Descrição de chapéu

Com tempo exíguo, candidatos pareciam estar numa feira livre

Presidenciáveis se atropelaram para apresentar, numa só tacada, seus motivos para se candidatarem

marcelo coelho

Foi tudo a toque de caixa no debate da RedeTV!. Com 45 segundos para suas declarações iniciais, os candidatos se atropelaram para apresentar, numa só tacada, seus motivos para se candidatarem e suas visões sobre o combate à corrupção.

Respostas eram interrompidas sem piedade, forçando que qualquer plano sobre retomada de empregos ou para a reforma política se resumisse a considerações truncadas e genéricas.

Melhorar o ambiente dos negócios, combater corrupção, simplificar a estrutura tributária, aumentar a confiança dos investidores: como alguém poderia fugir do óbvio?

Debate com os candidatos à Presidência na RedeTV!
Debate com os candidatos à Presidência na RedeTV! - Diego Padgurschi /Folhapress
 

Henrique Meirelles (MDB) estava um pouco menos inseguro e tentava se destacar pelo currículo: era ele quem tinha competência, quem sabia, quem tinha know-how para a tarefa. 

Chegou a ganhar audácia para atacar alguns de seus adversários, sem perder a antipatia involuntária de sua entonação, muito formal em seu popopó de base.

De um polo bem diferente, e mantendo um blébléblé algo cansativo, Marina Silva (Rede) procurava ser concreta: se eleita, por exemplo, construirá um milhão de casas com teto solar.

Ciro Gomes (PDT) voltou à bandeira de limpar o nome de quem está com complicações no Serviço de Proteção ao Crédito.

Impossível saber em detalhes no que isso consistiria. Mas será que alguém teria paciência de acompanhar uma exposição consistente sobre isso? Não seria justo acusar os candidatos de superficialidade, quando tinham de correr como desesperados.

Geraldo Alckmin (PSDB) espremeu-se para defender o voto distrital (que acarretaria, segundo ele, novas formas de financiamento para a política) e a diminuição do número dos partidos.

O debate se assemelhava, com todo o respeito, a uma cena de feira livre, com cada comerciante tentando chamar a atenção da freguesia para a principal oferta do seu balcão.

Para o cabo Daciolo (Patriotas), era fácil: de Bíblia em punho, o peixe que tinha a vender era a palavra de Jesus; mais precisamente, a sua pretensão de representá-la.

Guilherme Boulos (PSOL) marcou-se pela ideia de fortalecer os mecanismos da democracia direta, como plebiscitos e referendos. 

Mais uma vez mostrou-se rápido, petulante e implacável no que era, afinal, uma acusação que cabia contra qualquer adversário: todos, para ele, farinha do mesmo saco.

Sonhos e propostas, naturalmente, exigem um mínimo de visualização; precisam ter algo de palpável. Mas quando se limitam a uma ou duas palavrinhas, correm o risco de parecer tão idiossincráticas quanto a famosa, e repetida, tese de Bolsonaro (PSL) em favor da militarização da escola pública.

O debate poderia ser mais promissor se concentrado em dois candidatos de cada vez. Ciro Gomes e Geraldo Alckmin discutiram, na medida do possível, suas respectivas posições sobre o sistema tributário. 

Sim, é importante saber se a cobrança do imposto deve ser na ponta do consumo ou da produção, mas o problema é que quando você inverte a carga, aí então...

Um momento, candidatos. Marina Silva e Bolsonaro se enfrentam duramente sobre armas e drogas. O espectador se anima: a discussão vai começar! Mas não. Acabou o tempo.

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