Descrição de chapéu Otavio Frias Filho

Em livros para crianças, ele ensinou a não ter medo

Jornalista tem contos em três coletâneas infantis e escreveu "O Livro da 1ª Vez"

Otavio Frias Filho sentado; ao fundo, mural colorido
O diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho, participa de debate na Flip, em Parati - Raquel Cunha-1.ago.2014/Folhapress
Suzana Singer
São Paulo

Jornalista, intelectual, autor de peças teatrais, àquela altura sem filhos, Otavio Frias Filho aventurou-se no mundo dos livros infantis. Sorte das crianças.

Suas histórias nas coletâneas “O livro dos Medos”, “Vice-versa ao Contrário” e “Papai Noel, um Velhinho de Muitos Nomes” são inspiradas, mas o melhor está no “Livro da 1ª  Vez”, lindamente ilustrado por Guto Lacaz. 

Otavio ensina, na introdução, que “quase sempre temos medo à toa”. “A primeira vez não é tão horrível como a gente pensava que ia ser. E às vezes a primeira vez acaba sendo até uma coisa legal, que a gente achava que seria ruim só de bobeira.”

Seguem-se aventuras, nem todas com final “legal”, como ele diz.

A primeira maldade resulta na morte de um gato, triturado por sua cachorrona, até aquele dia pacífica. Essa mesma companheira é atropelada e leva ao primeiro desmaio do autor, que pretendia ser cirurgião e pediu para assistir à operação do bicho.

A primeira rebelião não foi para derrubar governos, mas uma guerra de laranjas no pátio do colégio de padres, que resultou em bronca homérica e uma feliz noite de sono para os pequenos guerrilheiros.

Uma ruivinha, que ele não encontrava havia tempos, foi a razão de ir à primeira festa. Preparou-se com aulas de dança dadas pela irmã mais velha, Maria Helena, e caprichou no visual. A recepção foi decepcionante. “Ué, você esqueceu de crescer?”, perguntou a garota de cabelos vermelhos, que tinha espichado, enquanto ele avançava no ritmo dos garotos.

O bom humor perpassa todo o livro, inclusive o capítulo sobre a morte. Ainda pequeno descobre, de repente, que todo mundo morre. Não algumas pessoas, nem às vezes. Todos morrem. “Não tinha ideia de que a coisa era tão generalizada.” A mesma situação, para adultos, é descrita no ensaio “O abismo”, de “Queda Livre”.

O fim vira obsessão até o dia em que, com a ajuda de vizinhas, enterram um passarinho num funeral à la John Kennedy. Conclui que, em vez de ficar pensando o tempo todo na morte, “é melhor tratar de aproveitar”.

Aos que, como eu, tanto admiramos Otavio Frias Filho, é difícil pensar assim hoje. Dá mais vontade de fazer como ele menino. Chorar escondido debaixo da água.

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