Descrição de chapéu Otavio Frias Filho

Em cerimônia, políticos e personalidades enaltecem estilo plural de Otavio

Familiares, amigos, políticos, jornalistas e representantes da sociedade participaram de ato

São Paulo

“Otavinho gostava de ver o todo pela parte. Criticava, pegava o deslize e mostrava. Tinha o espírito independente. Quando você está no governo, não gosta. Mas respeita. Quando sai do governo, você gosta”. As frases são do ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso, que esteve nesta segunda-feira (27) em cerimônia inter-religiosa em homenagem a Otavio Frias Filho, morto na terça (21) aos 61 anos.

Familiares, amigos, empresários, jornalistas, representantes da sociedade civil e de diferentes partidos políticos participaram do ato.

A cerimônia, na Matriz Paroquial Nossa Senhora do Rosário de Fátima, no Sumaré, zona oeste de São Paulo, foi celebrada por dom Fernando Antônio Figueiredo, bispo emérito da diocese de Santo Amaro, Michel Schlesinger, rabino da Congregação Israelita Paulista, e Priscila Veltri, do centro budista Chagdud Gonpa Odsal Ling, em São Paulo.

Cerimônia inter-religiosa em homenagem a Otavio Frias Filho, nesta segunda-feira (27), na Matriz Paroquial Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em SP
Cerimônia inter-religiosa em homenagem a Otavio Frias Filho, nesta segunda-feira (27), na Matriz Paroquial Nossa Senhora do Rosário de Fátima, em SP - Danilo Verpa/Folhapress

Jornalista, dramaturgo e ensaísta, Otavio (1957-2018) foi vítima de um câncer. Durante 34 anos, ocupou o cargo de diretor de Redação da Folha, período em que o jornal se tornou o maior e mais influente do Brasil. Foi mentor do Projeto Folha, que modernizou o jornalismo brasileiro na década de 1980. 

Sob a gestão de Otavio, o veículo consolidou-se como uma referência no jornalismo apartidário, pluralista, crítico e independente. 

Entre os presentes à cerimônia estavam o vereador Eduardo Suplicy (PT-SP), o jornalista Marcelo Tas, a atriz Giulia Gam e o ex-ministro Rubens Ricupero, para quem a morte de Otavio “deixa buraco em uma geração.”

A convivência desde a juventude permitiu ao jornalista Boris Casoy declarar que Otavio “sempre foi uma pessoa iluminada, sequioso por saber e entender”. O conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado), Roque Citadini, e o ex-deputado Fábio Feldman, que estudaram com Otavio, ressaltaram a importância dele para a Folha e para o país.

As atrizes Giulia Gam, Mika Lins e Lígia Cortez falaram do amor de Otavio pelo teatro e lamentaram a morte do amigo. Os senadores José Serra (PSDB-SP) e Marta Suplicy (sem partido-SP) elogiaram a leitura de trechos de peças escritas pelo jornalista e dramaturgo durante a cerimônia inter-religiosa.

Leia abaixo o que disseram autoridades e personalidades na ocasião.

 

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República

“É uma coisa muito sentimental para mim. Eu conhecia o Otavinho, o chamava de Otavinho. Nem sempre nos entendemos. Mas sempre nos respeitamos. Ele fez uma mudança radical não na Folha, na imprensa brasileira. Muito aguerrido mas muito equilibrado ao mesmo tempo. Sem radicalismo. Ele fez uma modificação na imprensa. Ele gostava do contraditório. Ele gostava de ver o todo pela parte. Criticava, pegava o deslize e mostrava. Tinha o espírito independente. Quando você está no governo, não gosta. Mas respeita. Quando sai do governo, você gosta.”

 

Roque Citadini, conselheiro do TCE (Tribunal de Contas do Estado)

[Estudaram juntos] “Otavio foi importante não só para a Folha. Mas para o país. Sem ele, a campanha das Diretas não teria esse desdobramento.”

 

Geraldo Alckmin, candidato à Presidência pelo PSDB

“É um momento muito sensível. Eu tinha grande identificação com o Otavio, era uma pessoa inquieta, que se dedicou à busca da verdade, da justiça. Guardo boas lembranças das nossas conversas, nas quais ele sempre mostrava interesse aprofundado. Uma visão de mundo plural, quero dizer que ele é e será uma grande inspiração para todos os jornalistas.”

 

Kátia Abreu (PDT-TO), senadora e candidata a vice-presidente

“É um vazio muito grande na vida brasileira. Um dos brasileiros que mais fizeram pela democracia. Respeitava as opiniões, as diferenças. Não julgava.”

 

Ana Amélia, senadora e candidata a vice-presidente

“A inquietude do Otavio se expressava não só por uma vida interior muito rica. Mas por uma ansiedade de, no jornalismo, fazer sempre o melhor. Ele estava sempre avançando.”

 

Marta Suplicy, senadora (sem partido, SP)

“Achei muito sensível a realização de uma cerimônia inter-religiosa, especialmente a leitura dos trechos das peças do Otavio. Acho que ele gostaria.”

 

José Serra, senador (PSDB-SP)

“A cerimônia foi muito bonita, e a escolha dos textos teatrais do Otavio, muito emocionante.”

 

Duarte Nogueira (PSDB), prefeito de Ribeirão Preto

“Otavio foi um executivo com coração de jornalista. Sempre primou pela notícia e pela verdade. O projeto que ele desenvolveu na década de 80 revolucionou a imprensa.”

 

Eduardo Suplicy, vereador (PT-SP)

“O Otavio foi de uma extraordinária colaboração ao jornalismo brasileiro. Nesta linda cerimônia pudemos testemunhar a liderança que exerceu para fazer da Folha um exemplo de jornalismo plural e apartidário, que significasse o fortalecimento da liberdade de imprensa e fazendo da Folha o jornal essencial para o aperfeiçoamento do processo democrático brasileiro”

 

Rubens Ricupero, ex-ministro e ex-embaixador

“A perda que sofremos é incomensurável. Deixa um buraco em uma geração.”

 

José Carlos Dias, ex-ministro da Justiça

“Otavio deixou esta vida, mas permanece como um símbolo vivo em nossa crença na justiça e coragem.”

 

Fábio Feldman, ex-deputado

“Estudamos juntos. Era um amigo sempre a postos. Ele revolucionou a Folha. É referência para uma geração.”

 

André Singer, cientista político e porta-voz do governo Lula

“A ideia de pluralismo no projeto Folha se transformou em parâmetro para a imprensa brasileira. Esse parâmetro é muito importante para a democracia. Como acho que o Brasil está passando por um momento de dificuldade no que diz respeito à democracia, Otavio vai fazer falta.”

 

Luciano Coutinho, ex-presidente do BNDES

“Otavio teve uma visão instigante, sofisticada e inovadora e deixa um legado para para o jornalismo brasileiro.”

 

Josué Gomes da Silva, empresário

“O jornalista Otavio Frias Filho marcou era no jornalismo brasileiro com os princípios que transformaram a Folha de S.Paulo no maior jornal do Brasil.”

 

Guilherme Afif Domingos, presidente do Sebrae

“Sem dúvida, uma pessoa com horizonte plural.”

 

Carlos Augusto de Barros e Silva, Leco, presidente do São Paulo Futebol Clube

“Um homem inteligente, honesto, coerente e incansável em prol das ideias que orientavam seu caráter e formação.”

 

Flávio Pinheiro, superintendência executivo do IMS

“Otavio era uma pessoa de ceticismo produtivo e de uma curiosidade onívora. Seu livro Queda Livre eh um dos melhores livros de não ficção já feitos.”

 

Pierre Moreau, sócio da Casa do Saber

“Um amigo querido, que nos ajudou a criar e manter a Casa do Saber.”

 

Marcos Renaux, tradutor

“O que mais me toca é que eu perdi o meu melhor amigo, e isso é bastante egoísta de dizer. A perda que ele representa, não só para mim, mas para o teatro, para o jornalismo, para o ensaísmo, para a democracia... Otavio era uma pessoa extremamente generosa, capaz de ouvir, com paciência para os que eram intelectualmente menos brilhantes, que gostava de ensinar, gostava da perfeição. Apesar de todo o poder dele, apesar de toda a projeção que sempre teve no cenário paulista e brasileiro, ele sempre foi um cara retraído, que nunca se aproveitou como tantos outros se aproveitam da condição de poder. Enfim, é um cara que a gente perde e que não vai ter substituto.”

 

José Horácio Halfeld Rezende Ribeiro, presidente do Iasp (Instituto dos Advogados de São Paulo)

“O jornalista Otavio Frias Filho estava muito à frente do seu tempo. Ele sempre enfatizou a pluralidade de ideias e opiniões permitindo um aprofundamento da reflexão e, consequentemente, colaborando de maneira decisiva para o fortalecimento da democracia, da cidadania e da liberdade de imprensa.”

 

Marcelo Nobre, advogado

“A imprensa brasileira não seria a mesma sem o olhar transformador e a obstinação de Otavio Frias Filho em abrir caminho para um novo jornalismo. Esmerou-se em fazer da imprensa o espaço inequívoco da diversidade de ideias e opiniões, o que contribuiu enormemente para o aprofundamento da nossa democracia. A liberdade de imprensa perdeu um de seus maiores defensores.”

 

Paulo Nogueira Batista, economista

“Conheci Otavio nos anos 1990 quando comecei a publicar colunas na Folha. O jornal sempre preservou a diversidade, diferentes pontos de vista. Otavio deu sequência ao que o pai fazia. Lembro de um episódio que me marcou muito. Otavio colocou um advogado da Folha para me defender quando certa vez o presidente do Banco Central me processou por uma coluna que escrevi.”

 

Boris Casoy, jornalista, ex-editor-chefe da Folha

“Convivi com o Otavio desde a juventude, e ele sempre foi uma pessoa iluminada, sequioso por saber e entender. Ele tinha a generosidade de um estadista, sua falta será sentida.”

 

Marcelo Tas, jornalista

“O Otavio conseguia fazer algo muito raro, que é rimar rigor e humor. É algo precioso no jornalismo, porque o jornalismo nos endurece. E ele tinha uma obsessão com o rigor sem deixar morrer a flexibilidade do humor, para entender melhor esse mundo confuso.”

 

Ricardo Kotscho, colaborador da Folha e secretário de comunicação do governo Lula

“Vindo para cá, me dei conta que a cerimônia de seu pai [Octavio Frias de Oliveira] também foi aqui. Juntos, pai e filho revolucionaram a imprensa do país. Até neste momento estão juntos.”

 

Antonio Carlos Moura, ex-diretor comercial da Folha

“Convivi com ele por mais de 30 anos. É um exemplo de civilidade. Era rigoroso, mas também gentil. O país perde o seu melhor diretor editorial.”

 

Leandro Knopfholz, diretor do Festival de Teatro de Curitiba

“Um dos grandes atributos dele é que sabia ouvir. Ouvindo, era incisivo nas perguntas. Supercurioso e atento. Ele buscava a essência.”

 

Maurício Paroni de Castro, diretor que mais encenou peças de Otavio

“Aquelas peças eram o lugar onde ele estava livre. Daí a predileção dele pelo Calderón de La Barca, por "A Vida É Sonho", que ele adorava. O primeiro texto que ele escreveu a gente estava em Ubatuba, eu tinha acabado de entrar na faculdade, ele estava no quinto ano. A gente escreveu um poema dramático, "Robespierre, o Sanguinário", e declamou. Tinha umas quatro pessoas, Silvio [Cioffi], Marcos [Renaux], por causa de um congresso estudantil do Vento Novo [tendência de que Otavio fez parte]. Era da contrarrevolução, um texto político, atípico dele, que se perdeu. Mas foi o que me fez decidir ser diretor de teatro.”

 

Giulia Gam, atriz

“Ele sempre gostou de teatro, de conviver com os atores, a ponto de atuar. Levou essas duas trajetórias paralelas, do editor sempre reservado e do homem que se aventura, de aventuras incríveis.”

 

Mika Lins, atriz e diretora

“É uma falta pessoal, do amigo com quem você convivia. Mas tem uma falta geral, de uma maneira de pensar. Uma falta para o país.”

 

Lígia Cortez, atriz

“Eu o conheci quando éramos jovens. Ele amava o teatro. A gente tinha uma relação muito gostosa, de conversar. Não posso nem acreditar que aconteceu isso com o meu amigão. O teatro perde uma pessoa inestimável, um escritor bárbaro, inteligente, uma cabeça à frente do tempo.”

 

Rosi Campos, atriz

“É um pessoa que afetou a vida de milhares de pessoas. Um profissional muito sério, uma pessoa muito dedicada. E que teve esse contato com o teatro e com as artes e foi importante para a gente. Não só para a gente de teatro, mas na política, na economia.”

 

Raul Barreto, ator dos Parlapatões

“O Otavio, para a minha geração, eu tenho 59 anos, é de uma importância, de um peso. Para a gente que é do teatro, então, é uma perda de coração. E, no momento por que o Brasil está passando, a falta dele é muito forte.”

 

Camila Mota,  atriz do Oficina

“A gente se conheceu no palco, fazendo ‘Cacilda’. Ele era um ‘esquisotímido’, como a Cacilda chamava o meu personagem. E eu achava ótimo isso, eu gostava de conversar com ele, sobre quaisquer assuntos. Era bom aquele humor de precisão.”

 

Carlos Rennó, compositor, letrista e escritor

“Eu convivo com o Otavio há 50 anos. Fomos muito próximos na adolescência, viajamos juntos. Ele foi uma das pessoas que dividiram a minha vida entre antes e depois. Eu nunca me esqueci de algumas coisas marcantes que ele me disse, quando tínhamos menos de 15 anos. Uma: "Nenhuma das suas irmãs vai casar virgem". Isso em 1969, do nada. É uma das pessoas mais impressionantes que eu conheci, pela força intelectual, pela conduta mira.”

 

Barbara Gancia, jornalista

"Eu não me lembro de ter sentido tanto uma morte como estou sentindo a perda do Otavio, uma cara tão decisivo e importante no jornalismo e na minha carreira."

 

Lília Schwarcz, antropóloga

“Discreto, curioso e muito inteligente, fez da Folha um jornal plural. Vai fazer muita falta neste momento difícil para a democracia.”

 

Lenise Pinheiro, fotógrafa

"Com Otavio aprendi a subverter a aritmética. Aprendi que multiplicar e dividir podem ser o mesmo que somar."

 

Miguel Srougi, urologista, professor titular da USP

“A meu ver, a mãe de todas as desgraças que assolam nosso país é a carência de modelos, capazes de moldar o comportamento dos brasileiros. A partida do Otavio nos priva de mais um desses modelos. Na ausência deles, florescem os indecentes e inescrupulosos, com isto, as instituições submergem, as pessoas morrem e o Brasil vai se esfarelando.”

 

Raul Cutait, cirurgião do hospital Sírio Libanês e professor da USP

“Acompanho a família Frias há muito tempo. Sempre admirei o trabalho e o envolvimento do Otavinho com o jornalismo. Aquele jeito circunspecto, difícil de arrancar uma risada. Deixa uma lacuna muito grande.”

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.