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Doação de R$ 300 mi exaltada por Doria engatinha na Prefeitura de SP

Equipamentos entregues na administração municipal do tucano não chegaram a todas as escolas

Gabriela Sá Pessoa Guilherme Seto
São Paulo

Maior doação anunciada pelo ex-prefeito João Doria (PSDB), a cessão de equipamentos de tecnologia da Cisco para a educação, até agora, atendeu apenas 4 dos 46 CEUs (Centro Educacional Unificado) de São Paulo e 1 das 555 escolas municipais que deveriam receber o benefício. 

Em maio de 2017, cinco meses após assumir a Prefeitura de São Paulo, o tucano recebeu R$ 300 milhões em equipamentos da empresa americana. Os dispositivos tinham sido usados na Olimpíada do Rio: são aparelhos como firewalls e switches que melhoram a conexão com a internet.

Em 2 de agosto, Doria —já oficializado candidato do PSDB ao governo de São Paulo— citou essa doação como um dos exemplos de parcerias com o setor privado, uma fórmula que disse que irá repetir no estado se for eleito.

“Só uma empresa, a Cisco, empresa norte-americana de tecnologia, doou o equivalente a R$ 300 milhões em equipamentos de tecnologia para os CEUs e as escolas públicas municipais, mediante pedido que fiz”, afirmou Doria em entrevista à rádio Transamérica da cidade de Mococa.

Segundo o agora candidato, o caso é um exemplo concreto “para que ouvintes não fiquem imaginando que isso faz parte apenas de um discurso político. Como não sou político, sei que é técnico, real”.

Na mesma entrevista, Doria disse que “esses equipamentos já estão instalados e funcionando nos CEUs de São Paulo”. 

Isso é verdade no caso dos alunos do CEU Pêra-Marmelo, que a Folha visitou no extremo norte da capital, e em outras três unidades, que foram escolhidas para receber os equipamentos na fase piloto. Algumas instalações da Secretaria de Educação também já foram equipadas.

No restante da rede de ensino os aparelhos existem somente no planejamento.

“Os outros CEUs e EMEFs [escolas municipais de ensino fundamental] estão sendo vistoriados. Isso tudo depende de projeto, de logística, de engenharia elétrica e civil. Está sendo feito. A ideia é gradativamente ir implantando todos os equipamentos”, diz Daniel Annenberg, secretário municipal de Inovação.

Ele afirma que a prefeitura recebeu 18 mil equipamentos da Cisco —segundo a Folha apurou, eles estão disponíveis no armazém da Secretaria Municipal da Educação desde o fim de 2017.

A prefeitura diz que a instalação custará de R$ 15 a R$ 20 milhões. Esses valores partirão de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) de R$ 50 milhões firmado entre a telefônica Vivo e a administração municipal. O acordo prevê também que a empresa disponibilize à municipalidade links de acesso à internet com velocidade rápida. 

Segundo a prefeitura, esses R$ 15 milhões seriam gastos uma única vez. Em 2016, os mesmos equipamentos Cisco foram rejeitados pelo ex-prefeito do Rio, Eduardo Paes, hoje candidato ao governo fluminense pelo DEM. 

Paes afirmou à Folha, por meio de sua assessoria de imprensa, que naquela ocasião a administração carioca avaliou que gastaria R$ 235 milhões para instalar os aparelhos. Assim, concluiu que aceitar a doação não valeria a pena.

A reportagem mencionou os R$ 235 milhões avaliados pelo ex-prefeito do Rio a Annenberg. 

“De onde tem um custo de R$ 235 milhões para uma doação de R$ 300 milhões? A nossa em São Paulo é feita com vários fornecedores, em torno de R$ 15 a R$ 20 milhões. Isso cabe dentro do TAC. Foi muito bem vista, avaliamos bem essa doação. E estamos fazendo desse projeto nossa prioridade”, ele disse.

O secretário estima que a instalação em toda a rede demorará de um a dois anos e que já neste semestre outros CEUs e escolas recebam os equipamentos. “São muitos lugares, as realidades são diferentes. Tudo isso tem que ter projetos específicos”, afirmou. 

No caso do Pêra-Marmelo, que a Folha visitou, a escola teve que fazer pequenas reformas para adequar o prédio à tecnologia recebida.

Procurado pela reportagem, Doria não quis se manifestar sobre o assunto.

Em nota, a Prefeitura de São Paulo diz que fechou acordo para receber R$ 720 milhões desde janeiro de 2017, e recebeu de fato R$ 505 milhões.

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