'Rei do ônibus' confirma pagamentos a políticos no RJ

Barata Filho e outros empresários do setor são acusados de pagar R$ 500 mi a agentes públicos

Italo Nogueira
Rio de Janeiro

O empresário Jacob Barata Filho, principal dono das empresas de ônibus do Rio de Janeiro, confirmou nesta sexta-feira (24) que as firmas do setor mantinham um caixa paralelo para pagar agentes públicos.

Conhecido como “Rei do ônibus”, Barata Filho confirmou o pagamento aos deputados Jorge Picciani e Paulo Melo, ambos do MDB e ex-presidentes da Assembleia Legislativa, e a outros agentes públicos, sem nomear os demais.

O empresário Jacob Barata Filho, principal dono das empresas de ônibus do Rio de Janeiro
O empresário Jacob Barata Filho, principal dono de empresas de ônibus do Rio de Janeiro - Tânia Rêgo - 03.jul.2017/EBC/Fotos Públicas

Ele disse ainda que as empresas do setor disponibilizavam cerca de R$ 6 milhões por mês para fazer frente aos pagamentos ilegais ao longo do tempo.

O empresário foi interrogado na ação penal sobre a Operação Cadeia Velha, que prendeu os dois deputados e Edson Albertassi (MDB), sobre o qual Barata disse não ter informações. Ele não firmou delação premiada com o Ministério Público Federal.

Ele é réu em outras duas ações, envolvendo o ex-governador Sérgio Cabral (MDB).

Barata Filho confessou o pagamento dos agentes públicos mas afirmou que não era capaz de dizer se tratavam-se de contribuição eleitoral irregular ou propina. Segundo o acusado, o responsável por controlar o caixa dois das empresas era o empresário José Carlos Lavouras, foragido em Portugal.

“Ela começou como contribuição de campanha e depois evoluiu para outras contribuições. Não posso detalhar porque não era eu que fazia esse trato com o agente público”, disse ele ao juiz Marcelo Bretas.

Barata Filho e outros empresários do setor são acusados de pagar R$ 500 milhões a agentes públicos por meio do caixa dois da Fetranspor (federação das empresas de ônibus do estado do RJ). O responsável por gerenciar os recursos era o operador Álvaro Novis, um dos delatores do esquema.

Segundo ele, Melo e Picciani repassavam parte dos valores recebidos a outros deputados, que ele não sabia indicar quais.

“A partir do presidente, as coisas se resolviam. Ninguém tem poder sozinho”, disse ele.

Em seu interrogatório, o empresário buscou afirmar que o objetivo dos pagamentos era “tentar melhorar o sistema de transporte”.

“Existe um pensamento de que o que é bom para as empresas não é bom para os usuários. E é justamente ao contrário. O objetivo desse caixa era justamente buscar essa satisfação do usuário e evitar projetos que viessem a prejudicar o setor”, disse ele.

O empresário decidiu abrir mão para a Justiça Federal de R$ 80 milhões bloqueados em contas suas e de suas empresas, a fim de obter redução numa eventual pena.

“Apesar de muitas das coisas que foram feitas tinham a intenção de melhorar o setor de transporte e houvesse uma estabilidade, a forma foi errada. A gente precisa de alguma forma fazer essa reparação”, disse ele.

Barata Filho foi preso há um ano na Operação Ponto Final e foi solto por habeas corpus deferido pelo ministro Gilmar Mendes, do STF (Supremo Tribunal Federal). Ele foi preso outras vezes, o que gerou briga pública entre o ministro e o juiz Bretas.

Em interrogatório no TRF-2 (Tribunal Regional Federal da 2° Região), os três deputados negaram ter recebido recursos ilegais das empresas de ônibus.

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