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Protesto com feridos marcou gestão Dias no PR

Repressão contra professores ocorreu em 1988; hoje, presidenciável exalta ajuste das finanças e reforma administrativa

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Curitiba

Há exatamente 30 anos, uma mancha se alastrava sobre a administração de Alvaro Dias no Paraná. Hoje senador e candidato à Presidência pelo Podemos, ele governou o estado de 1987 a 1991.

No dia 30 de agosto de 1988, professores grevistas protestavam em frente ao Palácio Iguaçu, sede do governo, em Curitiba, quando foram surpreendidos por bombas de efeito moral e pela cavalaria da Polícia Militar. À época, foram contabilizados cerca de dez feridos.

Alvaro Dias, então governador do Paraná, e Ulysses Guimarães, no gabinete de Ulysses no Congresso
Alvaro Dias, então governador do Paraná, e Ulysses Guimarães, no gabinete de Ulysses no Congresso - Lula Marques - 16.mar.1988/Folhapress

"O governo está conversando. O que não queremos é oferecer espaço para uma encenação de um diálogo sem consequências, com professores agressivos, em greve", Dias argumentou a jornalistas na ocasião. No fim do ano passado, em entrevista à Folha, o senador afirmou: "Faria a mesma coisa. Houve um factoide, produzido politicamente. Inventam dez feridos porque ninguém sabe", disse.

O ocorrido é constantemente lembrado por estudantes, professores, e demais servidores do estado, mas não por Dias. Ele prefere exaltar outras medidas de seu governo, como a reforma administrativa e o ajuste das finanças de sua gestão.

Relatório de 1999, elaborado em acordo entre o Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e a Secretaria do Tesouro Nacional, mostra que a despesa orçamentária do Paraná caiu de R$ 3,5 milhões para R$ 2,2 milhões, do início ao fim do governo Dias.

De acordo com Emerson Cervi, professor de Ciências Políticas da UFPR (Universidade Federal do Paraná), Dias deu continuidade a uma reforma do Estado implementada no governo anterior, do emedebista José Richa, pai de Beto Richa (PSDB).

"Ele era o candidato do Zé Richa, que rompeu com ele no primeiro dia de governo. No discurso de posse do Alvaro, Zé Richa saiu do Palácio Iguaçu e disse que não colocaria mais o pé lá", afirma.

Isso porque, segundo o professor, Dias fez críticas ao governo de seu antecessor. Ao longo de sua administração, também paralisou obras em curso, como a hidrelétrica de Segredo, da Copel (Companhia Paranaense de Energia).

Quando a empreiteira CR Almeida venceu a licitação com uma proposta US$ 93 milhões mais custosa do que o teto fixado no edital, Dias entrou na Justiça para invalidar a arrematação.

"Se você pode construir uma casa por cinco milhões de cruzados, você haveria de construí-la por oito milhões? É o preço da desonestidade, não estamos dispostos a pagar", afirmou à época.

Exemplos como este são utilizados pelo senador para se defender das acusações de que é oportunista por fazer constantes referências à Operação Lava Jato na sua campanha à Presidência. Dias responde que sempre combateu a corrupção, zelando pelo dinheiro público.

O senador costuma afirmar que deixou o governo com mais de 90% de aprovação. No entanto, a última pesquisa Datafolha realizada durante o seu mandato, em setembro de 1990, mostrava que 42% dos entrevistados consideravam a gestão ótima/boa —frente a 66% seis meses antes.

Em 1994, Dias tentou o governo novamente, mas perdeu para o pedetista Jaime Lerner logo no primeiro turno.

De acordo com Cervi, professor da UFPR, há três principais motivos para o senador nunca ter voltado ao Executivo no Paraná. Primeiro, o fatídico 30 de agosto de 1988. Segundo, um problema de relacionamento político, que o levou a mudar de legenda sete vezes.

"Ele não migra de partido pelo argumento de que sempre foi contra a corrupção, mas porque disputava muito poder." Além disso, segundo Cervi, a taxa de aprovação de Dias não era expressiva.

Ainda que sem sucesso na empreitada de volta ao Executivo, Dias foi eleito senador pelo PSDB em 1998, com 65% dos votos.

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