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Eleições 2018

Painel do Eleitor: Propostas dos candidatos frustram jardineiro disposto a anular o voto

Jadson diz que votaria no ex-presidente Lula se tivesse a chance, mas antipatiza com Haddad

O jardineiro Jadson Bonfim dos Santos, 45, assiste ao debate entre presidenciáveis da RedeTV! na redação da Folha, em São Paulo. Ele ainda está indeciso quanto ao seu voto
O jardineiro Jadson Bonfim dos Santos, 45, assiste ao debate entre presidenciáveis da RedeTV! na redação da Folha, em São Paulo. Ele ainda está indeciso quanto ao seu voto - Rafael Hupsel/Folhapress
Ricardo Balthazar
São Paulo

No dia em que o país acordou com a notícia de que 4,8 milhões de brasileiros desistiram de procurar emprego, o jardineiro Jadson Bonfim Santos levantou de madrugada, trabalhou até o fim da tarde e encerrou o dia em frente à televisão para ouvir os candidatos a presidente.

Aos 45 anos, ele não é do tipo que espera ajuda do governo. Funcionário de uma indústria de autopeças por mais de uma década, concluiu há sete anos que não tinha futuro no chão da fábrica e largou tudo para mudar de profissão e trabalhar por conta própria.

No segundo debate entre os presidenciáveis, realizado pela RedeTV! na sexta (17), ele torceu o nariz quando Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) começaram a discutir seus planos para combater o desemprego. "Eles parecem preparados, mas deviam pesquisar mais", disse.

Para Jadson, o problema principal não está na falta de vagas no mercado de trabalho, mas na oferta reduzida de gente qualificada para ocupar as posições disponíveis. "Pedem segundo grau completo até para quem vai trabalhar como faxineiro", explicou.

Ele concluiu o ensino médio quando trabalhava na fábrica de autopeças e não voltou a estudar. Queria fazer um curso de paisagismo, mas a mensalidade é cara e ele não tem como conciliar o trabalho com os horários das aulas. "O que falta é investir em educação", disse.

Jadson calcula que seu faturamento caiu quase pela metade com a crise econômica e acha que vai demorar para o país se recuperar. "Não adianta abrir canteiros de obras como os candidatos propõem", afirmou. "Depois a obra acaba, e não tem mais emprego."

Quando Jair Bolsonaro (PSL) disse que não cabe ao governo agir para reduzir a desigualdade entre homens e mulheres no mercado de trabalho, o jardineiro concordou. "Tem que resolver isso nas empresas", disse. "Se está na lei e não cumprem, pode recorrer à Justiça."

Na indústria em que trabalhou antes de mudar de ramo, Jadson era operador de empilhadeira. Ele descobriu que um colega ganhava mais do que ele exercendo a mesma função, processou a empresa na Justiça do Trabalho e ganhou.

Jadson não se comoveu quando Marina Silva (Rede) apontou o dedo em riste para Bolsonaro e disse que um presidente da República tem obrigação de combater injustiças como a discriminação das mulheres no mercado de trabalho. "Se governo interferir, pode nivelar por baixo", sugeriu.

Mas ele também não gosta de Bolsonaro. Acha o capitão reformado do Exército intolerante, o acusa de incentivar preconceitos contra negros e homossexuais e discorda da sua política para a segurança pública. "Armar a população como ele quer só contribuiria para aumentar a violência", disse.

O jardineiro votou no PT nas últimas quatro eleições presidenciais. Ele afirmou que votaria novamente no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva se tivesse a chance, mas sabe que sua candidatura se tornou inviável após a condenação pela Justiça e a prisão em Curitiba.

Para Jadson, a política explica melhor o que aconteceu com Lula do que os desvios praticados em seu governo. "Se ele não tivesse se juntado com os políticos, não teria terminado o governo", opinou. "O problema é que, em vez de ajudar a governar, os partidos querem ficar mais fortes às custas dos outros."

Ele antipatiza com o ex-prefeito Fernando Haddad, escolhido pelo PT para substituir Lula quando a Justiça barrar sua candidatura. No fim do debate, expressou enfado com o que viu. "É muita mesmice", disse. "Não vejo em quem confiar." Se a eleição para presidente fosse hoje, o jardineiro anularia o voto.

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