Descrição de chapéu

Com blazer em declínio, PSDB busca novo figurino e mais tempero para seu chuchu

Na plateia, acabei me sentindo isolado nesse figurino tucano

Marcelo Coelho
Brasília

Noticiada como austera e modesta, a infraestrutura da convenção nacional do PSDB não deixa de impressionar quem não está acostumado com esse tipo de coisa.

No centro de convenções de Brasília, caberiam uns dois ou três aeroportos de Teresina ou Maringá; atrás de uma grua telescópica, o cinegrafista parece reduzir-se ao tamanho de um Mickey Mouse.

 

Preparei-me para o evento. Tirei do armário o blazer escuro, a camisa social azul-clara, a calça caramelo e o mocassim café. Na plateia, acabei me sentindo isolado nesse figurino tucano. Um ou outro militante “puro-sangue” desaparecia frente ao que, à primeira vista, era uma larga maioria de mulheres.

A aposta do PSDB no eleitorado feminino não se resumiu, de fato, à escolha de Ana Amélia (PP) como vice.

Ao meu lado, muitas militantes de camiseta laranja, em geral com mais de 40 anos, faziam a força do slogan “Lugar de Mulher é Na Política”. 

Eram apoiadoras de candidatas do Distrito Federal, como Claudinha da Saúde ou Nágela Maria; em número de camisetas, apenas João Doria parecia fazer concorrência.

O candidato ao governo de SP pelo PSDB, João Dória, discursa na convenção nacional do partido
O candidato ao governo de SP pelo PSDB, João Dória, discursa na convenção nacional do partido - Pedro Ladeira/Folhapress

Poucas militantes tucanas tinham cara de dona de butique; eu apostaria em diretoras de escola, merendeiras, assistentes sociais. 

Fazia sucesso, entre elas, o governador paraense Simão Jatene. Com turbantes espetaculares, duas beldades chamavam a atenção para o grupo Tucanafro.  

Onde encontrar o velho modelito Jardins? João Doria correspondia um bocado a isso; no palanque, era dos que mais tentavam arrancar vibração da militância. Mas às vezes era difícil.

“Vamos ouvir”, dizia o mestre de cerimônias como numa narração de futebol, “o relatooooor da refooooorma tributáááária!” 

Tratava-se do deputado paranaense Luiz Carlos Hauly, que começou reclamando da zabumba ao fundo. “Por favor, não dá para falar com o batuque aqui dentro... nunca vi isso!”

Na mesma linha “austera”, o ex-governador Teotônio Villela Filho (AL) garantia que com Alckmin o Fundo de Participação de Municípios aumentará em 30%, graças à introdução do IVA (Imposto sobre Valor Adicionado). 

A desatenção crescia, e o pedido de uma “salva de palmas para Jesus” não resolveu muito.

Finalmente, a claque fez funcionar o evento: era a Juventude do PSDB, que, com maestro e tudo, rufava tambores a cada palavra de efeito.

Nem todos obedeceram, entretanto, ao apelo para que se ouvisse “de pé” o discurso de Fernando Henrique Cardoso. O ex-presidente defendeu mais “simplicidade” no comportamento dos políticos, e “cadeia” (aplausos) contra a corrupção e a violência.

Enquanto um orador defendia as conquistas econômicas do “novo governo” (não dava para falar em Temer), circulava um abaixo-assinado contra a emenda do teto de gastos, menina dos olhos dos que pedem responsabilidade fiscal.

Críticas ao “populismo”, à esquerda, ao governo Lula, compartilharam espaço com um novo tema —a defesa da democracia, do equilíbrio e da separação de poderes, contra Bolsonaro e Ciro.

De Roberto Freire a ACM Neto —talvez os oradores mais fortes do dia— e com uma mulher de vice, o chuchu buscava outros temperos.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.