Descrição de chapéu Otavio Frias Filho

Leia seleção de frases de Otavio Frias Filho

Diretor de Redação da Folha por 34 anos morreu aos 61 anos

​Ao longo de mais de três décadas à frente da Folha, o diretor de Redação escreveu sobre os desafios do jornalismo, além de comentar esses temas em entrevistas para outros veículos da imprensa. Também falou sobre outros assuntos da sua predileção, como o teatro.

 

“Quanto mais balaio de gatos, melhor".

Em 1981, em resposta às críticas de que, em nome do pluralismo, a Folha havia se tornado um “balaio de gatos”.

 

"É preciso não se acomodar".

Em texto sobre o projeto editorial da Folha de 1986.

 

"Se ficasse presa à mitologia política dos anos 70, a Folha perderia o bonde na direção de se transformar no maior jornal do país."

"Segundo o filósofo Ortega y Gasset, 'as pessoas se dividem entre as ocupadas e as preocupadas'. Por dever profissional, sou uma pessoa muito mais ocupada do que preocupada. Por temperamento, contudo, sempre fui uma pessoa muito mais preocupada do que ocupada."

"Acho que sou uma pessoa infeliz, no sentido de que estou sempre descontente com o que já fiz, estou descontente com que eu tinha que fazer hoje. É difícil aplicar a ideia da felicidade no meu caso porque eu me sinto muito insatisfeito com as coisas e comigo mesmo."

Trechos de entrevista à revista Playboy em 1988
 

 

"Nós, que trabalhamos com jornalismo, estamos sempre vivendo uma frustração diária porque os jornais são feitos sob a égide da pressa. Há uma urgência muito grande, então, a quantidade de falhas, de incompletudes, de deficiências, é sempre muito grande".

"A leitura de qualquer jornal é quase desagradável, por esse lado, assim, de perfeccionismo. E da Folha então é muito desagradável muitas vezes porque eu assumo como minha toda e qualquer falha que eu puder detectar".

Ao programa “Roda Viva” em fevereiro de 1996.

 

"A Folha é um jornal muito sensível e permeável ao que está acontecendo no meio social. Não tem a linearidade da tradição do Estado. Mas é um jornal mais leve, que responde com rapidez às situações".

À revista Imprensa de setembro de 2007.

"Dionísio é um deus muito exigente para as minhas fracas possibilidades".

Sobre o teatro na mesma entrevista à revista.

 

"Sempre pensei em fazer carreira intelectual, acadêmica. Pensei até em fazer carreira política, mas nunca pensei propriamente em atuar aqui [Folha]."

Em entrevista em 2010.

"Viriam tempos difíceis pela frente. Mas sabia que, se não aceitasse, ficaria o resto da vida me acusando de ter sido omisso e covarde".

Também em 2010 sobre o convite do pai, Octavio Frias de Oliveira, para se tornar editor da Folha.

 

"O jornalismo, tal como procuraram praticá-lo, é um serviço de utilidade pública. Divulgar a verdade, estimular um exercício consciente da cidadania, iluminar o debate dos problemas coletivos --que outra atividade seria mais elogiável e necessária do que essa? E no entanto, o jornalismo sempre fica aquém de sua ambiciosa missão. O julgamento humano é precário. A pressa, inerente à profissão, leva a conclusões precipitadas, relatos superficiais, omissões e erros."

"[O crescimento da Folha] jamais teria acontecido sem aquele que é origem e destinatário de tudo, aquele a quem o sr. Frias, o criador da Folha moderna, chamava de Sua Excelência, o leitor."

Trechos do discurso na cerimônia de 90 anos da Folha, em fevereiro de 2011

 

"Eu sou das pessoas que acham que, quando não há uma relação intensa entre imprensa e governo, tem algo de errado. Ou a imprensa não está sendo suficientemente incômoda, inquisitiva em relação ao governo, ou o governo não está agindo como todo governo".

Em entrevista à revista do Sesc em julho de 2013.

 

"Todos os esforços em favor da simplicidade despojada são bem-vindos num país como o nosso, onde ainda se cultiva uma escrita ornamental, feita mais para iludir do que expor e esclarecer".

Em “Mártires do Estilo”, texto no caderno Ilustríssima de 31 de dezembro de 2017.

 

"Ao disseminar notícias e opiniões, a prática jornalística municia seus leitores de ferramentas para um exercício mais consciente da cidadania".

"O livre funcionamento das várias formas de imprensa, mesmo as sectárias e as de má qualidade, corresponde em seu conjunto à respiração mental da sociedade".

"O jornalismo, apesar de suas severas limitações, é uma forma legítima de conhecimento sobre o nível mais imediato da realidade. Para afirmar sua autonomia, precisa cultivar valores, métodos e regras próprios".

Trechos do texto "Jornalismo, um mal necessário", publicado pela Folha em 25 de fevereiro de 2018.

 

"O jornalismo é atividade irrelevante para essas empresas gigantescas [Google e Facebook], seja porque propicia receitas comparativamente irrisórias, seja porque o exercício da independência editorial gera atritos com governos, especialmente os autoritários, atritos que essas empresas se apressam a evitar. Seu comportamento tem sido quase sempre de docilidade em relação a autocracias como a chinesa e a russa".

"Em última análise, o mais eficiente anteparo contra as fake news –a melhor barreira de proteção da veracidade– continua sendo a educação básica de qualidade, apta a estimular o discernimento na escolha das leituras e um saudável ceticismo na forma de absorvê-las".

Trechos do texto "O que é falso sobre fake news", publicada na Revista da USP de janeiro/fevereiro/março de 2018 

 

"Há um ponto em que a democracia passa a ser o único sistema capaz de regular uma sociedade atravessada por incontáveis interesses contraditórios".

Trecho de texto na Folha em 17 de junho de 2018.

 

Sobre capitalismo e sociedade:

"É fácil incluir o marxismo no capítulo das ingenuidades cientificistas do século 19. Mas quando lembramos que existem, faz tempo, condições materiais para que todas as pessoas sejam alimentadas; ou mesmo quando prosaicamente ficamos horas no trânsito ao lado de outros carros vazios... Uma ordem mais racional não pode ser algo de tão absurdo".

Trecho de texto na Folha em 12 de fevereiro de 1998.

"Um desenvolvimento mais equânime, um progresso mais igualitário não ocorre quando as elites, por benemerência ou mesmo por cálculo futuro, decidem promovê-lo; isso é ficção. Por demagógico que possa soar, somente o povo pode educar as elites e somente pela força elas podem ser educadas. A ameaça social, desde que convertida em pressão organizada, foi o que domesticou as elites 'esclarecidas'."

Trecho de texto na Folha em 16 de novembro de 1995.

"Os países ricos reduziram a injustiça, o privilégio e o preconceito não porque foram acometidos de uma consciência moral superior, mas porque esses problemas eram obstáculos à mercantilização da sociedade como um todo. A igualdade decorre também do efeito uniformizador do dinheiro, conforme ele passa a mediar todas as relações. Nos países pobres, ao contrário, regiões imensas da vida social ainda não foram incorporadas à lógica da mercadoria."

Trecho de texto na Folha em 18 de dezembro de 1997.

 

Religião:

"De um lado, a ciência reduz a religião ao nível da natureza; de outro, a vida cotidiana foi absorvida inteiramente na esfera das trocas. O resultado dessa combinatória é uma desconcertante regressão ao estágio animista, o modelo de religião de nossos antepassados pré-monoteístas e dos atuais povos da floresta. Menos do que num Deus a quem prestar contas no fim da contabilidade moral, a religião volta a se concentrar (na verdade, a se diluir) num pequeno comércio com a divindade outra vez presente no dia-a-dia. Materiais e espirituais ao mesmo tempo, os velhos deuses baixam à terra e são recebidos com estrondo."

Trecho de texto na Folha em 9 de abril de 1998.

 

Sociedade:

"Esse paralelismo entre as escalas social e cromática se projeta na própria camada dominante, prostrada diante das imagens que vêm do exterior, emitidas por sua congênere loira. Basta folhear as revistas de ostentação da riqueza e do ócio para verificar o avanço da 'loirização' como etapa superior do 'embranquecimento'."

Trecho de texto na Folha em 9 de de dezembro de 1999.

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