice, a senadora Ana Amélia, e sua mulher, Lu Alckmin, na convenção do nacional do PSDB
Geraldo Alckmin ao lado de sua vice, a senadora Ana Amélia, e sua mulher, Lu Alckmin, na convenção do nacional do PSDB - Pedro Ladeira/Folhapress


Estão no passado eventos como as disputadas convenções do antigo PMDB, que descambavam até para a violência.

Com exceção da alfinetada de Tasso Jereissati em Doria e, por tabela, em José Serra, o roteiro foi de extrema previsibilidade —a estridência do locutor, que chamava oradores como quem convoca peões de rodeio, também destoou, mas aí é apenas uma questão formal.

O discurso de um algo rouco Alckmin, portanto, foi uma espécie de celebração desse momento. Politicamente, o tucano está em alta, algo que apenas ele parecia acreditar há meros dois meses.

Em pesquisas aqui e ali há sinais de que pode estar recuperando o terreno perdido em seu estado natal, ainda que não haja ainda a expectativa de nenhuma grande virada em plano nacional. É um jogo de paciência.

O ex-governador fez sua parte, apesar do nariz torcido de lideranças como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, cuja insistência em chamar Alckmin de “homem simples” trai algo além do elogio.

O candidato costurou, por obra própria tanto quanto pela aversão a risco dos caciques do centrão, um amplo leque de apoio. A elegia ao nome de Alckmin feita por ACM Neto, o chefe do DEM que fez de tudo para evitar o apoio ao tucano, é um testemunho eloquente do pragmatismo político brasileiro.

O tucano passou meses questionado por aliados e espezinhado por adversários, chegando ao ponto de confrontar os caciques de seu partido insatisfeitos.

A saudação de Alckmin a líderes das siglas aliadas foi uma espécie de catarse para alguém que se viu isolado boa parte do ano —o fato de que eles trazem acusações diversas para seu colo é outra história, cuja cobrança será aferível na campanha. Em sua fala, a vacina: é preciso de votos para aprovar reformas e unir o país.

Em sua fala, o candidato tucano gastou um bom trecho inicial fazendo elogios à sua vice, Ana Amélia. A senadora do PP-RS é uma aposta para atrair as mulheres e alguma fatia do eleitorado à direita que debandou para a candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), mas também um símbolo do apreço de Alckmin à sua forma de operar. FHC inclusive verbalizou essa formulação, ao defender o presidencialismo de coalizão que sempre criticou: “A chegada da Ana Amélia antecipa a vitória”.

Não deixa de ser irônico que até terça-feira a senadora se considerava apenas um nome citado por políticos de seu meio, já que não havia uma indicação direta de Alckmin sobre sua preferência.

Em poucos dias, ela veio para o centro do palco, sob os holofotes, com direito a vídeo próprio antes de sua fala. Foi a verdadeira estrela do evento, que teve outro momento coreografado de sinalização feminina, com a declaração de amor do candidato a Lu Alckmin.

Discursos em convenção são pregação a convertidos, então não era esperada nenhuma grande revelação por parte de Alckmin.

Palavras genéricas sobre recuperar a dignidade nacional, transformar o país, melhorar a economia e a vida das pessoas são parte do cardápio. A corrupção, que será um tema a assombrar o tucano, ganhou uma menção bastante lateral.

Críticas ao PT, algo que deverá ser elaborado à frente na campanha, perderam espaço a tiros contra Bolsonaro, foco atual do PSDB. Alckmin, fazendo analogia com a balbúrdia em países como a Venezuela, criticou quem “quer governar sozinho, com um grupo de fanáticos, gente que quer ditadura, que degenera em anarquia”.

Novidade mesmo, Ana Amélia e a introdução da fitinha verde-e-amarela na lapela dos presentes —será um dos símbolos da campanha. Ao fim, o fulcro da fala do tucano foi, por toda a imagem de humildade e decoro sempre associada a ele, um autoelogio a seu modo de fazer política.

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